É fundamental ter um serviço de inteligência forte, que municie o país de informações estratégicas
Por que a atividade de inteligência é tão desprezada no Brasil? Por
que governantes e a própria sociedade ainda se prendem a passados
tenebrosos, e esquecem que o mundo evolui e a fila anda? Quando se fala
em serviço secreto, ou serviço de inteligência, no Brasil, a primeira
coisa que vem à tona é o “porão”, ou pelo menos o triste passado do
Serviço Nacional de Informações (SNI). Mas efetivamente os serviços de
inteligência hoje são ferramentas importantes para o processo decisório e
estratégico de um país, além de serem a melhor arma para a defesa e a
segurança nacionais e internacionais.
Quando falamos em defesa
nacional, a sociedade brasileira tem um pavor, ou pelo menos um descaso,
com as instituições que estruturam o sistema de defesa, principalmente o
desrespeito com as Forças Armadas, e também com a estruturação do
Serviço de Inteligência, representado pela Agência Brasileira de
Inteligência (ABIN).
A ABIN, desde sua estruturação, ainda não
encontrou a sua direção, e isso efetivamente eu questiono se é culpa
dela mesma, pois as suas atribuições e aplicações dependem muito da
Presidência da República e também do Gabinete de Segurança
Institucional, e nos últimos anos a ABIN ficou relegada a ações sem
fundamento para o processo de inteligência estratégica, e desenvolvendo
ações de inteligência policial. Por exemplo, casos como o monitoramento
de movimentos sociais (o MST), as ações de inteligência militar, o
monitoramento de políticos e o acompanhamento de ações ideológicas. E aí
vai uma lista grande, que, na verdade não vai alimentar em nada o
processo ou o sistema brasileiro de inteligência, considerando ameaças
internacionais como contrabando de armas, tráfico internacional de
drogas, terrorismo, tráfico de seres humanos e conflitos regionais, e
até mesmo inteligência estratégica econômica, considerando o novo papel
do Brasil na economia internacional – como, por exemplo, o crescimento
econômico do Brasil no sistema internacional, no BRICS, no Pré-Sal, naq
Amazônia Azul, nas relações do Brasil com África e Ásia, nas parcerias
estratégicas, nas questões nucleares e – esta fundamental – na inovação e
educação.
É perceptível que o governo atual tem um descaso total
com a atividade da informação, e principalmente um descaso com a ABIN.
Hoje, a agência tem em seus quadros uns 800 analistas, que praticamente
fazem clippings e não ações de inteligência que possam desencadear uma
força de decisão, posicionamento e participação do Brasil no sistema
internacional, sem contar o impacto de segurança e defesa internacional
para o país, considerando inclusive os próximos grandes eventos que
acontecerão.
A própria agência tem baixa representação no
exterior. Hoje temos um oficial de inteligência em Buenos Aires, um em
Bogotá e um em Caracas, e mais uma representação avançada em Key West,
na Flórida, Estados Unidos, e neste caso, em especial, parece mais um
conto de Hemingway.
Mas me pergunto todos os dias: por que não
temos agentes produzindo informações na África e na Ásia, principalmente
com o advento do BRICS (o grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul)? Ou até mesmo, do ponto de vista de inteligência
estratégica econômica, representações em Washington ou Nova York, Paris e
Londres? Será que o Itamaraty se dá conta disso? Já tivemos muitas
surpresas no passado ao perceber que as embaixadas produziram
informações atrasadas para uma tomada de decisão.
Desde o 11 de
setembro de 2001, e a ocorrência de outros atentados terroristas, como
Londres e Madri e agora a tragédia de Boston, o Brasil depende cada vez
mais de um serviço secreto forte e bem estabelecido, pois, mesmo
considerando o fato de que o país não tem inimigos externos, o Brasil e
seus eventos que acontecerão são motivos fundamentais para um chamariz
estratégico para ameaças terroristas, sem contar o alinhamento com a
própria criminalidade brasileira, que a cada dia vem crescendo, e sem um
braço mais forte por parte dos governantes, tanto federal como
estaduais e até mesmo municipais. Não quero ser alarmista, mas qualquer
um que tenha estudado um pouquinho o tema terrorismo perceberá que o
Brasil tem um grande vazio no tema inteligência. Hoje temos instituições
sem integração alguma ao sistema brasileiro de inteligência, e uma
agência deslocada da sua real função.
O mais interessante é que a
ABIN tem em seus quadros pessoas com um grande gabarito intelectual,
diferentemente de outras agências internacionais, comparando inclusive
com a CIA, dos Estados Unidos, o Mossad, de Israel, e o MI 5/6, do Reino
Unido. Existem muitos mestres e doutores literalmente encostados em
atividades de coleta de informações e produção de relatórios sem fins
estratégicos para o Estado e de proteção ou vantagem para a nação.
Se
considerarmos as boas práticas realizadas pelos serviços de
inteligência das grandes potências, a ABIN poderia desenvolver de forma
integrada ações com empresas brasileiras no exterior ou com estudantes
considerados pesquisadores do Ciência sem Fronteiras, Veja o caso da
China, que envia todos os anos 40 mil estudantes para as melhores
universidades, e eles produzem conteúdos estratégicos para os seus
serviços de inteligência.
Não estou falando de espionagem efetiva.
Nosso plano de inovação perde muito, pois não tem uma política de
acompanhamento e produção de cenários estratégicos para análise das
demandas e até mesmo a constituição de uma visão mais prospectiva nos
centros de pesquisas.
E, do ponto de vista da defesa, o Brasil
perde muito, principalmente com a espionagem industrial que acontece no
território nacional, a bioespionagem praticada por ONGs patrocinadas por
indústrias farmacêuticas de diversos países, a atuação de quadrilhas
internacionais do narcotráfico, o contrabando de armas de alto calibre, a
movimentação de células terroristas em território nacional, a compra de
terras brasileiras por parte de grandes grupos chineses, o controle de
territórios com base nos aquíferos – e aí vai uma lista gigantesca.
Sobre
as ONGs, isso literalmente remonta ao conceito do “santo do pau oco”,
das organizações que roubam nossa riqueza para alimentar o tesouro dos
outros.
Assim, me pergunto por que a nossa Presidente Dilma
Rousseff não transforma a ABIN numa grande organização estratégica? Medo
do passado? Por que a ABIN ainda tem como comandante maior um general?
Medo do passado? Por que a ABIN não tem integração com empresas
brasileiras no exterior, e também integração com as universidades?
O
cenário do Brasil é preocupante. Teremos eventos de grande porte
internacional, e de alguma forma com ameaças potenciais. É fundamental
para o Brasil um serviço de inteligência forte, que municie o país de
informações estratégicas e mostre ao mundo que o Brasil efetivamente
pode ter um novo movimento estratégico nos próximos anos, e não viver de
um passado utópico, onde inteligência significava “porão”. E devemos
ter um serviço atuante no exterior, onde realmente interessa, e não se
perdendo em trabalhos de “detetives de traição” com países sem sentido e
traidores do Brasil, ou acompanhando movimentos criminosos em que os
serviços policiais deveriam efetivamente atuar.
Como diria o grande estrategista, “informação é poder”!
Fonte: Diário da Rússia e Exame
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