09/11/2006 - 14h12 Joanisval Brito Gonçalves
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Fonte: www.inforel.org
As transformações das últimas décadas têm conduzido a uma
preocupação cada vez maior com questões de segurança, tanto no
âmbito doméstico quanto na esfera internacional.
Debates que até muito recentemente se restringiam a quartéis ou a
pequenos grupos de civis "iniciados" nos temas de Defesa, hoje
alcançam distintos setores da sociedade. No caso do Brasil, com a
redemocratização e, sobretudo, a partir do advento da Constituição
de 1988, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal tiveram suas
competências ampliadas para tratar de Segurança e Defesa.
A Segurança e a Defesa Nacionais do Brasil são temas a respeito dos
quais a responsabilidade do Poder Legislativo é clara. O texto
constitucional prevê papel de destaque para o Congresso Nacional,
atribuindo-lhe competência para legislar e participar de temas
relacionados à Defesa Nacional.
É assim que o art. 49 da Constituição estabelece, logo em seus
primeiros incisos, entre as competências exclusivas do Congresso
Nacional, a de "autorizar o Presidente da República a declarar
guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem
pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente,
ressalvados os casos previstos em lei complementar" (inciso II) e
também a de "aprovar o estado de defesa e a intervenção federal,
autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas
medidas" (inciso IV).
O papel fiscalizador dos atos do Poder Executivo, inclusive no que
concerne a temas de Segurança e Defesa, também é previsto no art. 49
da Constituição, que, em seu inciso X, determina a competência
exclusiva do Congresso Nacional para "fiscalizar e controlar,
diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo,
incluídos os da administração indireta".
Isso se dá, por exemplo, por meio dos chamados "Requerimentos de
Informação" que são encaminhados ao Poder Executivo solicitando
esclarecimentos sobre os mais variados temas, que vão desde o uso de
aeronaves oficiais para fins privados até questionamentos sobre a
atuação do Governo frente a crises internacionais como a da
nacionalização do gás boliviano, a segurança da hidrelétrica de
Itaipu, a atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal em área
indígena, e a porosidade de nossas fronteiras.
Do Poder Legislativo também têm saído Requerimentos de Informação
sobre o emprego das Forças Armadas na segurança pública, a
participação do Brasil em missões de paz, e os processos de
aquisição de equipamentos militares.
É ampla, portanto, a competência do Legislativo para questionar o
Governo sobre Defesa Nacional.
Também em virtude da competência fiscalizadora, a Câmara dos
Deputados e o Senado Federal podem convocar autoridades públicas para
prestarem esclarecimentos sobre assuntos de competência dessas
autoridades.
Isso é previsto no art. 50 da Constituição, segundo o qual "a
Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas
Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares
de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para
prestarem, pessoalmente, informações sobre assunto previamente
determinado".
Eis um interessante poder do Parlamento: chamar os titulares das pastas
a prestar contas aos representantes eleitos da nação. Nesses casos, o
não comparecimento sem a devida justificativa implica em crime de
responsabilidade.
Claro que essas autoridades também poderão ir a qualquer das Casas ou
de suas Comissões, por iniciativa própria "e mediante entendimentos
com a Mesa respectiva, para expor assunto de relevância de seu
Ministério". Essa é a prática mais comum e tem sido constante.
Recentemente, por exemplo, a Comissão de Relações Exteriores e
Defesa Nacional do Senado (CRE) recebeu o Vice-Presidente da
República, então Ministro da Defesa, e os Comandantes das três
Forças para uma audiência pública, transmitida ao vivo por rádio e
TV.
Nesse evento, fruto de um convite da Comissão a Suas Excelências, os
Comandantes puderam apresentar não só aos parlamentares, mas à
sociedade brasileira, a situação de cada Força, suas atividades,
objetivos e necessidades.
Trata-se de uma maneira de aproximar civis e militares e mostrar aos
brasileiros a importância do segmento militar da sociedade, derrubando
preconceitos construídos nas últimas décadas e promovendo o debate
sobre a Defesa Nacional e situação das Forças Armadas do País.
Uma das conseqüências da referida audiência foi a criação da
Subcomissão Permanente para Modernização e Reaparelhamento das
Forças Armadas (CREMRFA), estabelecida em junho de 2006.
Também em termos legislativos, a Carta Magna atribuiu a competência
privativa da União para legislar sobre assuntos referentes à Defesa e
à Mobilização Nacional, conforme disposto em seu art. 22.
Daí que leis relacionadas a "requisições civis e militares, em
caso de iminente perigo e em tempo de guerra", bem como "normas
gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias,
convocação e mobilização das polícias militares e corpos de
bombeiros militares", e ainda legislação referente a "defesa
territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e
mobilização nacional" passam obrigatoriamente pelo Congresso
Nacional.
