segunda-feira, 23 de julho de 2012

Defendendo o uso dos "drones"


Por SCOTT SHANE
WASHINGTON - Algumas pessoas consideram o próprio conceito dos ataques com aviões não tripulados ("drones") profundamente perturbador. Sua ação letal dentro de países soberanos que não estão em guerra com os Estados Unidos levantam questões legais. Eles se tornaram uma força de radicalização em alguns países muçulmanos. E a proliferação dos mesmos irá inevitavelmente colocá-los nas mãos de regimes odiosos.
Mas a maioria dos críticos do uso agressivo de "drones" da administração Obama se focaram em evidências de que esse tipo de armamento está matando, sem intenção, civis inocentes. Há sérias questões se autoridades americanas teriam subestimado mortes de civis.
Então, pode ser surpreendente descobrir que alguns filósofos, políticos, cientistas e especialistas em armas acreditam que aviões armados não tripulados oferecem vantagem moral significativa sob qualquer outra tecnologia de guerra.
"Eu tinha dúvidas éticas e preocupações quando comecei a analisar o assunto", afirmou Bradley J. Strawser, ex-oficial da Força Aérea dos EUA e professor de filosofia na Escola de Pós-graduação Naval. Mas, após um estudo, ele concluiu que o uso desse tipo de arma não era apenas eticamente justificável, mas também poderia ser eticamente obrigatório, por causa de suas vantagens na identificação de alvos com precisão.
"Todas as evidências que temos até agora sugerem que os 'drones' são melhores na identificação de terroristas e para evitar dano colateral do que qualquer outra coisa que temos", afirmou Strawser.
Como os operadores de "drones" podem avistar um alvo com horas ou dias de antecedência de um ataque, eles podem identificar terroristas com mais exatidão do que as tropas no chão ou pilotos convencionais. Eles também são capazes de programar um ataque quando não há inocentes no local e até podem desviar um míssil depois de tê-lo disparado.
Análises de resultados dos ataques feitas pela CIA no Paquistão, que se tornou a principal cena de testes da nova tecnologia, são cercadas de sigilo e relatórios contraditórios de números de vítimas. Mas uma breve comparação mostra que, mesmo com os índices mais altos de mortes colaterais, os "drones" matam menos civis do que outras armas de guerra.
Avery Plaw, cientista político na Universidade de Massachusetts, coloca o registro da CIA de "drones" no Paquistão acima da taxa de combatentes mortos versus mortes de civis em outros lugares do mundo. Plaw considerou quatro estudos de mortes causadas por "drones" no Paquistão, que estimaram a proporção de vítimas civis em 4%, 6%, 17% e 20%.
Mas mesmo a taxa mais alta de 20% era consideravelmente menor do que a porcentagem em outros episódios. Quando o Exército do Paquistão lançou ofensiva a milícias em áreas tribais, os civis responderam por 46% dos mortos.
Em conflitos militares convencionais nas últimas duas décadas, ele descobriu que as estimativas de mortes de civis variaram de 33% a mais de 80% do total de mortes.
Pela contagem do Escritório de Jornalismo Investigativo em Londres, que provavelmente realizou o estudo mais detalhado dos ataques, os operadores da CIA estão melhorando sua performance. A organização documentou significativa queda na proporção de mortes de civis causadas por "drones" para 16% do total de mortes em 2011, na comparação com 28% em 2008. Neste ano até julho, segundo eles, apenas 3 das 152 pessoas mortas em ataques de "drones" foram civis.

A promessa dos "drones" de morte precisa e segurança perfeita para os operadores é tão sedutora que alguns especialistas levantam outra questão moral: Os "drones" ameaçam baixar o limite da violência letal?
"Na tradição de guerra justa, há a noção de que a guerra é o último recurso", afirmou Daniel R. Brunstetter, cientista político na Universidade da Califórnia que teme que os "drones" estejam "se tornando uma estratégia alternativa para ser usada praticamente em qualquer lugar".
Com centenas de suspeitos de terrorismo mortos sob o governo Obama e apenas um detido fora dos EUA, alguns questionam se os "drones" não teriam se tornado não apenas uma alternativa mais precisa de bombardeio, mas sim um substituto conveniente da captura. Se sim, os "drones" poderiam estar de fato encorajando mortes desnecessárias.
Henry A. Crumpton, ex-chefe do centro de contraterrorismo da CIA, disse que a guerra dos "drones" promoveu um foco intenso nas mortes de civis, mais difíceis de esconder hoje em mundo com YouTube e internet. Ele argumenta que as mudanças tecnológicas estão produzindo uma crescente intolerância pelas mortes que eram rotineiras em guerras anteriores.
"Olhe para o ataque de Dresden e compare com o que estamos fazendo hoje", afirmou. "As expectativas do público aumentaram dramaticamente no mundo todo e isso é boa notícia." 
Fonte: Folha

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