Dias atrás escrevi aqui no Blog EXAME Brasil no Mundo sobre o Serviço de Inteligência e, vendo os últimos acontecimentos da novela Estados Unidos X Snowden, o governo federal brasileiro se mostra cada vez mais ineficiente no tema “Inteligência e Espionagem”. Já falei diversas vezes sobre a temática, e quanto o governo, por algum fantasma do passado relega à atuação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) às traças. É notório e perceptível, o descontentamento dos diversos agentes e operadores de inteligência, e também a falta de conexão do serviço secreto de Estado com os diversos serviços de inteligência na estrutura do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN).
Mas o pior é ver as declarações do governo federal, através dos ministros, tanto do Itamaraty, como também das telecomunicações, em estarem perplexos com as atividades americanas em território brasileiro. Me pergunto, pois era mais do que explícito, anos atrás, e até hoje, a atuação de agentes de inteligência em território brasileiro através de cobertura diplomática, e com autorização do próprio governo brasileiro.
Pós o 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos ampliaram suas redes de inteligência com o objetivo de Guerra ao Terror, e com isso os países parceiros foram solidários em dar apoio ao próprio sistema. Como Barack Obama afirmou, qualquer potência tem por dinâmica e prática o desenvolvimento de atividades de inteligência estratégica, por quê um chefe de Estado, ou ministro brasileiro iria ficar perplexo com isso?
Outro ponto, nós brasileiros tivemos que engolir o sistema de controle de segurança portuária ISPSCODE, que literalmente afronta a soberania de qualquer país, mas pela parceria, nós fomos obrigados à adequar os portos brasileiros. Sem contar que o próprio sistema é um ponto de coleta de dados estratégicos.
Outro ponto, durante anos o Brasil aceitou, ou ainda aceita, agentes da DEA (agência americana de inteligência contra o narcotráfico) em território brasileiro, sem contar agentes da própria CIA com cobertura diplomática na famosa Tríplice Fronteira, que para os americanos é um verdadeiro “hotel para terroristas planejarem ações”.
O governo brasileiro não pode se mostrar perplexo, e nem cego com isso, o mesmo deve potencializar as atividades de inteligência através da ABIN e das Forças Armadas, e também potencializar o trabalho de Contra Espionagem, que é a salva guarda das informações estratégicas do país, e pelo visto, a turma da contra espionagem deve estar em uma geladeira só. Até semana passada, muitos gritavam que o Brasil não tinha ameaça. Pelo contrário, um país tão importante e grande em sua geopolítica, com certeza é um alvo prioritário para a espionagem internacional.
Um país com os condicionantes de política externa como o Brasil tem, com certeza é um alvo prioritário. Veja alguns pontos:
- Pré Sal
- Amazônia
- Crescimento das ameaças em Narcotráfico e Contrabando de Armamento
- Fronteiras desguarnecidas
- Baixos indicadores de segurança em Tecnologia da Informação
- Políticas de Inteligência e Defesa ainda truncadas
- Vasto território adquirido por chineses e outros grupos multinacionais
- Amplo território biológico para bio pirataria
- Diversidade de atuação de organizações não governamentais em territórios indígenas
- Sérios problemas diplomáticos e de segurança internacional com os vizinhos
- Nióbio (maior reserva do mundo no Brasil)
- Outras riquezas minerais concentradas
- Reservas de água mineral (aqüíferos)
- Urânio
- Políticas de aproximação com países fora do eixo de relacionamento com os Estados Unidos e Europa
- Alimentação
Bom, a lista é bem grande, mas estes são alguns exemplos, sem contar a preocupação de países da Europa, e o próprio Estados Unidos em relação ao futuro político do Brasil, considerando inclusive a carga de investimentos no país.
Mas analisando o evento em si, me pergunto, onde está a Contra Espionagem Brasileira? Por quê a ABIN não se pronunciou? Por quê a Polícia Federal irá atuar? E o investimento e a política de inteligência do país, estão na gaveta?
Se o governo e a população ficar achando que atividade de inteligência ainda é fruto de um passado triste na história do Brasil, e também representa “porão”, o país só perde em competitividade e segurança.
As declarações que o governo, e outros políticos prestaram até agora, literalmente demonstram que estamos mais para Clouseau do que para James Bond. Se temos uma política séria de inteligência, com certeza a Contra Inteligência brasileira já deveria estar trabalhando nisso a muito tempo, e por sinal, o próprio jornalista que escancarou as informações do espião Snowden, já vive algum tempo no Brasil, será que a contra espionagem brasileira não sabia disso? Se a ABIN tivesse um foco de Estado exterior, e mais estratégico, em vez de receber missões para monitorar políticos e movimentos sociais, com certeza este assunto Estados Unidos seria de menor impacto para o país.
O governo brasileiro já deve partir de um pressuposto, que os Estados Unidos sempre, e cada vez mais intenso, utilizarão da espionagem como arma de seu poder mundial. E quanto mais o Brasil crescer no sistema internacional, mais o país se tornará prioridade de inteligência. É muito piegas achar que isso não aconteceria.
Fonte: Exame
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