segunda-feira, 24 de junho de 2013

Para especialistas, polícia é despreparada para protestos

Por Vandson Lima | De São Paulo
Pedro Silveira/FolhaPress
Beato: “É fácil provocar um policial e ele atirar. Não há protocolo de ação”
Catalisador da série de manifestações que levaram milhões às ruas de todo o país, o quarto grande ato contra o aumento das tarifas em São Paulo, no dia 13, ganhou os olhos do mundo pela desmedida força policial empreendida contra os manifestantes. Após prisões efetuadas aparentemente por porte de vinagre, jornalistas feridos e uma chuva de balas de borracha disparadas a esmo, a ação policial nos protestos seguintes voltou a ser alvo de críticas. Desta vez, por suposta omissão em situações que demandavam ação firme. A medida descalibrada entre inoperância e destempero abriu entre especialistas discussões sobre o preparo das polícias brasileiras para lidar com grandes manifestações.
"Ficou claro que as forças policiais têm agido pouco profissionalmente. Eles reagem muito à provocação. É fácil provocar um policial e ele sair atirando", avalia Claudio Beato, diretor do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Esse tipo de baixo grau de treinamento, de erro operacional, denota ausência de um protocolo de ação", completa.
Se as manifestações adquiriram volume com a repressão policial naquele episódio, a mudança radical de postura se fez notar em atos seguintes: quatro dias depois, manifestantes ironizaram o escasso efetivo policial que se via com cantos de "que coincidência, não tem polícia, não tem violência". Apenas em uma tentativa de invasão do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, a atuação da PM ficou visível.
No dia seguinte, segundo cronograma da PM, a determinação de deslocamento da Força Tática até a região central se deu somente após registros de intensa depredação e saques em lojas. Segundo a Secretaria de Segurança, a PM "não interveio no episódio na frente da Prefeitura com maior força para evitar danos físicos à maioria dos manifestantes que agia pacificamente".
Ex-Comandante da PM, o vereador Coronel Camilo (PSD-SP) avalia que, depois das críticas, "houve determinação para que a polícia fosse o mais tolerante possível" nos protestos subsequentes. "É o que chamamos de opção pelo menor trauma. Deliberadamente. Em situação de grande aglomeração, você não intervém quando há depredação do patrimônio, por exemplo, para evitar o confronto", explica. A mesma lógica foi aplicada em marchas pela legalização da maconha: "O uso da substância em praça pública é ilegal, mas se abre uma exceção e tolera".
Representante da classe policial, o deputado Major Olímpio (PDT) é menos polido na análise. "Os policiais foram omissos com a destruição porque receberam ordem expressa de assim proceder. Eu conversei com os PMs antes das manifestações, eles me contaram". O deputado acusa o secretário de Segurança, Fernando Grella, de enviar os policiais às ruas sem qualquer instrução. "Eram 900 policiais soltos, cada um fazendo o que achava certo". Contatada, a SSP-SP rechaçou a versão do deputado como "absurda".
Chefe da Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP) do Estado de 2003 a 2011, o sociólogo Túlio Kahn diz que os atropelos na condução da ação policial são herança da gestão do antecessor de Grella, Antônio Ferreira Pinto. "Foi um secretário que claramente afrouxou a contenção da violência policial e minou investimentos em inteligência". Hoje conselheiro de segurança do PSD, Kahn defende Grella. "É bem intencionado, mas enfrenta vultos do passado, de quem preferia Rota na rua a polícia comunitária. O resultado está aí". Pré-candidato ao governo, Olímpio despeja críticas ao secretário. "Grella conseguiu uma proeza: uniu as polícias Civil e Militar contra sua gestão. A visão de delegados e PMs é de que ele só faz peso", ataca.




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