segunda-feira, 17 de setembro de 2012

É possível Israel atacar o Irã?

É possível Israel atacar o Irã?
O aumento do estoque de material radioativo, assim como o incremento da sua pureza, que pode envolver fins militares, tem tornado o Irã um incômodo para os países do Oriente Médio e não apenas para os Estados Unidos, ou Israel. Para vários analistas, a questão que se põe não é se, mas quando o Irã será atacado. No entanto, esta certeza levanta a seguinte questão que se apresenta em várias interrogações: por quem será? Pelos Estados Unidos? Por Israel? Por algum outro Estado muçulmano da região, receoso com o poderio militar e a influência política do Irã?
O problema, contudo, não é só atacar o território iraniano, mas entender as consequências que o ataque geraria no curto e médio prazos, não só para aquele que realizar o ato, mas também para seus parceiros, tanto políticos, como militares.
Pensando num ataque israelense, por exemplo, certamente, em termos de armamentos, o arsenal de Israel é bem superior na região. Ilustrativamente, apesar de terem os mesmos modelos de caças que os sauditas e os egípcios, as suas versões são no mínimo uma geração mais moderna, sem contar nas melhorias instaladas pelos técnicos de Israel, cuja indústria aeronáutica está entre as mais desenvolvidas do mundo.
Também a título de ilustração, ainda em termos tecnológicos, pode ser citado que recentemente comentou-se na internet que os israelenses forneceram informações de que pequenos aviões não tripulados lá fabricados (conhecidos como drones) estão sendo operados por georgianos e azerbaijanos durante revoltas separatistas na região que contavam com o apoio russo. De acordo com o disseminado, os códigos chaves para acesso a estes equipamentos foram negociados com os israelenses pelos códigos chaves das baterias antiaéreas entre outros itens de fabricação russos operados pelos iranianos.
Diante do quadro hoje existente, é possível especular sobre os países que atacariam o Irã, elencando-os do menos provável para o mais provável. Poderiam ser:
1.     Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, com proeminência dos sauditas: Além das diferenças no campo teológico, sendo inimigos declarados na questão da liderança ideológica entre os muçulmanos, tanto o Irã, quanto a Arábia têm ambições geopolíticas regionais que se confrontam. Porém, os iranianos são a potência militar da região e nem mesmo o Reino Saudita teria como se defender de um avanço persa com grandes prejuízos às suas instalações petrolíferas (sua principal fonte de recursos) sem depender de um apoio norte-americano, algo que, por sinal, traria mais conflitos com a população muçulmana, a qual já se opôs firmemente à presença das chamadas “tropas infiéis” deste país quando ocorreu a “Guerra do Kuwait”;
2.     Estados Unidos (e eventualmente a OTAN): no momento, os países membros da Organização estão passando por uma grande crise econômica e seus estoques de armas foram afetados, estando próximos ao mínimo recomendado. Com isso, haveria gastos que seus membros não podem suportar. Certamente, os Governos  desses países-membros também receberiam protestos populares demandando investimentos para gerar emprego, ao invés de gastos com armas, em guerras e em possíveis subsídios aos países afetados pelos conflitos, após os seus encerramentos. Os norte-americanos, apesar de estarem buscando recuperação em maior escala e velocidade que os europeus isoladamente considerados, também viveriam condição similar, não podendoser esquecido o fator que as perdas de soldados representam para a sociedade estadunidense. Certamente resultaria em pressões contra a medida bélica adotada, tal qual ocorreu nas guerras do Afeganistão e do Iraque, relembrando ainda a situação e o sofrimento de gerações anteriores em relação às guerras no sudeste asiático nos anos 60 e 70. Essa possível reação popular norte-americana pode ser um grande fator político, determinante nas eleições presidenciais deste ano (2012), o que reduz a possibilidade de os EUA se envolverem na empreitada de uma nova guerra, agora contra o Irã.
3.     Israel: neste ponto, é necessário dividir a possibilidade em duas, ou seja, com e sem o apoio dos Estados Unidos.
a.     Sem o apoio norte-americano, o cenário é de um ataque cirúrgico, com suporte de grupos de oposição locais ou até de curdos (que nos anos 70 foram apoiados pelo Mossad contra Sadam). Acredita-se que enviar tropas ou mesmo aviões de combate para bombardear as posições nucleares iranianas terá uma complexidade superior ao que pôde ser feito contra o reator iraquiano Osíris, cujos aviões partiram de Eilat (o porto israelense do Mar Vermelho) seguindo em silêncio pelo deserto na fronteira Jordano-Saudita na ida e na volta (Operação Ópera). Deve-se atentar para o seguinte aspecto: os caminhos, além de não serem através de nações amigas ou neutras em relação à existência de Israel – exceto a Turquia – são fronteiras muito menos perenes do que as da época do ataque ao Osíris. Além disso, recentemente, descobriu-se que a defesa antiaérea Síria está melhor do que se pensava, quando abateu um F4 modernizado turco em baixíssima altitude. Destaque-se que é a mesma Síria atualmente convulsionada, mas com as forças armadas ainda sob controle da família Assad. Por isso, as opções seriam:
I. Usar a Jordânia, o que significa irritar profundamente a monarquia hachemita, que em tese é aliada, para passar depois pelo Iraque visando atingir o Irã e voltar. No Iraque, a defesa aérea na prática é operacionaliza pelos norte-americanos, cujo nihil obstat é necessário, mas isso não representa  uma  aprovação imediata dos EUA.
