O
aumento do estoque de material radioativo, assim como o incremento da
sua pureza, que pode envolver fins militares, tem tornado o Irã um
incômodo para os países do Oriente Médio e não apenas para os Estados
Unidos, ou Israel. Para vários analistas, a questão que se põe não é se, mas quando o
Irã será atacado. No entanto, esta certeza levanta a seguinte questão
que se apresenta em várias interrogações: por quem será? Pelos Estados
Unidos? Por Israel? Por algum outro Estado muçulmano da região, receoso
com o poderio militar e a influência política do Irã?
O
problema, contudo, não é só atacar o território iraniano, mas entender
as consequências que o ataque geraria no curto e médio prazos, não só
para aquele que realizar o ato, mas também para seus parceiros, tanto
políticos, como militares.
Pensando
num ataque israelense, por exemplo, certamente, em termos de armamentos,
o arsenal de Israel é bem superior na região. Ilustrativamente, apesar
de terem os mesmos modelos de caças que os sauditas e os egípcios, as
suas versões são no mínimo uma geração mais moderna, sem contar nas
melhorias instaladas pelos técnicos de Israel, cuja indústria
aeronáutica está entre as mais desenvolvidas do mundo.
Também a
título de ilustração, ainda em termos tecnológicos, pode ser citado que
recentemente comentou-se na internet que os israelenses forneceram
informações de que pequenos aviões não tripulados lá fabricados
(conhecidos como drones) estão sendo operados por georgianos e
azerbaijanos durante revoltas separatistas na região que contavam com o
apoio russo. De acordo com o disseminado, os códigos chaves para acesso a
estes equipamentos foram negociados com os israelenses pelos códigos
chaves das baterias antiaéreas entre outros itens de fabricação russos
operados pelos iranianos.
Diante do quadro hoje existente, é possível especular sobre os países que atacariam o Irã, elencando-os do menos provável para o mais provável. Poderiam ser:
1. Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, com proeminência dos sauditas:
Além das diferenças no campo teológico, sendo inimigos declarados na
questão da liderança ideológica entre os muçulmanos, tanto o Irã, quanto
a Arábia têm ambições geopolíticas regionais que se confrontam. Porém,
os iranianos são a potência militar da região e nem mesmo o Reino Saudita teria
como se defender de um avanço persa com grandes prejuízos às suas
instalações petrolíferas (sua principal fonte de recursos) sem depender
de um apoio norte-americano, algo que, por sinal, traria mais conflitos
com a população muçulmana, a qual já se opôs firmemente à presença das
chamadas “tropas infiéis” deste país quando ocorreu a “Guerra do Kuwait”;
2. Estados Unidos (e eventualmente a OTAN): no momento, os países membros da Organização estão
passando por uma grande crise econômica e seus estoques de armas foram
afetados, estando próximos ao mínimo recomendado. Com isso, haveria
gastos que seus membros não podem suportar. Certamente, os Governos desses países-membros
também receberiam protestos populares demandando investimentos para
gerar emprego, ao invés de gastos com armas, em guerras e em possíveis
subsídios aos países afetados pelos conflitos, após os seus
encerramentos. Os norte-americanos, apesar de estarem buscando
recuperação em maior escala e velocidade que os europeus isoladamente
considerados, também viveriam condição similar, não podendoser
esquecido o fator que as perdas de soldados representam para a
sociedade estadunidense. Certamente resultaria em pressões contra a
medida bélica adotada, tal qual ocorreu nas guerras do Afeganistão e do
Iraque, relembrando ainda a situação e o sofrimento de gerações
anteriores em relação às guerras no sudeste asiático nos anos 60 e 70.
Essa possível reação popular norte-americana pode ser um grande fator
político, determinante nas eleições presidenciais deste ano (2012), o
que reduz a possibilidade de os EUA se envolverem na empreitada de uma
nova guerra, agora contra o Irã.
3. Israel: neste ponto, é necessário dividir a possibilidade em duas, ou seja, com e sem o apoio dos Estados Unidos.
a. Sem o apoio norte-americano, o cenário é de um ataque cirúrgico, com suporte de grupos de oposição locais ou até de curdos (que nos anos 70 foram apoiados pelo Mossad contra Sadam).
Acredita-se que enviar tropas ou mesmo aviões de combate para
bombardear as posições nucleares iranianas terá uma complexidade
superior ao que pôde ser feito contra o reator iraquiano Osíris, cujos aviões partiram de Eilat (o porto israelense do Mar Vermelho) seguindo em silêncio pelo deserto na fronteira Jordano-Saudita na ida e na volta (Operação Ópera).
Deve-se atentar para o seguinte aspecto: os caminhos, além de não serem
através de nações amigas ou neutras em relação à existência de Israel –
exceto a Turquia – são fronteiras muito menos perenes do que as da
época do ataque ao Osíris. Além disso, recentemente,
descobriu-se que a defesa antiaérea Síria está melhor do que se pensava,
quando abateu um F4 modernizado turco em baixíssima altitude.
Destaque-se que é a mesma Síria atualmente convulsionada, mas com as
forças armadas ainda sob controle da família Assad. Por isso, as opções
seriam:
I. Usar a Jordânia, o que significa irritar profundamente a monarquia hachemita,
que em tese é aliada, para passar depois pelo Iraque visando atingir o
Irã e voltar. No Iraque, a defesa aérea na prática é operacionaliza
pelos norte-americanos, cujo nihil obstat é necessário, mas isso não representa uma aprovação imediata dos EUA.
