Juristas e ministros do Supremo avaliam que recursos contra a decisão do STF não serão acatados
DIEGO ABREU
ANA MARIA CAMPOS
Um
dia depois de o deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) anunciar
que vai recorrer a cortes internacionais contra sua condenação no
julgamento do mensalão, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e
juristas afirmaram ontem que o réu não terá êxito nessa tentativa. Dois
ministros ouvidos pelo Correio observam que o réu tem o direito de
apelar à Organização dos Estados Americanos (OEA), mas avaliam que o
órgão não teria motivo para reverter a decisão do STF, uma vez que os
direitos de defesa dos acusados foram respeitados.
Em
entrevista concedida na terça-feira, o parlamentar condenado por
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha afirmou
que recorrerá à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA
devido a “atropelos” do processo no STF.
Para
o ministro Marco Aurélio Mello, não houve nenhum atropelo. Segundo ele,
todas as normas foram observadas no que se refere ao direito à ampla
defesa e ao contraditório dos réus. O ministro acrescentou que a decisão
da Suprema Corte brasileira sempre prevalecerá, mesmo se a decisão da
OEA fosse contrária, uma vez que o Brasil é um país soberano.
“A
possibilidade de recorrer é latente, mas evidentemente passará pelos
filtros da OEA, por uma triagem. E é preciso lembrar que o Supremo atua a
partir de um predicado da República que é a soberania. A decisão de uma
corte internacional não implica a possibilidade de cassação de um
pronunciamento soberano”, destacou Marco Aurélio, antes de ironizar a
atitude de Valdemar. “Vai levar o que para a OEA? Que foi condenado?
Isso não encontrará ressonância. Depois que o Supremo bate o martelo,
tudo mais está circunscrito ao direito de espernear”, completou o
ministro.
Outro
integrante do STF, que pediu para não ser identificado, ponderou que
jamais a OEA consideraria que o STF estaria violando garantias dos réus,
pois o processo está sendo conduzido em conformidade com a Constituição
e as leis brasileiras. Alguns defensores de réus avaliam que seria um
desgaste para os acusados a adoção de qualquer atitude que confrontasse a
decisão do Supremo.
México
Nos
bastidores, advogados de réus do mensalão comentam com pessimismo a
possibilidade de um recurso na OEA. Segundo o defensor de um dos
acusados, um caso ocorrido no México é um precedente desalentador. O
governo do país contratou um advogado para defender cidadãos mexicanos
condenados nos Estados Unidos. A OEA entendeu que eles não tiveram
direito de defesa, porque sequer falavam inglês e não tinham defensor
que os representassem dignamente. Os EUA, no entanto, ignoraram a
manifestação da OEA.
Na
avaliação do especialista em direito constitucional Erick Wilson
Pereira, o efeito de um possível recurso seria inócuo, uma vez que os
direitos e garantias observados a qualquer cidadão brasileiro foram
respeitados pelo Supremo. “A plausibilidade desse recurso é praticamente
zero, porque fizemos um processo válido, com o devido processo legal
observado e diante de um tribunal constitucional de um país soberano”,
afirmou Pereira.
O
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirma que não há espaço
para a atuação de qualquer corte internacional. “É algo que não tem
mais a mínima viabilidade, porque isso só seria cabível se estivéssemos
presenciando um julgamento em que desatendidas as garantias asseguradas
pela Constituição e asseguradas internacionalmente a qualquer réu”,
opinou Gurgel.
"Vai
levar o que para A OEA? Que foi condenado? Isso não encontrará
ressonância. Depois que o Supremo bate o martelo, tudo mais está
circunscrito ao direito de espernear"
Marco Aurélio Mello, ministro do STF
Fonte: Correio Brasiliense
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