II. Passar pela Turquia, surgindo outros problemas. As relações turcas com o governo israelense estão estremecidas desde o incidente do barco Mavi Marmara (2010) e os “Acordos de Cooperação Militar” reduzidos a praticamente zero. Nessa hipótese de atravessar a Turquia, o lado econômico emerge com mais intensidade devido ao menor volume de abastecimento e reabastecimento necessários, pois é somente cruzar um país, apesar de passar em frente à costa do Líbano e da Síria. No entanto, mesmo neste caso também há dependência da diplomacia norte-americana para convencer as autoridades turcas a liberar o seu espaço aéreo para o ataque. Mais uma vez, não significa um apoio imediato dos EUA.
III. Atravessar novamente o deserto árabe seguindo as fronteiras da Jordânia e Síria com a fronteira da Arábia Saudita. Apesar de ser o mais provável, esta atitude passa um atestado da extrema fraqueza das defesas a que os aliados norte-americanos estão submetidos, gerando controvérsias e algum estremecimento na relação com estes países (Arábia Saudita e Jordânia). No entanto, os sauditas estariam hipoteticamente se livrando de um vizinho nuclearizado, cuja chance de atacá-los é inversamente proporcional à de os israelenses virem a fazê-lo no atual cenário internacional e na atual configuração de forças regional.
IV. Usar mísseis balísticos  parece ser a menor possibilidade. Israel recentemente recebeu submarinos diesel-elétricos com baterias de longa duração, cuja assinatura térmica (visível por satélite) é quase tão fraca quanto à de um submarino de propulsão nuclear. Entretanto deve-se observar que:
1 - Os Mísseis de médio alcance (saindo de Israel) gerariam os mesmos problemas diplomáticos que os ataques aéreos, pois atravessariam o espaço aéreo de outros países, podendo constituir os termos de um ato de guerra se não solucionadas as questões pertinentes antes elencadas.
2 - Os Submarinos, por sua vez, teriam que estar próximos do  Estreito de Ormuz para lançar os mísseis, ou passando por ele, o que significa atravessar o Canal de Suez e o Mar Vermelho ou ainda o longínquo Cabo da Boa Esperança. Em ambos os casos no ponto final significaria chegar muito próximo ao Paquistão que vive em estado de guerra (com a Índia) desde a sua independência e, devido a esta condição, a presença de um submarino na região o alertaria imediatamente, bem como as várias nações ao redor, dificultando tanto a ação, quanto a passagem por Ormuz que é extremamente militarizado. Além disso, teria novamente de contar com o aval norte-americano, pois são os EUA quem realmente controlam a área, apesar dos sauditas e das forças navais dos Emirados do Golfo Pérsico.
b.     Com o apoio estadunidense a situação não se torna tão favorável para Shimon Peres. Israel pode atacar com mísseis, cruzando o deserto árabe. Pode fazê-lo também a partir do Estreito de Ormuz conforme foi falado e ter ainda a Jordânia e/ou os príncipes da casa de Saud fechando seus olhos para os aviões israelenses. Isso, porém, desgastaria ainda mais os Governos locais no que tange a relação com seu o povo e com os outros países muçulmanos, ao invés de ajudá-los, pois estariam apoiando Israel, que recebe muitas contraposições na região. Certamente, as populações sairão às ruas exigindo mais uma vez o fechamento das bases americanas em território sagrado muçulmano, chamando-as de base dos infiéis, tal qual fizeram antes e, com isso, é provável que haverá confronto entre o povo e as tropas dos governos, mais protestos, enfim, o aumento da violência doméstica. Os Governos destes países, entretanto, sabem que fechar as bases estadunidenses é uma alternativa que eles não têm, pois precisam desta ajuda para se protegerem dos Ayatollahs, ou quaisquer que sejam os inimigos. Aos norte-americanos não é conveniente outra opção senão manter as suas bases, pois são pilares de sustentação à manutenção do fornecimento de petróleo, essencial à sua economia, algo que se identifica como manutenção de sua projeção de poder nesta área geopolítica, assim como foram contra o Iraque.
Os problemas que foram colocados tomam como ponto de partida que a questão central não se corporifica mais em atacar, ou não atacar, pois o cenário atual está num crescente que dificilmente retrocederá para se conseguir a solução por meio das exclusivas negociações diplomáticas. Sendo, assim, acredita-se que a questão se configura no quando será o ataque, levando-se em consideração a resolução dos problemas que foram apresentados. Certamente, este é o elemento que deve nortear o cálculo analítico.
Deve-se destacar que ainda há um terceiro fator, ou evento, que é a “Revolução Síria”, pois o futuro Governo influenciará grandemente o jogo político regional, bem como a atuação dos atores não governamentais Hamas Hizballah, cujos poderios bélicos diminuiriam.
No caso de acontecer uma mudança política da Síria positiva em relação aos Estados Unidos, adotando também uma relação mais harmoniosa junto aos vizinhos sauditas e jordanianos, diminuiria o poder regional do Irã, aumentaria o escudo geográfico contra os mísseis iranianos apontados para Israel e, além disso, abriria mais um caminho para o ataque israelense às instalações nucleares persas.
Com isso, o quadro geral demonstra uma alta probabilidade de ocorrer um ataque ao Irã por parte de Israel, havendo discordâncias sobre o momento em que se dará, exceto se a tendência que se desenha no quadro político regional sofrer mudanças que obriguem a reconsiderar os principais cálculos apresentados pelos especialistas até o momento.

Fonte: Blog Ceiri

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