Rodrigo Mendes Gandra - OSX Construção Naval
2º Parte – O Caminho do Gestor de Projetos Empresariais: Lições do Mais Famoso Samurai Japonês: Miyamoto Musashi
Introdução ao Livro dos Cinco Anéis e aos Objetivos quanto à Gestão de Projetos Empresariais
Na primeira parte deste artigo, foram
apresentadas as ideias de Sun Tzu (500 a.C.) sobre Estratégia, foram
percorridos os conceitos concebidos por alguns dos principais autores
ocidentais modernos (especialistas nas academias de guerra e
especialistas empresariais) e foi apontada a aplicabilidade destes
ensinamentos na Gestão de Projetos. Nesta segunda parte do artigo, o
objetivo é captar as principais contribuições do samurai japonês,
Miyamoto Musashi, para a Gestão de Projetos, bem como identificar
similaridades com os ideais do chinês.
Miyamoto Musashi (cujo nome completo era
Shinmen Musashi No Kami Fujiwara No Genshin), o mais famoso samurai do
Japão, nasceu na aldeia de Miyamoto na província de Mimasaka em 1584,
dedicou sua vida aobushido (caminho / essência do guerreiro) a
fim de alcançar a perfeição através da arte da espada. Ele lutou e
venceu mais de 60 duelos de vida ou morte e nunca foi derrotado, além de
ter sido o criador do estilo de luta,Niten Ichi Ryu ou Hyoho Niten Ichi Ryu Kenjutsu, e da escola de artes marciais Niten Ichi, que utiliza duas espadas ao mesmo tempo (a longa, katana, e a curta, waki-zashi).
Se na época dos samurais era comum andar com duas espadas presas ao
cinturão, para Musashi, seria natural que se tirasse proveito das duas
ao mesmo tempo, ou seja, utilizar todos os recursos disponíveis. Para
ele era inadmissível “morrer com a arma embainhada”. Em 1643 ele
escreveu seu importante e breve tratado, Gorin No Sho (“O Livro
dos Cinco Anéis”), apresentando seus ensinamentos e estratégias para
vencer um combate, dividido em livros intitulados de acordo com os cinco
elementos fundamentais da filosofia budista. Como método, percorreremos
os cinco livros a fim de captar suas lições para a Gestão de Projetos.
Antes de avançar faz-se necessário
entender núcleo que fundamenta as teorias dos autores. Sun Tzu mostrava
que o método mais eficiente (em termos de economia de recursos e
prevenção de desgastes) consistia na quebra da resistência do inimigo
sem ter que lutar (ou obter a vitória com a “espada embainhada”), onde
ele filosofava que “na paz, prepare-se para a guerra; na guerra
prepare-se para a paz”. Por outro lado, Musashi escolhia a luta como o
caminho do aperfeiçoamento, tinha um estilo agressivo em que o objetivo
era atingir os inimigos de forma definitiva, implacável e letal. Embora
esta filosofia não seja unânime, no mundo das artes marciais, era
praticada por alguns samurais. Contudo, o próprio Sun Tzu concordaria
que, uma vez que o combate é inevitável, deve-se ser implacável a fim de
minar a resistência e o poder de reação do oponente sem oferecer chance
de defesa ou contra-ataque.
A ideia de ser implacável é famosa
inclusive entre os pensadores mais clássicos do ocidente. O filósofo
alemão, Arthur Schopenhauer, devida crença na perversidade da natureza
humana, em seu célebre livro, “Como Vencer um Debate sem Precisar Ter
Razão”, apresenta trinta e oito estratagemas pelos quais o interlocutor
pode utilizar, “per faz et per nefas” (“por maios lícitos ou
ilícitos”), para derrotar o oponente. Se o objetivo da dialética é
vencer um debate então, deve-se fazer de forma implacável. Assim como
Nicolau Maquiavel, deve-se aproveitar cada momento de fraqueza do
adversário para derrotá-lo; caso não o faça, o adversário pode se
recuperar e derrotá-lo sem apresentar a mesma misericórdia.
Livro da Terra
Musashi trata do Caminho da Estratégia
(entenda-se estratégia como domínio das artes marciais), abordando a
importância do planejamento, da organização e da liderança. Ele explica
que a Lei Moral ou o código de honra do guerreiro é obter a vitória
sobre os adversários para que possa auferir fama e prestigio. É comum
observar este aspecto nos empresários e gestores de projetos, em que o
sucesso depende de fechar negócios e entregar os projetos dentro do
planejado para suas organizações.
