quarta-feira, 7 de novembro de 2012

São Paulo e União anunciam parceria contra a violência


Por Vandson Lima

De São Paulo

 

Depois de ruidosa troca de acusações sobre responsabilidades e eventuais omissões de lado a lado, ocorridas às vésperas do segundo turno das eleições municipais, o Ministério da Justiça e o governo de São Paulo resolveram acertar ponteiros e se unir na luta contra o crime organizado.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), e o governador Geraldo Alckmin (PSDB), anunciaram uma série de medidas em parceria para conter a subida nos índices de violência no Estado. Seis itens nortearão as ações, sendo o mais importante deles a criação de uma agência integrada de combate ao crime organizado. A primeira reunião será realizada já na segunda-feira.
O grupo será encabeçado pelo superintendente da Polícia Federal Roberto Ciciliati Troncon Filho e pelo secretário-adjunto de Segurança Pública, Jair Manzano. Do âmbito federal, integrarão a agência a Polícia Federal e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Do Estado, as secretarias de Segurança Pública (SSP), de Administração Penitenciária (SAP), a polícia técnico-científica e Ministério Público Estadual, além das polícias rodoviárias dos dois poderes. Receita Federal e Secretaria da Fazenda também estarão juntas na agência, com o intuito de "fazer o asfixiamento financeiro de organizações criminosas", segundo Cardozo.
A transferência de líderes de facções envolvidas nas mortes de policiais para presídios de segurança máxima do governo federal também será intensificada, bem como ações de contenção nos pontos críticos de acesso ao Estado - rodovias, portos e aeroportos - e o combate ao crack. Não está prevista, em um primeiro momento, a atuação de tropas federais no Estado.
Questionado, Alckmin lembrou que o efetivo policial do Estado ultrapassa 100 mil homens, mas ressalvou que a "a parceria é ilimitada". "Tudo o que possa ser positivo trazer eficácia ao trabalho será bem-vindo". Cardozo também fugiu da polêmica e disse não ver necessidade nesse momento de se utilizar as tropas federais.
A subida nos índices de violência em São Paulo, em especial de homicídios e atentados contra policiais - pelo menos 90 foram assassinados em 2012 - detonou uma intensa discussão sobre a responsabilidade de Estado e União no combate ao crime organizado.
De um lado, o secretário de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, afirmava que a situação estava sob controle, negava que o governo federal tivesse oferecido ajuda - teria inclusive ignorado um pedido de recursos para o Estado - e dizia que a União sequer cumpria sua parte, que era combater o contrabando nas fronteiras. Cardozo, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, devolveu: "O Ministério da Justiça não é Casa da Moeda para ser mero repassador de dinheiro. Especialmente para Estados com condições orçamentárias para fazer um bom trabalho na segurança pública".
Para o analista criminal Guaracy Mingardi, a parceria, ainda que tardia, é positiva. "O governo do Estado demorou muito para reconhecer que perdeu o controle sobre a atuação do PCC [Primeiro Comando da Capital, principal facção criminosa de São Paulo]. O governo federal tem mais know-how para rastrear o dinheiro da facção". Mingardi diz que a transferência de lideranças para presídios federais é boa medida, mas atenta para o revés. "O sistema prisional precisa se preparar, porque detonará uma série de rebeliões".

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