Nesse sentido, restringindo nossa abordagem apenas
aos mísseis lançados por meios navais, cabe questionarmos: por que o
lançamento ou teste de mísseis por parte de navios iranianos seria algo
preocupante? Somente a Marinha do Irã vem conduzindo esse tipo de
exercício? Outras Marinhas tem testado mísseis? Caso a resposta seja
afirmativa, que tipo de Mísseis seriam esses? Seriam similares ou de
maior potencial destrutivo que aqueles lançados pelos navios iranianos? E
por que esses outros testes envolvendo mísseis lançados por meios
navais de outras Marinhas não são noticiados e apontados, ainda que
indiretamente, com algo relevante par a segurança internacional?
Buscando responder a essas questões, cabe apontar que
ao longo de 2011 as Marinhas da Rússia, dos Estados Unidos e do Reino
Unido, por exemplo, realizaram testes envolvendo o lançamentos de
mísseis. Em dezembro de 2011, a Marinha da Rússia efetuou o lançamento
de dois Mísseis Balísticos Intercontinentais Lançados por Submarino
(SLBM) do tipo Bulava. O teste deste míssil, capaz de transportar várias
ogivas nucleares e tendo o alcance de mais de 8.000 quilômetros, não
parece ser percebido pela mídia nacional e em sentido amplo, pela mídia
internacional, como uma questão relevante para a segurança
internacional. Do mesmo modo, no dia 8 de novembro de 2011, a Royal
Navy realizou o lançamento de um míssil de cruzeiro Tomahawk, por um de
seus submarinos nucleares de ataque – o HMS Astute - o que também não
foi noticiado, ou percebido como relevante pela grande mídia. Ainda para
evidenciar a necessidade de mantermos o constante olhar crítico sobre o
aquilo que nos é apresentado, mesmo indiretamente, como algo relevante
nas questões de segurança internacional, cito o lançamento de um
SLBM Trident II D-5 realizado pela Marinha dos Estados Unidos. Esse
teste correspondeu ao lançamento número 135 de mísseis Trident II, e foi
realizado pelo USS Nevada (um SSBN da Classe Ohio) no dia 1 de março de
2011. O Trident II, assim como o Bulava, é um Míssil Balístico
Intercontinental capaz de transportar várias ogivas nucleares. É difícil
entender porque testes com esses mísseis não são percebidos, pela
grande mídia, como uma questão relevante em termos de segurança
internacional.
Nesse ponto, gostaria de deixar claro que este artigo
não tem como propósito fazer uma crítica à qualidade da mídia nacional,
mas sim apontar como alguns eventos são apresentados na grande mídia de
modo a formar, mesmo que não intencionalmente, uma percepção de que
alguns Estados estão efetuando eventos únicos que comprometem a
segurança internacional. É também pertinente ressaltar que não se trata
de fazer uma defesa da política externa e de defesa do governo iraniano,
pelo contrário, tenho a percepção de que o programa nuclear iraniano e o
programa de mísseis desenvolvido por aquele Estado são fontes de
instabilidade regional (independentemente do Estado iraniano ter motivos
que justifiquem esses programas).
A questão que julgamos relevante evidenciar e colocar
em discussão é a de como, indiretamente, é formada a percepção de que
alguns Estados são responsáveis o suficiente para testar e possuir
mísseis de alcance intercontinental e capazes de transportar ogivas
nucleares, ao passo que, paralelamente, é formado o senso comum de que
alguns Estados não seriam tão responsáveis para ter “Mísseis de Médio
Alcance” e, portanto, devem ser objeto da atenção e preocupação da
opinião pública internacional.
Em síntese, confrontando os lançamentos dos mísseis
iranianos supracitados com aqueles realizados pelas Marinhas de três
grandes potências, com interesses diretos no chamado Oriente Médio. Além
disso, o alcance e poder destrutivo dos “Mísseis de Médio Alcance”
lançados pelos navios iranianos não poderem ser comparados com aqueles
proporcionados por Bulavas, Tomahawks e Tridents. No entanto, é feita
uma construção, consciente ou não, por parte da grande mídia, de que o
caso iraniano representa uma questão de preocupação para a segurança
internacional. De fato, a questão é pertinente, mas, cabe mantermos o
olhar crítico e questionador em relação aos eventos que são apontados
como relevantes para a segurança internacional e aqueles que não são,
mesmo que em essência envolvam a mesma questão, apenas executada por
diferentes Estados. Finalizando, não podemos esquecer que não existe
Equilíbrio de Poder na construção da agenda de segurança internacional,
quando confrontamos as potências ocidentais com Estados como o Irã.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- FEDERATION OF AMERICAN SCIENTISTS. Trident II D-5 Fleet Ballistic Missile. Disponível em: <http://www.fas.org/nuke/guide/usa/slbm/d-5.htm>. Acesso em: 02 jan. 2012.
- SCOTT, Richard. Astute complete Tomahawk firings. In: Jane’s Defence Weekly, vol. 48, issue 47, 23 november 2011.
- UNITED STATES NAVY. USS Nevada Successfully Tests Trident II D5 Missile. Disponível em: <http://www.navy.mil/search/display.asp?story_id=58932>. Acesso em: 02 jan. 2012.
- GLOBAL SECUTRITY.ORG. Military. OPLAN 5027 Major Theater War – West. Disponível em: http://www.globalsecurity.org/military/ops/oplan-5027.htm. Acesso em: 27 de jul. 2010.
- NUCLEAR THREAT INITIATIVE (NTI). Global Security Newswire. Russia Fires Two Bulava Missiles in Test. Disponível em: <http://www.nti.rsvp1.com/gsn/article/russia-fires-two-bulava-missiles-test/?mgh=http%3A%2F%2Fwww.nti.org&mgf=1>. Acesso em: 02 jan. 2012.
Marcos Valle Machado da Silva é Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense – UFF, Mestre em Relações Internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e em Estudos Estratégicos pela Universidade Federal Fluminense – UFF. É professor da Escola de Guerra Naval – EGN (mbvalle2002@yahoo.com.br).
Fonte: Mundorama
Nenhum comentário:
Postar um comentário