quarta-feira, 31 de julho de 2013

Brasileira é escolhida para curso de Defesa em academia no Reino Unido

A advogada brasiliense, Ana Paula Cordeiro, de 38 anos, embarca hoje com a família para Londres para uma missão que promete mudar os rumos da sua carreira de diretora da filial brasileira de uma das maiores empresas de segurança, defesa e aeroespacial do mundo.
A BAE Systems, que faturou US$ 23 bilhões em 2012, selecionou Ana Paula para participar, durante um ano e meio, do prestigiado curso de estudos estratégicos do Royal College of Defence Studies (RCDS), oferecido pela Academia de Defesa do Reino Unido (Defence Academy of the United Kingdom). Uma das poucas mulheres a ocupar posição de destaque no cenário da indústria aeroespacial e de defesa do Brasil, Ana Paula também é a segunda mulher brasileira na história a fazer o curso da RCDS, instituição de ensino que está entre as escolas de pós-graduação mais respeitadas do mundo.
O processo de seleção envolveu executivos que trabalham nos 57 escritórios da BAE espalhados pelo mundo. "Apenas um executivo da companhia no mundo é escolhido por ano para fazer este curso. Sou a primeira fora do eixo Estados Unidos- Reino Unido ", afirma Ana Paula.
A RCDS é frequentada somente por alunos convidados, entre oficiais de alta patente das forças armadas e policiais, diplomatas, autoridades governamentais da área de defesa e executivos do setor privado que pretendem atuar no nível estratégico em suas organizações. "O critério da BAE leva em conta, principalmente, o alto potencial do executivo na sua carreira dentro da empresa", explica.
A seleção de Ana Paula também tem a ver com a filosofia da BAE. Por sete anos consecutivos a companhia aparece na lista das 50 empresas do Reino Unido onde as mulheres mais desejam trabalhar. No final do ano passado, 27% do conselho de administração e 25% dos membros do comitê executivo da BAE eram integrados por mulheres. Globalmente, 20% da força de trabalho do grupo é feminina.
Contratada em 1998, Ana Paula foi nomeada diretora da empresa em 2010. Sob seu comando estavam projetos estratégicos da companhia no Brasil, como a modernização dos veículos blindados M113, do Exército, a produção de navios-patrulha para a Marinha e o fornecimento de equipamentos para o novo avião de transporte KC 390, que está sendo desenvolvido pela Embraer para a Força Aérea Brasileira (FAB). "O curso vai me expor a 40 realidades distintas na área de defesa. O intercâmbio de informações e pontos de vista vão enriquecer meu conhecimento e me aproximar ainda mais dos militares no Brasil", afirma.
A trajetória profissional das mulheres no universo predominantemente masculino da defesa é recente. Elas começaram a ganhar espaço no setor a partir de 1982, quando as primeiras turmas femininas ingressaram nas escolas de formação da Força Aérea Brasileira. Mas foi somente nos últimos dez anos que, segundo a FAB, o número de mulheres deu um salto importante, passando de 3662 para 8526.
Hoje, além de funções administrativas, de saúde, apoio e operacionais, elas também já se destacam no quadro de aviadoras. Desde 2005, 22 mulheres assumiram o comando de aeronaves de caça, helicópteros, patrulha e transporte - inclusive os de grande porte, como o C-105 Amazonas e o C-130 Hércules.
O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, considerada uma das melhores instituições de ensino do país na área de engenharia e base para a criação da Embraer, só abriu vagas para mulheres no vestibular de 1996. A média de presença feminina, desde então, gira em torno de 8% a 10% do total de alunos da escola, que somam 120.
Aluna da primeira turma mista do Colégio Militar de Brasília em 1989 e da primeira turma da Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga, a admitir mulheres em seus quadros, a capitão intendente Thaís Molina Rodrigues Pinto, 35, diz que a mulher pode fazer a diferença no ambiente de trabalho, por exemplo, conseguindo o meio termo em uma negociação.
Adjunta da Subdivisão de Contratos da Copac (Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate), unidade da FAB responsável pelos programas de reaparelhamento da Força, Thaís auxilia e assessora seus colegas militares nas negociações de contratos com as principais empresas do setor aeroespacial e de defesa do Brasil e do mundo. "Nas reuniões sempre tem uma ou duas mulheres participando ativamente", revela. A Copac, segundo ela, trabalha hoje com 25 projetos, entre eles o desenvolvimento da aeronave KC-390 com a Embraer. "Já participei de reunião em que havia apenas um homem e todas as outras integrantes eram mulheres."

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