Seis em cada dez
(60%) estudantes universitários brasileiros pensam em abrir o próprio negócio,
segundo pesquisa encomendada pela Endeavor e divulgada ontem à noite durante a
Rodada de Educação Empreendedora Brasil 2012, que acontece em Florianópolis (SC)
até quarta-feira (10). No entanto, de todos esses que esperam empreender um
dia, apenas 44% cursam uma disciplina ligada ao tema, 38% “gastam tempo
aprendendo a iniciar um novo negócio” e 24% afirmam estar economizando dinheiro
para iniciar a trajetória como empreendedor.
Para Amisha Miller,
gerente de pesquisa e políticas públicas da Endeavor, uma organização global de
apoio ao empreendedorismo, a discrepância entre o universitário querer abrir a
própria empresa e se preparar para tal existe por mais de uma razão.
As escolas parecem
ser, em parte, responsáveis pela falta de preparo dos jovens para empreender.
Mas só em parte, pois 76% delas oferecem cursos de empreendedorismo na
graduação. Esses cursos são, geralmente, de iniciação ou introdução ao
empreendedorismo ou ainda sobre criação de empresas.
Um dos problemas para
a baixa frequência nesse tipo de programa, segundo Amisha, é que os cursos
ligados ao empreendedorismo normalmente ficam restritos a carreiras diretamente
relacionadas à gestão de negócios, como administração ou economia. “E,
naturalmente, não só alunos desses cursos são ou serão empreendedores”, diz
ela. Outros motivos seriam a fraca divulgação dos programas ou ainda o fato de
não terem um nível alto de qualidade.
Esses fatores,
segundo Amisha, somados ao fato de o estudante ser pouco pró-ativo - uma
minoria participa de organizações estudantis ou faz estágio em startups -,
colaboram para a discrepância nos números. “A educação empreendedora deve estar
disponível a todos os alunos, independentemente do curso, e, também, o aluno
precisa ter iniciativa própria. Nenhum bom empreendedor espera as coisas
chegarem até ele, mas, sim, corre atrás”, diz ela.
Oferecer disciplinas
relacionadas ao empreendedorismo para os universitários é importante porque
aumenta a confiança do jovem no ato de empreender. “Os estudantes devem ser
mais expostos ao dia a dia do empreendedor, para conhecer suas maiores
habilidades e entender quais pontos devem trabalhar mais”, recomenda a Endeavor
na conclusão da pesquisa. “Entre as experiências possíveis que devem ser
incentivadas estão, por exemplo, mais alunos estagiando em negócios
recém-criados, trabalhando em empresas juniores e se envolvendo com entidades
estudantis”, completa Amisha. A média dessas iniciativas no Brasil é menor se comparadas
ao restante do mundo.
Amisha diz que, nos
últimos anos, há um movimento muito positivo em relação ao empreendedorismo em
todos os segmentos da sociedade brasileira. As universidades vêm acompanhando
esse ritmo, mas ainda há muito o que fazer. Ela explica que o empreendedorismo
é ainda bastante restrito a estudantes de cursos mais próximos ao tema, como
administração. Nessa carreira, 54% dos alunos analisados já fizeram uma
disciplina de empreendedorismo, enquanto menos de 30% dos estudantes de direito
ou física fizeram, por exemplo. “Na visão da Endeavor, as universidades
deveriam oferecer disciplinas de empreendedorismo para alunos de todos os
cursos, pois o empreendedorismo não é restrito a uma determinada carreira”,
diz.
Outros resultados
Dos 6.215 mil
estudantes entrevistados, 8,8% já são empreendedores, sendo que 80% das suas
empresas são microempresas e 94,8% possuem até 10 funcionários. Outros 28%
trabalham em negócios recém-criados e 25,9% em empresas iniciais. O impacto
dessa experiência na confiança desses jovens universitários para abrir a
própria empresa é grande: 70% relataram se sentir mais confiantes.
O estudo da Endeavor
aponta que o desempenho das instituições de ensino brasileiras em comparação a
outras universidades do mundo é satisfatório quando se trata de
empreendedorismo. Enquanto em todo o mundo a média das instituições que levam
palestrantes para falar sobre o tema é de 71,4%, no Brasil a taxa chega a
89,1%. A promoção de visitas ou excursões focadas em empreendedorismo e negócios
é feita por 43,5%.
Os homens (67,5%)
ainda pensam mais em empreender do que as mulheres (51,7%), e a vontade de ter
o próprio negócio também é muito influenciada pelo histórico de
empreendedorismo da própria família, já que 62,8% dos pais dos universitários
que já têm o próprio negócio empreendem. Para quem não tem esse histórico, o
apoio da família é fundamental. Para 60,2% a opinião dos pais é considerada
importante ou extremamente importante.
Ensino conectado ao mercado
Diferentemente do
resto do mundo, porém, as universidades do Brasil ainda não têm tradição de
receber recursos externos. Enquanto lá fora 71,1% recebem esse tipo de recurso,
no Brasil apenas 34,8% apresentam tal fonte de receita. Da mesma forma,
apenas 4,3% recebem doações em dinheiro para contratação de professores,
doutores e pesquisadores. No mundo, esse número é de 15,8%. “As universidades
certamente estão no caminho certo, fazendo coisas legais como levar
palestrantes e organizar competições”, diz Amisha. “Nós queremos mostrar para
os professores que eles precisam incentivar mais os estudantes a fazer coisas
fora da sala de auta para aumentar sua confiança. O ensino ainda é muito
superficial, e esse pode ser justamente um dos fatores que geram
insegurança", diz Amisha.
Fontes: Valor Econômico e Epoca Negócios
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