Se for escolhido, Roberto Azevedo será o diplomata brasileiro a ocupar o mais alto cargo da diplomacia internacional em todos os tempos. |
A forte campanha movida pelos governos do Reino Unido e da França
contra o candidato brasileiro à direção-geral da Organização Mundial do
Comércio (OMC), Roberto Azevedo, revelada ontem pelo Valor,
leva autoridades em Brasília a falar em revisão da "aliança
estratégica" com esses dois países. Com informações de que, já na
primeira rodada de votações em Genebra, o governo britânico teria
tentado vetar a permanência de Azevedo na disputa, os ministros de
Relações Exteriores, Antonio Patriota, e do Desenvolvimento, Fernando
Pimentel, falaram do desconforto brasileiro ao ministro do Comércio
britânico, Vince Cable, que, na semana passada, chefiou uma delegação
empresarial ao Brasil.
O governo brasileiro admite que os países com quem tem alianças
votem em outros candidatos, mas fazer campanha contra e tentar bloquear
a candidatura de Azevedo foi visto como um ato hostil ao Brasil,
segundo comunicaram as autoridades de Brasília diretamente ao alto
escalão do governo do Reino Unido.
No encontro com Patriota e Pimentel, Vince negou que tenha havido um
esforço contra o brasileiro. Informações de Genebra dão conta, porém,
de que a diplomacia britânica trabalhou para que, em lugar de Azevedo,
segundo nas preferências, fosse levada à fase seguinte de votações a
candidata da Indonésia Mari Pangestu, terceira mais votada pelos
governos da OMC.
A intenção dos britânicos era fazer com que o único latino-americano
a seguir na disputa fosse o mexicano Hermínio Blanco, preferido de uma
parte dos países europeus por seu histórico de defesa do livre
comércio.
"Sabemos agora quem são nossos amigos na Europa", comentou,
reservadamente, um integrante do governo que acompanha de perto as
negociações para a sucessão do francês Pascal Lamy, cujo mandato acaba
em agosto. Uma autoridade brasileira chegou a lembrar, ao Valor,
que os países europeus com maior resistência à candidatura brasileira
são, exatamente, os três com interesses em negócios na área de defesa
com o Brasil: França, Inglaterra e Suécia.
Os suecos e franceses disputam o fornecimento de caças para a Força
Aérea Brasileira, e os britânicos negociam o fornecimento de fragatas
para a patrulha do litoral brasileiro, negócio calculado em US$ 4,5
bilhões. O maior programa na área de defesa, atualmente, é o da
construção de submarinos, com a França.
Oficialmente, o governo nega qualquer intenção de responder
bilateralmente ao veto a Azevedo. Mas uma prova de a disputa na OMC já
começa a ter reflexos sobre as relações comerciais é o fato de o tema
ter sido levado à reunião com o secretário de Comércio britânico, que
foi a São Paulo e Recife com uma delegação de empresários das áreas de
portos e construção naval.
Fonte: Valor Econômico
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