O Legislativo tem sido protagonista em termos de Defesa Nacional e seus
membros são autores de inúmeros projetos que tramitam nas instâncias
formais e são discutidos em reuniões de alto nível, com a presença
de professores, pesquisadores e especialistas. Ambas as Casas também
têm promovido seminários para discutir questões estratégicas, como
o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), o Sistema de Vigilância
da Amazônia (SIVAM), a reativação de projetos importantes como o
Programa Calha Norte, a integração com os países amazônicos, a
saída para o Pacífico, a dinamização das hidrovias, a questão da
biodiversidade, o reequipamento das Forças Armadas, o projeto F/X da
Aeronáutica e inúmeras outras matérias que dizem respeito
diretamente à Defesa Nacional.
Portanto, no ordenamento jurídico brasileiro, o Poder Legislativo
exerce claras funções legislativas e fiscalizadoras quanto às
questões de Segurança e Defesa. Além dessas, o Congresso Nacional
também tem seu papel como promotor do debate sobre temas de tamanha
relevância.
De fato, a Câmara e Senado são os mais significativos foros da
República para a discussão de temas de relevância nacional, em
defesa dos cidadãos, das instituições democráticas e dos poderes
constitucionais.
Nesse sentido, a realização das audiências públicas, com a
convocação de autoridades ou o convite a qualquer cidadão para
comparecer perante as Comissões de ambas as Casas e do Congresso
Nacional, constituem instrumentos de grande valor para o estímulo ao
debate e para o esclarecimento de temas muitas vezes herméticos para a
sociedade brasileira em geral.
Há, ademais, outra importante atividade do Congresso Nacional
relacionada aos destinos do Brasil e à Administração do Estado, e
fundamental para a Defesa: a aprovação do orçamento.
É na produção de emendas e na aprovação do Orçamento da União
que o Poder Legislativo pode - e deve - atuar na alocação de
recursos para os setores de Defesa, desde o orçamento específico do
Ministério da Defesa e dos respectivos Comandos até os investimentos
em projetos tecnológicos - civis e militares -, nas atividades de
pesquisa e desenvolvimento dos setores de Defesa, no aparelhamento das
Forças e em programas como o Calha Norte e da indústria nuclear.
Aqui é importante registrar que o Brasil tem um dos orçamentos de
Defesa dos mais insignificantes em termos proporcionais ao Produto
Interno Bruto, o que constitui um grande vulnerabilidade para o País.
De fato, e isso tem sido constatado por alguns parlamentares, o
orçamento da União alocado para Defesa Nacional tem estado muito
aquém do mínimo necessário para a manutenção da capacidade
defensiva do País e preservação dos interesses brasileiros.
Fundamental, portanto, que se dê maior atenção aos recursos a serem
aplicados à Defesa, sob pena do País se ver desguarnecido em caso de
necessidade.
Em um continente em que Estados como Chile, Peru e Venezuela têm
investido na modernização de suas Forças, o Brasil deveria dar maior
atenção a seus gastos com Defesa. E isso é um tema de competência
do Congresso Nacional e que deve ser debatido constantemente.
Convém salientar, finalmente, que os Presidentes do Senado e da
Câmara dos Deputados são membros natos do Conselho de Defesa
Nacional, órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos
relacionados à soberania nacional e à defesa do Estado democrático.
Nessa importante instância, o Poder Legislativo se faz representar por
meio de seus Presidentes.
São esses os principais fundamentos constitucionais e as atividades
parlamentares deles decorrentes. A própria Constituição deixa clara
a importância do Poder Legislativo para a Defesa do País.
E quanto mais o Brasil busque fortalecer seu Poder Nacional e ocupar o
seu devido papel no concerto das nações, mais importante se faz o
conhecimento, na esfera do Legislativo, dos principais temas de Defesa,
dentre os quais a Mobilização Nacional se destaca.
Em um contexto de rápidas transformações que têm marcado a
sociedade internacional na última década, a preocupação com a
Segurança eleva-se a primeiro plano na agenda dos países. O Congresso
Nacional não pode descuidar dessa importante tarefa de contribuir para
a Defesa do Estado brasileiro, da unidade nacional e das instituições
e valores de nossa democracia.
Joanisval Brito Gonçalves é Consultor Legislativo no Senado Federal
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Fonte: www.inforel.org
Olá, eu estou pensando em entrar nesse curso na UFRJ e queria saber se você poderia me esclarecer algumas dúvidas com relação a esse curso. Obrigado.
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