II. Passar pela Turquia, surgindo outros problemas. As relações turcas com o governo israelense estão estremecidas desde o incidente do barco Mavi Marmara (2010) e os “Acordos de Cooperação Militar”
reduzidos a praticamente zero. Nessa hipótese de atravessar a Turquia, o
lado econômico emerge com mais intensidade devido ao menor volume de
abastecimento e reabastecimento necessários, pois é somente cruzar um
país, apesar de passar em frente à costa do Líbano e da Síria. No
entanto, mesmo neste caso também há dependência da diplomacia
norte-americana para convencer as autoridades turcas a liberar o seu
espaço aéreo para o ataque. Mais uma vez, não significa um apoio
imediato dos EUA.
III. Atravessar novamente o deserto árabe seguindo
as fronteiras da Jordânia e Síria com a fronteira da Arábia Saudita.
Apesar de ser o mais provável, esta atitude passa um atestado da extrema
fraqueza das defesas a que os aliados norte-americanos estão
submetidos, gerando controvérsias e algum estremecimento na relação com
estes países (Arábia Saudita e Jordânia). No entanto, os sauditas
estariam hipoteticamente se livrando de um vizinho nuclearizado, cuja
chance de atacá-los é inversamente proporcional à de os israelenses
virem a fazê-lo no atual cenário internacional e na atual configuração
de forças regional.
IV. Usar mísseis balísticos parece
ser a menor possibilidade. Israel recentemente recebeu submarinos
diesel-elétricos com baterias de longa duração, cuja assinatura térmica
(visível por satélite) é quase tão fraca quanto à de um submarino de
propulsão nuclear. Entretanto deve-se observar que:
1 - Os Mísseis de médio alcance (saindo
de Israel) gerariam os mesmos problemas diplomáticos que os ataques
aéreos, pois atravessariam o espaço aéreo de outros países, podendo
constituir os termos de um ato de guerra se não solucionadas as questões
pertinentes antes elencadas.
2 - Os Submarinos, por sua vez, teriam que estar próximos do Estreito de Ormuz para lançar os mísseis, ou passando por ele, o que significa atravessar o Canal de Suez e o Mar Vermelho ou ainda o longínquo Cabo da Boa Esperança.
Em ambos os casos no ponto final significaria chegar muito próximo ao
Paquistão que vive em estado de guerra (com a Índia) desde a sua
independência e, devido a esta condição, a presença de um submarino na
região o alertaria imediatamente, bem como as várias nações ao redor,
dificultando tanto a ação, quanto a passagem por Ormuz que
é extremamente militarizado. Além disso, teria novamente de contar com o
aval norte-americano, pois são os EUA quem realmente controlam a área,
apesar dos sauditas e das forças navais dos Emirados do Golfo Pérsico.
b. Com o apoio estadunidense a
situação não se torna tão favorável para Shimon Peres. Israel pode
atacar com mísseis, cruzando o deserto árabe. Pode fazê-lo também a
partir do Estreito de Ormuz conforme foi falado e ter ainda a Jordânia e/ou os príncipes da casa de Saud fechando seus olhos para os aviões israelenses. Isso, porém, desgastaria ainda mais os Governos locais
no que tange a relação com seu o povo e com os outros países
muçulmanos, ao invés de ajudá-los, pois estariam apoiando Israel, que
recebe muitas contraposições na região. Certamente, as populações sairão
às ruas exigindo mais uma vez o fechamento das bases americanas em
território sagrado muçulmano, chamando-as de base dos infiéis,
tal qual fizeram antes e, com isso, é provável que haverá confronto
entre o povo e as tropas dos governos, mais protestos, enfim, o aumento
da violência doméstica. Os Governos destes países,
entretanto, sabem que fechar as bases estadunidenses é uma alternativa
que eles não têm, pois precisam desta ajuda para se protegerem dos Ayatollahs,
ou quaisquer que sejam os inimigos. Aos norte-americanos não é
conveniente outra opção senão manter as suas bases, pois são pilares de
sustentação à manutenção do fornecimento de petróleo, essencial à sua
economia, algo que se identifica como manutenção de sua projeção de
poder nesta área geopolítica, assim como foram contra o Iraque.
Os
problemas que foram colocados tomam como ponto de partida que a questão
central não se corporifica mais em atacar, ou não atacar, pois o cenário
atual está num crescente que dificilmente retrocederá para se conseguir
a solução por meio das exclusivas negociações diplomáticas. Sendo,
assim, acredita-se que a questão se configura no quando será o ataque,
levando-se em consideração a resolução dos problemas que foram
apresentados. Certamente, este é o elemento que deve nortear o cálculo
analítico.
Deve-se destacar que ainda há um terceiro fator, ou evento, que é a “Revolução Síria”, pois o futuro Governo influenciará grandemente o jogo político regional, bem como a atuação dos atores não governamentais Hamas e Hizballah, cujos poderios bélicos diminuiriam.
No caso de
acontecer uma mudança política da Síria positiva em relação aos Estados
Unidos, adotando também uma relação mais harmoniosa junto aos vizinhos
sauditas e jordanianos, diminuiria o poder regional do Irã, aumentaria o
escudo geográfico contra os mísseis iranianos apontados para Israel e,
além disso, abriria mais um caminho para o ataque israelense às
instalações nucleares persas.
Com isso, o
quadro geral demonstra uma alta probabilidade de ocorrer um ataque ao
Irã por parte de Israel, havendo discordâncias sobre o momento em que se
dará, exceto se a tendência que se desenha no quadro político regional
sofrer mudanças que obriguem a reconsiderar os principais cálculos
apresentados pelos especialistas até o momento.
Fonte: Blog Ceiri
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