Musashi ressalta o Caminho do Artesão,
onde este deve ser competente no uso das ferramentas, primeiro
estabelecendo seus planos na medida certa e depois executando conforme o
planejado. Mas para que isto aconteça, o comandante (gerente) e o
capataz (equipe) devem dispor e cuidar de suas ferramentas (das
técnicas), conhecerem as leis naturais (ser capacitado), do país
(entender o ambiente / cultura em que se aplica) e as leis da casa
(escopo do projeto). Ele traça um comparativo do Caminho da Estratégia
(ou do Guerreiro) com o Caminho do Artesão (Carpinteiro) e mostra que
ambos priorizam o planejamento como base. Este também é o entendimento
de Sun Tzu, onde, no primeiro capítulo intitulado, Preparação dos
Planos, ele chama atenção para o fato de que o General deve planejar de
forma meticulosa, ou “fazer muitos cálculos” antes de partir para a
execução.
Se planejamento é importante, então
podemos falar que existe o “caminho do Gestor de Projetos”: em que o
domínio do conhecimento amplo em gestão, de todas as ferramentas,
capacitação e disciplina para entrega do escopo que lhe foi encomendado
dentro do custo, prazo, qualidade e resultando na satisfação do cliente
(estrategicamente, economicamente, ecologicamente, legalmente,
socialmente, fiscalmente, contabilmente, normativamente etc.).
Neste livro, Musashi oferece um cardápio
de ensinamentos que podem ser aplicados em nossos tempos, mais
especificamente, na gestão de projetos e de empresas como segue abaixo:
-> Sobre a Distribuição de Tarefas
Vale ressaltar que Musashi e Sun Tzu
pensavam da mesma forma quando o assunto era distribuir atribuições. Ele
ressalta que o “capataz (o gerente) designa o trabalho a seus homens de
acordo com a capacidade de cada um. (…) Os que têm menos capacidade
rejuntam o assoalho, ainda aparam as arestas e fazem trabalhos
secundários. Se o capataz conhecer e empregar bem seus homens, o
resultado final será bom”. Sun Tzu entendia que a divisão de tarefas
deve levar em consideração o perfil de cada soldado, assim o General
inteligente, “leva em conta o talento de cada um e utiliza cada homem de
acordo com sua capacidade. Não exige perfeição dos sem talento”.
Gandra e Lopes (2011) lembram que
frequentemente se observa nas organizações “modernas”, profissionais
desempenhando papéis não alinhados com suas habilidades, o que gera
frustração e aumenta o turnover(principalmente em época de mercado aquecido).
-> Sobre Liderança e Motivação
Musashi ressalta que, além de notar as
habilidades, o capataz deve perceber a moral e o ânimo de seus
subordinados para, se for o caso, encorajá-los. Sun Tzu também
ressaltava as questões de liderança e motivação das tropas como fator
crucial para obter a vitória.
-> Sobre Dedicação e Perseverança
Musashi enfatiza que, além da habilidade
e do ânimo, a dedicação e disciplina aos treinos são fundamentais; seja
qual for o caminho a ser seguido, o homem deve se aprimorar. A
dedicação e o treinamento são partes fundamentais do processo de
vitória. Além disso, deve-se aprender a manejar todos os tipos de armas
(o mesmo se aplica ao manuseio das ferramentas no mundo corporativo).
Segundo Musashi, “é ruim para comandantes e soldados gostar e deixar de
gostar”, cada arma tem sua utilidade a depender das circunstâncias.
Para Musashi, existe um ritmo para tudo
nesta vida e o ritmo da estratégia só pode ser dominado com muita
prática. Em termos práticos, para dominar a carreira de gestão de
projetos ou conhecer o “Caminho do Gestor de Projeto”, deve-se obter
experiência (através de combates efetivos, ou respondendo por
responsabilidades efetivas em seu ofício – não só com treinando com
“espadas de bambu”) e adquirir conhecimento no ramo em que se está
atuando (aqui os treinamentos e certificações podem ser aplicados, mas
deve-se lembrar de que não é garantia de sucesso). Musashi exemplifica o
ritmo no Caminho do Mercador que deve compreender a ascensão e queda do
capital. Então ele ressalta que as pessoas (gestores, lutadores,
mercadores etc.) devem ser capazes de discernir estes ritmos das coisas e
que isto é o que há de mais importante da estratégia. Dizer que o
gestor de projetos não deve conhecer dos drivers do negócio em que está
inserido é uma profunda bobagem ou até mesmo podemos dizer “descaso”.
