Brasil,
junho de 2013. Agora são milhões de pessoas nas ruas de diversas
cidades do País protestando, simplesmente protestando… É o povo
pacificamente exigindo mudanças e buscando fazer uso do que outrora se
cunhou chamar democracia direta. E um dos aspectos mais interessantes do
movimento é a rejeição a qualquer tipo de bandeira ou vínculo das
manifestações com partidos políticos. O que os brasileiros estão dizendo
nas ruas já pode levar ao menos a uma primeira conclusão: “os partidos
não mais nos representam!”.
As
manifestações de Norte a Sul do Brasil devem gerar preocupação na classe
política. Afinal, deixam claro que o atual modelo político-partidário
entrou em colapso. Isso não é novidade para muitos cientistas políticos,
mas o diferente agora é que as massas estão exigindo mudanças que há
muito a classe dirigente desconsiderava. Enfim, o atual sistema de
representação política brasileiro não funciona mais.
Por
que os partidos perderam sua legitimidade? Porque há muito deixaram de
representar ideias para servirem de balcão de negócios, funcionando para
o interesse de alguns poucos, em detrimento do bem comum… Fundam-se e
existem em torno de pessoas, mas não de causas. Não promovem ideias, mas
sim legendas e tempo no horário político obrigatório. Não exigem
fidelidade a ideais ou projetos, mas sim a caciques. Estranho que esse
modelo não tenha se deteriorado há mais tempo…
Se
existe algo difícil de explicar para quem é apresentado à realidade
política brasileira é quais ideias defende um partido X ou Y no Brasil…
ou mesmo se esse partido se alinha politicamente mais à direita ou a
esquerda. Uma verdade que os brasileiros conhecem há muito tempo: é
praticamente impossível identificar direita e esquerda na maior parte
dos partidos políticos do País. E, tão difícil quanto, é enumerar
quantos partidos existem com representação efetiva no Parlamento…
Nossos
partidos não professam ideias, repito. Os programas costumam ser meras
formalidades para atender às regras da Justiça Eleitoral. Recomendo uma
rápida pesquisa nos programas dos partidos brasileiros. Então questione a
seus afiliados (inclusive aos membros eleitos) qual a linha central do
partido, as causas que prioriza ou, ainda, os projetos da agremiação. A
surpresa (não, não há surpresa alguma) não será das melhores.
Sim,
a classe política está preocupada. Já há discursos parlamentares
tentando explicar o fenômeno e propondo uma reforma política. A verdade é
que o povo não acredita, depois de tantas mazelas, tantos mensalões,
tanto desvio de dinheiro público, tantos conchavos, na classe política
brasileira. Cada vez mais os políticos são comparados aos vândalos que
se aproveitam da manifestação pacífica para cometerem crimes… Essa
comparação não é boa. De fato, é muito ruim para a democracia.
Em
uma democracia, partidos políticos são de extrema importância. Também o
são uma classe política comprometida com o interesse público, um
Parlamento forte, atuante e altivo, e uma oposição responsável . Não se
pode simplesmente abrir mão da classe política ou dos partidos, pois
esses são o fundamento da representação indireta, única alternativa em
um país das proporções do Brasil.
No
cenário em que o Brasil se encontra, convém que os partidos passem por
transformações, que passem a se orientar por ideias e ideais e pela
preocupação com a boa política. Precisam ser transformados… e
fortalecidos. Precisam passar a representar realmente os diferentes
segmentos da sociedade. A democracia brasileira necessita de partidos
políticos, porém de partidos diferentes da maioria que aí está.
Neste
momento de mudanças, pode ser que o País amadureça. É fundamental que a
sociedade como um todo tenha consciência da importância de uma classe
política verdadeiramente representativa, digna e responsável. É
mandatório que os brasileiros que estejam em cargos públicos, sobretudo
aqueles que ali chegaram pelo voto, realmente percebam a importância de
sua função e atuem em prol de uma causa maior, o interesse público.
Chegou-se
a um desgaste insustentável na legitimidade dos partidos e dos
políticos (que ainda tentam entender o que está acontecendo). Oxalá o
clamor das ruas possa conduzir os dirigentes da nação a uma efetiva
reforma que revolucione as estruturas de nosso modelo de democracia.
Certamente não será fácil… Afinal, em política, é muito difícil alterar a
inércia…
Fonte: Frumentarius
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