quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Anistia Internacional acusa EUA de cometer crime de guerra por ataques com drones


ISLAMABAD - Autoridades americanas responsáveis ​​pela operação secreta com aviões não tripulados da CIA, os chamados drones, contra suspeitos de terrorismo no Paquistão e no Iêmen podem ter cometido crimes de guerra e devem ser julgadas, afirmou a Anistia Internacional em relatório divulgado nesta terça-feira. Num relatório feito em conjunto com a Human Rights Watch, a ONG afirma que aviões teleguiados americanos mataram uma avó paquistanesa e 18 trabalhadores civis no ano passado, na mais recente denúncia sobre um assunto que provoca fortes tensões entre Washington e Islamabad.

“A Anistia Internacional tem sérias preocupações de que os ataques tenham violado a proibição da privação arbitrária da vida e possam constituir crimes de guerra ou execuções extrajudiciais”, diz o documento.

A revelação chega no momento em que o primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, visita a capital americana, onde prometeu cobrar do presidente Barack Obama o fim dos ataques aéreos, que causam indignação no Paquistão. O país se opõe publicamente ao uso aviões não tripulados em seu território, alegando que matam não só militantes como também muitos civis. Mas a dimensão precisa dessas mortes não está clara, porque jornalistas e pesquisadores independentes têm acesso limitado às regiões afetadas.

O relatório detalha ataques de mísseis americanos também no Iêmen. Segundo a ONG, os Estados Unidos podem ter violado as leis de conflito armado, os direitos humanos internacionais e as próprias diretrizes do presidente Barack Obama sobre o uso de drones.

As organizações afirmam ter realizado uma investigação minuciosa de dois ataques na região tribal paquistanesa do Waziristão do Norte. Um dos casos citados é o de Mamana Bibi, de 68 anos, esposa de um diretor de escola aposentado. Ela morreu enquanto colhia legumes na sua horta, e cinco de seus netos ficaram feridos.

- Ficamos realmente chocados, especialmente com o caso da avó. De início achamos que não poderia ser verdade, que deveria haver algo além disso - afirmou Mustafa Qadri, pesquisador da Anistia que redigiu o relatório. - Pessoas que claramente não são uma ameaça iminente aos EUA, não estão lutando contra os EUA, estão sendo mortas. Os Estados Unidos têm de se explicar claramente com justificativas para esses assassinatos.

No segundo incidente, 18 homens e adolescentes - o mais jovem de 14 anos - foram mortos quando conversavam numa sombra, ao final de um dia de trabalho, na localidade de Zowi Sidgi, em julho de 2012. Todos os entrevistados pela Anistia negaram veementemente que qualquer um dos homens estivessem envolvidos em atos terroristas. Mesmo se fossem membros de um grupo banido, não haveria motivos suficiente para matá-los, pondera o documento.

Ataque no Iêmen quebra promessa de Obama

Sobre o Iêmen, a Human Rights Watch destacou seis incidentes, dos quais dois constituíam uma “clara violação do direito humanitário internacional”. Os outros quatro podem ter violado as leis de conflito armado, pois os alvos eram ilegítimos, ou por que não foi feito o suficiente para minimizar os danos civis, acrescenta o documento.

A ONG disse ainda que alguns dos ataques no Iêmen violam as diretrizes anunciadas por Barack Obama no início deste ano, como a promessa de matar suspeitos somente quando é impossível capturá-los. Segundo a Human Rights Watch, os EUA parecem ter ignorado a medida em 17 de abril deste ano, quando um líder da al-Qaeda foi morto por um drone em um município na província Dhamar, no centro de Iêmen.

No ataque a um caminhão ao sul da capital, Sanaa, dois suspeitos da al-Qaeda foram mortos, mas também dois civis que haviam sido contratados pelos outros homens. Isso significa que o ataque pode ter sido ilegal, porque “pode ter causado dano desproporcional a civis”.

Mortes demonstram falha na tecnologia
Os EUA argumentam que poucos civis foram mortos por drones e que sua campanha é realizada “de acordo com todas as leis nacionais e internacionais aplicáveis”. Se os ataques denunciados pelas ONGs forem comprovados, demonstrariam uma impressionante falha de uma tecnologia exaltada por sua precisão.

Alega-se que os aviões de controle remoto são capazes de observar seus alvos por horas ou mesmo dias para verificá-los, e que a força explosiva dos mísseis foi projetada para limitar os danos. Os EUA recusaram-se a confirmar ou explicar o que aconteceu.

A Anistia concorda que alguns ataques aéreos podem não ter violado a lei, mas “é impossível chegar a qualquer avaliação sem uma divulgação completa dos ataques e sua base legal. Os EUA parecem estar explorando a natureza sem lei da região para evitar a responsabilidade por suas violações”.
A ONG condenou uma “doutrina de guerra global” que permite os EUA atacarem a al-Qaeda em qualquer lugar do mundo.

Fonte: Oglobo

Nenhum comentário:

Postar um comentário