Entender do mercado e do negócio ao qual se está inserido, a conjuntura
econômica, as ferramentas de gerenciamento de projetos, as ferramentas
de análise de viabilidade para tomada de decisão e as variáveis
estratégicas envolvidas são fundamentais para um Gestor de Projetos de
primeira linha. Os executivos que não têm estes conceitos correndo nas
veias são apenas Gerentes de Projetos um tanto quanto “engessados”.
Segundo Gandra (2009), a quantidade de projetos depende diretamente do
volume de investimentos na economia, assim, como projetos têm inicio e
fim definidos, o Gestor de Projeto deve entender a ascensão e queda dos
Mercados para não ser pego de surpresa (seja em benefício aos seus
projetos, seja em benefício de sua própria empregabilidade).
Livro da Água
Aqui são apresentados os métodos, os movimentos, o tempo (ritmo) e as posições da escola de artes marciais Niten Ichi para
se obtiver a vitória. Ele mostra que é mais fácil vencer quando se
conhece o ritmo do inimigo, e confrontá-lo com um ritmo que ele não
conhece. Sun Tzu classificaria estes aspectos como Método e Disciplina
(Organização e Processos). Como exemplo, não se precisa recorrer aos
chineses para reconhecer isto, basta observar o sucesso adquirido pela
família Gracie e de outros praticantes de Brazilian Jiu-Jitsu nos eventos de Mixed Marcial Arts (MMAs).
No fundo, eles fizeram o mesmo que Musashi fez no Japão, isto é,
difundiram um estilo próprio e original de luta. O mesmo ocorre quando
se observa a entrada de uma inovação nos mercados, onde segundo o
economista austríaco, Joseph Schumpeter, causa uma espécie de
“destruição criadora” que pode derrubar adversários comerciais.
Livro do Fogo
Apresenta o combate em si, ensinando a
manipular o ânimo, como enganar e surpreender o inimigo não importando
seu tamanho ou força. Para isso, deve-se atentar para o treinamento
contínuo (tomadas rápidas de decisões), para o conhecimento do lugar de
batalha e para a compreensão da estratégia do inimigo de forma que se
possa pensar como ele agiria a fim de antecipar aos seus movimentos
ainda na intenção (ex-ante). Esta antecipação ocorre em três situações: quando se ataca primeiro (Ken No Sen), quando se espera o ataque (Tai No Sen) e quando ambos atacam (Tai Tai No Sen).
Em todas as situações o ataque ou contra-ataque deve ser implacável
(sem tréguas). Deve-se atentar que a capacidade de adaptação, a
criatividade, o oportunismo, a simulação e a sustentação da motivação,
são importantes para manter a liderança e para induzir o inimigo ao
erro.
Livro do Vento (Tradição)
Ressalta a importância de conhecer a
tradição e os outros estilos dos oponentes, onde “é difícil conhecer a
si mesmo sem conhecer os outros”. Para a gestão de projetos é muito
importante mapear os stakeholdersantes de começar um projeto, pois é difícil satisfazer todos sem conhecê-los adequadamente.
Outro ensinamento é que você não deve
ser rápido e nem devagar, o importante é não sair do ritmo. Geralmente,
as empresas gostam de fazer projetos fast track com metas
ambiciosas que muitas das vezes não são consistentes. Gestão de Projetos
é sinônimo de Gestão de Conforto, onde o mais importante é manter a
previsibilidade, ou seja, entregar o que foi prometido dentro do
planejado, acordado e dentro dos limites de tolerâncias. Assim pressões
para antecipação e falta de planejamento, geralmente tiram o projeto dos
trilhos.
Livro do Vazio
Ele recomenda não se afastar do bushido (caminho
/ essência do guerreiro) e da busca pelo entendimento da natureza das
coisas. Sun Tzu traduziria como a importância da manutenção da ética ou
da Lei Moral. Ou seja, não deixar que aquilo que não compreendem seja
interpretado como vazio. Deve-se tentar conhecer de tudo, ao menos um
pouco ou até superficialmente, e é este aspecto que diferencia um
Gerente de Projetos de um Gestor de Projetos. Aqui, o Gestor de Projetos
se preocupa e presta contas da estratégia de implantação do projeto e
pelos seus indicadores estratégicos, ou seja, ele pratica a Arte do
General.
“A arte do general, a que
os gregos chamavam Estratégia, ciência profunda, vasta, sublime, que
engloba muitas outras.” Paul Gédéon Joly de Maizeroy (1719-1780)
Considerações Gerais do Caminho do Guerreiro de acordo com Miyamoto Musashi
Musashi finaliza seu tratado com os
seguintes ensinamentos para se atingir o caminho do guerreiro. Podemos
relacionar estes ensinamentos aos de Sun Tzu e ao que se pode aplicar na
Gestão de Projetos, conforme abaixo.
