Comandante do Bope abre as portas da futura sede do Bope, em Ramos, para O DIA e mostra como será o mais moderno centro de treinamento de policiais do País
POR VANIA CUNHA
Rio - Sobre as ruínas do antigo quartel do Exército, em Ramos, o tenente-coronel Paulo Henrique Azevedo de Moraes contempla o terreno de 220 mil metros quadrados do futuro Centro de Operações Especiais (Copes), a nova casa do Bope. Acompanhado por O DIA, o oficial visitou o local e deu detalhes do grandioso projeto, que será um dos maiores centros de treinamento e instrução policial do Brasil. “Me considero um afortunado. Tudo isso é resultado do que plantamos ao longo dos anos, da construção de valores. O Bope evoluiu e está preparado para esse grande salto físico e tecnológico”, afirma, emocionado, o comandante da tropa de elite da PM.
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Hoje, a área é um grande matagal, com prédios destruídos por dez anos sem uso, mas a empolgação do comandante é compreensível. Orçado em R$ 160 milhões, terá boa parte da área voltada para elevar os níveis condicionamento, conhecimento e preparação dos homens de preto.
A partir de fevereiro, quando as obras devem iniciar, todos os antigos prédios do 24º Batalhão de Infantaria Blindada serão demolidos para a construção dos modernos edifícios do Bope, Companhia de Cães, Grupamento de Salvamento e Resgate e Grupamento Aéreo e Marítimo, que será dividido em duas unidades distintas. Além do hangar para as aeronaves da polícia, haverá pelo menos quatro helipontos.
Paulo Henrique mostra vista para a Maré: rumo à pacificação | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Numa ponta do terreno, as lanchas ficarão em um píer na Praia de Ramos. No outro extremo, longe do barulho dos veículos, será o lugar do canil, do centro veterinário e dos locais de treinamento de cães.
Os prédios foram projetados com aparência uniforme, usando concreto e muito vidro para receber a luz natural e poupar energia. Além dos batalhões, será construído, numa área anexa ao complexo, o novo Hospital Central da PM, que será modernizado e deixará a sede atual, no Estácio. Com vários alojamentos, o Copes terá capacidade de treinar e abrigar 1.800 policiais.
No centro de treinamento, haverá tanque para mergulho, campo de futebol, pista de atletismo, estande de tiros, piscinas e ginásio. Em outra ala, será erguido um prédio com 10 salas de aulas para. Outra novidade no projeto é um centro de manutenção próprio para cuidar de carros, blindados, aeronaves e equipamentos da PM.
A localização do quartel — vizinho das favelas de Ramos, Maré, Manguinhos e próximo do Alemão — é estratégica. “Nossa presença aqui pode ser comparada à uma pacificação dessas áreas. Cada comunidade dessas ao redor será uma nova Tavares Bastos (comunidade no Catete, ocupada pelo Bope há 10 anos). Isso aqui vai ser o nosso paraíso”, define Paulo Henrique.
‘Pentágono’ da segurança para os momentos de crise
A sede administrativa do Copes será uma espécie de ‘Pentágono’ da segurança carioca. No prédio erguido no centro do terreno, haverá um gabinete de crise. Em situações específicas — semelhantes à recente ocupação dos complexos da Penha e do Alemão —, o comando-geral da PM pode reunir lá os responsáveis por traçar estratégias de ação. A sala, toda envidraçada, permite a visualização de todo o quartel.
Os chefes das cinco unidades ficarão subordinados ao futuro comandante do Copes. O mais cotado para o cargo é o coronel Alberto Pinheiro Neto, ex-comandante do Bope e atual assessor de Assuntos Estratégicos da PM.
A área reservada para a tropa de elite permite que os ‘caveiras’ tenham duas saídas exclusivas, independentes do portão principal do quartel, com acesso à Linha Vermelha e à Avenida Brasil. “O Bope sempre é acionado para situações críticas e precisa sair à toda velocidade”, explica o coronel Paulo Henrique.
O investimento em tecnologia será um dos pontos-chave do quartel. Além das guaritas com policiais nos muros e entradas, toda a área será vigiada por câmeras. Uma central de monitoramento terá capacidade de captar as ações de policiais, com recursos de áudio, vídeo e telefonia. As informações poderão ser repassadas à cúpula da Segurança Pública em tempo real, pela Internet.
No novo espaço, filosofia não muda: ‘Faca na caveira!’
Enquanto visitava o terreno ainda desocupado, o coronel Paulo Henrique revelou que o Bope já está de malas prontas. A mudança para a nova casa está prevista para dezembro do ano que vem. O espaço será moderno, com cinco prédios — um para a administração e quatro só com alojamentos. Do antigo quartel, os ‘caveiras’ levarão apenas o essencial que mantém, há 30 anos, a filosofia da unidade: o símbolo da faca na caveira, a oração e os mandamentos, pintados nas paredes da sede de Laranjeiras.
À frente da tropa há um ano e meio, o oficial fez uma avaliação do período. “Implementamos novas táticas de invasões e explosivos, trabalhamos com afinco a parte de negociações — que resultou, por exemplo, no sucesso do resgate de 35 reféns de traficantes no hotel em São Conrado —, fizemos sete pacificações em favelas e não perdemos nenhum policial. Fizemos mais ações em 2010 que nos últimos cinco anos. E cada delas é um passo a mais na evolução do nosso trabalho”, resumiu Paulo Henrique.
Para o comandante, até as crises permitiram a evolução do batalhão. “O Bope fez sua reavaliação e agiu com seriedade e união. E é essa filosofia que vamos manter. Teremos um grande ganho material, mas o maior investimento é no crescimento do homem, que é o que faz o batalhão se mover. Não adianta ter oportunidade e não saber aproveitar”, concluiu.
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