O governo vai editar uma medida provisória ainda neste ano que vai estruturar a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e dotá-la de mais recursos, afirmou o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, ao Valor. Criada em caráter experimental em outubro de 2011, a Embrapii teve a adesão de apenas três institutos tecnológicos - Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Rio, e Senai-Cimatec, da Bahia. Com a reestruturação, passará a contar com mais institutos e centros de pesquisa, uma gestão própria e mais recursos.
Segundo Raupp, a Embrapii é "a perna que falta" na estrutura de inovação no país, uma vez que vai "fazer a ponte" entre centros de pesquisa e institutos tecnológicos e as empresas. Na entrevista, o ministro defendeu a política nuclear e uma atuação mais "empresarial" e "corporativa" dos centros de pesquisa e institutos federais. A seguir os principais trechos da entrevista.
Valor: Empresários e especialistas em inovação criticam o "distanciamento" entre empresas e centros e institutos de pesquisa. Como aproximar as duas pontas?
Marco Antônio Raupp: Em primeiro lugar, é importante destacar que a inovação não depende somente do governo, mas de um protagonismo das empresas. Precisamos ter uma cultura empresarial inovadora, algo que está ocorrendo no Brasil. O governo deve funcionar como um facilitador. Para isso, vamos estruturar a Embrapii, que vai aproximar os centros de pesquisa e os institutos tecnológicos das empresas. Fizemos uma experiência, com a gestão compartilhada com a CNI, e a participação de três institutos. Agora negociamos a adesão de mais institutos, como o Coppe (RJ), o Cesar (PE) e ITA (SP), uma gestão própria, que vai caracterizar a estruturação de fato da nova empresa, e, claro, mais recursos. A Embrapii vai fechar esse circuito de inovação no Brasil, servindo de ponte entre pesquisadores e empresários.
Valor: Pesquisadores e cientistas criticaram o fato de o orçamento do ministério ter sido cortado pelo contingenciamento de recursos no início do ano...
Raupp: Mas nosso braço de financiamento direto à inovação, a Finep, dobrou de tamanho. A Finep operava cerca de R$ 2 bilhões por ano até 2010, e desde o ano passado passou a operar R$ 4 bilhões. Queremos mais que isso. Esses R$ 4 bilhões são praticamente um orçamento paralelo ao do ministério, de ação direta na economia, injeção de recursos na veia. Costumo dizer que a inclusão do termo "inovação" no nome do ministério [que chamava-se apenas Ministério de Ciência e Tecnologia] custou R$ 4 bilhões.
Valor: Que avaliação o sr. faz dos institutos tecnológicos brasileiros?
Raupp: São de altíssimo nível. Mas há uma questão cultural que preciso destacar: temos uma tradição no Brasil que é a educação, a formação muito "bachaleresca". Precisamos ter uma orientação diferente, mais técnica, ligada às demandas do país e das companhias instaladas aqui. Temos muitos caciques e poucos índios, e precisamos de mais índios, de pesquisadores do chão de fábrica, que ponham mais a mão na massa. Precisamos difundir uma cultura de inovação no sistema produtivo como um todo, porque às vezes o industrial acha que só precisa de um câmbio desvalorizado para que tudo funcione. Estamos no caminho de nos tornar país plenamente inovador, não estamos no zero, mas precisamos andar mais.
Valor: O sr. é favorável ao desenvolvimento de uma política nuclear mais ativa. Por quê?
Raupp: Sou francamente favorável, o Brasil deveria investir bastante na produção de energia de origem nuclear. Defendo isso, porque se trata de uma tecnologia limpa, não emite carbono. Precisamos, é claro, desenvolver soluções para armazenamento do lixo e ter segurança nos processos, mas isso tudo é inovação, por si só. Nossos riscos de desastres naturais, como o que ocorreu em Fukushima [Japão], é muito menor, mas ainda há problema de aceitação popular. Infelizmente, porque trata-se de algo fundamental para o país.
Fonte: Valor Economico
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