> “Não tenha pensamentos desonestos” => Sun Tzu chamaria de
respeitar a Lei Moral, o que para o mundo corporativo e de projetos é
respeitar a cultura, a ética, os objetivos e a missão.
> “O Caminho está no treinamento” => motivação e disciplina são fundamentais, não foi à-toa que o Japão se reergueu depois a Segunda Grande Guerra e está se reerguendo da Catástrofe Natural de 2011.
> “Familiarize-se com todas as artes” => Sun Tzu também defendia esta tese ao afirmar que “se conhecermos o inimigo e a nós mesmos não precisamos temer o resultado de uma centena de combates”.
> “Conheça o caminho de todas as profissões” => saiba que se pode tirar de proveito de todos os perfis profissionais; será útil para compor equipe.
> “Distinga entre ganho e perda em assuntos mundanos” => o gestor de projetos deve ser capaz de reconhecer e calcular os custos e os benefícios de seu projeto e das decisões acerca dele (geralmente a visualização do fluxo de caixa descontado e conhecimento dos indicadores estratégicos facilitam esta análise).
> “Desenvolva a capacidade intuitiva de julgar e compreender tudo” => o gestor de projetos deve desenvolver diversas habilidades em diversas áreas.
> “Perceba as coisas que não podem ser vistas” => Tente captar os outliers ou os “Cisnes Negros”, como diria o Nassim Taleb, o que é fundamental para a gestão de riscos e para tomada de decisões em projetos e empresas.
> “Esteja atento até as coisas mais insignificantes” => Treine a capacidade de “pensar fora da caixa”.
> “Não faça nada que não seja útil” => Sun Tzu também era adepto da economia de esforços e, no que diz respeito à Gestão de Projetos, definitivamente, não faça Gold Plate. Como a maioria dos projetos não apresenta sucesso, não gaste energia fazendo mais do que foi requerido.
> “O Caminho está no treinamento” => motivação e disciplina são fundamentais, não foi à-toa que o Japão se reergueu depois a Segunda Grande Guerra e está se reerguendo da Catástrofe Natural de 2011.
> “Familiarize-se com todas as artes” => Sun Tzu também defendia esta tese ao afirmar que “se conhecermos o inimigo e a nós mesmos não precisamos temer o resultado de uma centena de combates”.
> “Conheça o caminho de todas as profissões” => saiba que se pode tirar de proveito de todos os perfis profissionais; será útil para compor equipe.
> “Distinga entre ganho e perda em assuntos mundanos” => o gestor de projetos deve ser capaz de reconhecer e calcular os custos e os benefícios de seu projeto e das decisões acerca dele (geralmente a visualização do fluxo de caixa descontado e conhecimento dos indicadores estratégicos facilitam esta análise).
> “Desenvolva a capacidade intuitiva de julgar e compreender tudo” => o gestor de projetos deve desenvolver diversas habilidades em diversas áreas.
> “Perceba as coisas que não podem ser vistas” => Tente captar os outliers ou os “Cisnes Negros”, como diria o Nassim Taleb, o que é fundamental para a gestão de riscos e para tomada de decisões em projetos e empresas.
> “Esteja atento até as coisas mais insignificantes” => Treine a capacidade de “pensar fora da caixa”.
> “Não faça nada que não seja útil” => Sun Tzu também era adepto da economia de esforços e, no que diz respeito à Gestão de Projetos, definitivamente, não faça Gold Plate. Como a maioria dos projetos não apresenta sucesso, não gaste energia fazendo mais do que foi requerido.
Conclusões
O que distingue o “Gerenciamento de
Projetos” da “Gestão de Projetos” é a forma pela qual o conceito de
Estratégia é apropriado e utilizado. Foi visto que este conceito foi
cunhado nas academias de guerra e incorporado ao mundo dos negócios. É
certo que os projetos são oriundos de iniciativas estratégicas, mas além
do trabalho técnico e gerencial a ser desenvolvido, cada projeto deve
traçar sua própria estratégia para atingir os objetivos (que não são
necessariamente imutáveis) com eficiência e eficácia. Neste sentido, as
lições de Sun Tzu convergem e complementam as de Miyamoto Musashi e
levantam questões que até hoje afligem gestores de todas as áreas e
lugares.
Rodrigo Mendes Gandra é Especialista em Planejamento e Controle da OSX Construção Naval. (rodgandra@gmail.com)
Referências
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Fonte: PMOACADEMY
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