sábado, 1 de novembro de 2014

Poder e Política em Inovação: Mariana Mazzucato e o Estado-empreendedor

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Quando se fala sobre inovação sempre nos vem à mente a imagem de empreendedores que criam novos produtos e cientistas que desenvolvem as próximas tecnologias. Assumimos como premissa que as principais inovações surgem a partir de esforços individuais ou de empresas com fins lucrativos. Em função desta crença, o trabalho da Profa. Mariana Mazzucato se torna importante porque desmistifica algumas ideias sobre a principal instituição geradora de inovações e sugere a adoção de uma prática de financiamento de inovações.
Em seu livro “The Entrepreneurial State – Debunking  Public vs. Private Sector Myths” (Anthem Press), Mazzucato mostra que o investidor tomador de riscos e o empreendedor arrojados são importantes para o desenvolvimento tecnológico; porém, o agente social responsável por assumir os maiores riscos e, como consequência, responsável pelas maiores inovações tecnológicas é o sempre esquecido Estado. Segundo suas próprias palavras: “Do Vale do Silício a Singapura o risco da inovação é socializado, porém os lucros são privatizados. Está na hora do setor privado retribuir alguma coisa”. O trabalho apresentado por esta autora apresenta exemplos muito sólidos, que incluem a descoberta de novas moléculas, o desenvolvimento dos motores de busca usados pela Google, a descoberta da tecnologia que criou as telas sensíveis ao toque (usadas nos smartphones e tablets) e os sistemas de reconhecimento de voz. Ela argumenta que o papel do Estado é crucial porque é ele que arca com os altos custos e níveis de incerteza associados com as inovações científicas. Como consequência desta falta de percepção do papel do Estado, existem mitos sobre o papel do Estado-obstáculo. Mazzucato procura destruir esta percepção quando alerta para a existência do Estado-empreendedor. Este argumento não apenas levanta um debate importante sobre os beneficiários do desenvolvimento tecnológico como também aborda a necessidade de que estas empresas devem retribuir financeiramente ao Estado pelas inovações das quais elas se beneficiaram. Ou seja, as empresas com objetivo de lucro devem compensar financeiramente os Estados nacionais devido ao custeio de tecnologias de ponta, ao contrário do que é realizado atualmente, onde o Estado “banca” o arriscado e caro desenvolvimento de tecnologia básica (que beneficia toda a sociedade) e as empresas  financiam o desenvolvimento de tecnologia aplicada (menos arriscada e cujo beneficio econômico está restrito apenas à própria empresa).
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A Profa. Mariana Mazzucato defende uma tese interessante com argumentos sólidos, que incomodam autores com tendências liberais (como este blogueiro, por exemplo). O que ela postula merece ser discutido e ouvido, ainda que cause desconforto.
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Duas perguntas provocativas:
  1. Você acha que temos no Brasil um estado-obstáculo ou estado-empreendedor?
  2. Existe um caso brasileiro de tecnologia desenvolvida pelo Estado brasileiro que foi aproveitada por alguma empresa (seja nacional ou não)?
  3. Você concorda com a tese de que empresas devem colaborar com o financiamento de pesquisa básica? Se sim, como isto pode ser feito?
Links interessantes:
a. Bio da Prof Mazzucato:
b. Versão gratuita do livro The Entrepreneurial State:
c. Link para palestra da Profa Mazzucato:


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