domingo, 20 de julho de 2014

Filhos de Princesa Isabel, nobres brasileiros participaram da Primeira Guerra Mundial

Dom Luís Maria e Dom Antônio Gastão integraram exército britânico após rejeição da França

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Vivendo na França, Princesa Isabel, Conde D´eu e seus filhos eram vistos como nobreza francesa em outros países, mas Luís e Antônio não foram aceitos pelo exército local - Acervo Dom João de Orleans e Bragança


O grau de envolvimento brasileiro na Primeira Guerra Mundial é pouco conhecido da maioria das pessoas, mas a proximidade do centenário do conflito, que começou no dia 28 de julho de 1914, joga luz sobre essa parte da nossa História. Pouca gente sabe, por exemplo, que, muito antes de o país enviar equipe médica, embarcações e alguns oficiais apenas na reta final do confronto, dois príncipes brasileiros atuaram na guerra e até morreram em consequência disso. Filhos da Princesa Isabel com o francês Conde D’Eu, os nobres D. Luís Maria e D. Antônio Gastão, netos do ex-imperador D. Pedro II, serviram ao lado do Império Britânico.


Mas o caminho até servir na guerra não foi nada simples para os dois. A família viveu no Brasil até a Proclamação da República, em 1889, quando foi para o exílio na França. Antônio tinha, então, 8 anos, enquanto Luís tinha 11. Durante viagens para outros países, Luís e Antônio não eram reconhecidos como membros da nobreza brasileira ou portuguesa, mas, sim, francesa. Porém, quando completaram a idade do alistamento militar, o exército do país se negou a recebê-los.

— A França já era uma república, enquanto eles eram brasileiros e faziam parte de uma família monárquica. Saber disto nos ajuda a entender essa negativa do exército. A França era a pátria que D. Luís e D. Antônio queriam defender. Mas eles não conseguiram, pelo menos, diretamente — explica a historiadora Teresa Malatian, autora do livro “D. Luís de Orleans e Bragança, peregrino de impérios”.

A solução foi alistar-se no Império Austro-Húngaro, então governado pelo tio deles, o imperador Francisco José I. Os dois príncipes cumpriram suas carreiras militares nas fileiras austríacas sem imaginarem que os dois países, a França com a qual se identificavam e a pátria que passaram a defender, entrariam em choque na maior guerra conhecida pelo mundo até então.

Com as constantes insatisfações e disputas entre as nações, o clima bélico já se tornava uma preocupação dos príncipes. Sem vislumbre de assumir um lugar de prestígio em alguma nobreza europeia, o Conde D´Eu, que ao se casar com a Princesa Isabel abriu mão da hereditariedade do trono francês, aconselhava seus filhos a seguir carreira militar.

Anos antes do início do conflito mundial, ao se casar com Maria Pia Bourbon Napoles, D. Luís pediu desligamento do exército para passar a conviver com a família. Já D. Antônio, ao perceber que a guerra era inevitável, saiu das fileiras austríacas pouco antes do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, estopim do grande conflito.

Quando a Primeira Guerra Mundial já tinha iniciado seu curso, os príncipes resolveram se colocar à disposição do exército francês, inimigo dos austro-húngaros, mas viram as portas fechadas outra vez. Só que mesmo assim os irmãos não abandonaram a ideia de lutar junto aos Aliados.
— Desta vez, o exército francês não os aceita exatamente por terem servido ao inimigo. Como eles iriam mudar de lado? Os príncipes acabam sendo aceitos pelas forças britânicas devido a um outro parentesco com a família real de lá — relata Teresa Malatian.

O ‘SIMPÁTICO’ E O ‘COMBATENTE’

Oriundos da família real brasileira, considerados franceses, treinados pelos austríacos e servindo aos britânicos. É com esta trajetória que o simpático D. Luís e o combatente D. Antônio, como foram classificados por seu mordomo, entram na Primeira Guerra Mundial.

— Os príncipes eram pessoas notáveis. O exército britânico avaliou que seria bom tê-los em suas fileiras — diz o embaixador Vasco Mariz, autor do livro “Nos caminhos da história”, que será publicado no final deste ano.

O desembarque de D. Luís no conflito se deu em 23 de agosto de 1914 e teve duração de quase um ano. Como encarregado das comunicações entre os regimentos, ele atuou nos pântanos do Yser, no Norte da França, onde contraiu um tipo de reumatismo que o teria paralisado, como conta sua filha Maria Pia em seu livro de memórias.

De volta à França, passou a se locomover em uma cadeira de rodas e ficou conhecido como um entusiasta do Brasil por sempre contar a história do país e ensinar português para seus filhos e conhecidos.

— D. Luís teve um papel político importante para o Brasil. Era um entusiasta que enaltecia a imagem do país no exterior — afirma o Vasco Mariz.

A doença que o príncipe contraiu na guerra o acompanharia e seria o motivo de sua morte, em 1920.

Já D. Antônio tinha 33 anos quando entrou na guerra que influenciaria amplamente a geopolítica mundial dali em diante. Ele se tornou capitão do regimento Royal Canadian Dragoon, junto com os canadenses que foram defender a bandeira britânica.

— Alguns autores afirmam que D. Antônio participou de batalhas aéreas, extremamente novas naquele período. O que se sabe é que o príncipe era hábil e que muitos o consideravam bastante corajoso — conta Mariz.

Com a guerra já terminada, o príncipe sofreu um acidente de avião nos arredores de Londres. Ele ainda foi levado vivo para um hospital próximo, mas morreu em decorrência dos graves ferimentos sofridos, no dia 29 de novembro de 1918.

CONDECORAÇÕES FRANCESAS

Mesmo sem ter sido aceito pelas forças francesas, D. Luís recebeu condecorações póstumas por sua participação na Primeira Guerra com os Aliados. O governo francês homenageou o príncipe como cavaleiro da Legião de Honra e lhe outorgou a Cruz de Guerra, o que demonstra reconhecimento ao príncipe brasileiro morto.

Já seu irmão recebeu, em 1917, um título de destaque do exército britânico. Devido a sua participação, considerada de alto nível nos relatos de superiores, D. Antônio mereceu a Military Cross e foi incorporado às forças armadas britânicas oficialmente.


Fonte: OGLOBO

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