terça-feira, 3 de junho de 2014

Como a indústria espacial mudará a forma como as guerras são travadas

Voos espaciais privados, elevadores espaciais, guerras fora de órbita. O relatório de uma consultoria aposta que a segunda metade do século XXI será povoada por coisas que, hoje, não passam de ficção

REDAÇÃO ÉPOCA
O barateamento tecnológico pode, segundo um novo relatório, levar as guerras para fora do planeta (Foto: Getty Images)

Guerra e corrida espacial são duas coisas associadas desde o nascimento. A tecnologia responsável por colocar o homem na Lua ganhou impulso com os foguetes militares durante a Segunda Guerra Mundial. No geral, são os avanços pretendidos para a guerra que, readaptados, mudam a cara da corrida espacial em tempos mais amenos, e passam a ser usados para propósitos científicos. Um relatório produzido por estudiosos de diferentes países, e publicado nesta terça-feira (13) pela consultoria Wikistrat, afirma que na segunda metade do século XXI o cenário deve se inverter. Segundo a consultoria, o desenvolvimento tecnológico tornará mais baratas as viagens espaciais. Se as tensões internacionais crescerem, no entanto, uma volta pelo espaço não será pacata. A Wikistrat prevê a criação de zonas de guerra extra-atmosféricas. As batalhas podem acontecer fora do planeta.
A ideia parece tirada de um filme de ficção científica, mas está bem calcada na realidade. A análise foi resultado do trabalho colaborativo de 75 especialistas de todo o mundo, liderados por Bruce Wald, ex-diretor do Programa Espacial da Marinha Americana. A Wikistrat propriamente, tem pedigree: fundada em 2009, a empresa organiza análise geopolíticas colaborativas para clientes privados e governamentais. Conta com a OTAN em seu portfólio.

O exercício de futurologia dessa equipe tem base atual.  Hoje em dia, as empresas privadas da indústria espacial se dedicam a, sobretudo, vender peças e prestar serviços para agências governamentais. Mas empreendimentos visionários como a Virgin Galactics, do multimilionário Richard Branson, se beneficiam do barateamento da tecnologia para prometer voos espaciais comerciais. É possível que empreendimentos assim se tornem mais comuns no futuro.  “Alguns analistas comparam o crescimento esperado na indústria espacial àquele experimentado pelos voos comerciais ao longo do último século”, afirma a consultoria.  O acesso ao espaço deve ficar mais simples conforme a tecnologia fica mais barata. Além disso, algumas tensões internacionais já extrapolam as fronteiras atmosféricas: na terça (13) Estados Unidos e Rússia trocaram farpas e estabeleceram sanções para uso de tecnologia espacial. 

O futuro segundo  a Wkistrat (Foto: Reprodução/ Wikistrat)Como base nisso, a Wikistrat desenhou 4 cenários possíveis para a segunda metade deste século. Os cenparios evoluem de acordo com mudanças em duas variáveis: o barateamento da tecnologia, na horizontal; e o acirramento das tensões internacionais, na vertical. Elas definirão a cara da exploração espacial no futuro. Acompanhe no quadro:




O cenário previsto no canto inferior direito é o da guerra espacial – quando a tecnologia será barata o bastante e as tensões entre governos tiverem atingido seu pico. Eventos recentes apontam nessa direção. 

Uma dificuldade

A questão é que, segundo o relatório, mesmo que o futuro da indústria espacial seja promissor, ele depende de tecnologias que ainda não foram criadas. E que podem jamais ser. Por ora, mandar objetos para o espaço é caro. A Wikistrat informa que os custos giram em torno de US$5 mil/ kg. Projeções conservadoras apontam que esse valor não deve cair muito no próximos 50 anos – o preço de venda de um automóvel não caiu drasticamente ao longo do último meio século. A tecnologia espacial corre o risco de seguir o mesmo caminho. Mas há analistas animados de que o valor atinja módicos US$1 mil/kg, através da utilização de tecnologias como o lançamento a partir de aeronaves.

Uma das inovações que poderiam auxiliar nessa redução de custos é o elevador espacial. Trata-se, literamente, de um elevador – um conjunto de cabos e plataformas – capaz de chegar ao espaço. A ideia maluca vem sendo explorada pelo Google através do Google X, seu laboratório para projetos futuristas.O equipamento facilitaria o abastecimento de naves com suprimentos e combustível.  Esbarra em um (grave) problema – os cabos para construção do aparelho exigem um material com grande resistência, ainda não descoberto ou desenvolvido.

Há sinais de que o futuro tende para o cenário no canto inferior direito do quadro da Wikistrat. O mais provável é que, e a própria consultoria faz essa ressalva, a realidade se adeque a um meio termo. O que significa, por um lado, não ter colônias espaciais brotando na Lua; mas, por outro, evita o inconveniente futurista de uma guerra transcorrendo sobre nossas cabeças.

RC
Fonte: Época

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