segunda-feira, 11 de abril de 2011

VISUALIZAÇÕES DA GUERRA ASSIMÉTRICA

Eng. Darc Costa

INTRODUÇÃO

A concepção de que há uma revolução se processando em assuntos militares (RAM) capturou o centro das discussões que se processam nos debates sobre temas estratégicos, nos EUA, no após guerra fria. A RAM tem se colocado para os norte-americanos no fulcro das suas discussões sobre a segurança nacional e das suas necessidades militares.

Há muitas discordâncias entre os teóricos, quanto à afirmação que efetivamente se processa uma revolução em assuntos militares, sendo que muitos vêem, como nós, neste discurso, apenas uma nova maneira para se enfocar o tema bélico. Contudo, há uma concordância nos estudos estratégicos hodiernos, no que diz respeito ao aparecimento de novas causas de insegurança no cenário internacional, decorrentes de um novo tipo de guerra, que se expressou claramente nos últimos atentados e que nomeamos, a exemplo de outros, como guerra assimétrica.

Sobre a existência de um novo tipo de guerra há grande concordância dos chineses aos norte-americanos, merecendo destaques nas análises que fazem deste novo tipo de fenômeno político e social, pelos chineses, os Coronéis Qiao Liang e Wang Xiangsui, do Exército Popular de Libertação da China, que lançaram em 1998 um livro, sobre este tema, intitulado GUERRA IRRESTRITA, e pelos norte-americanos, em artigos publicados, dentre outros, por Steven Metz (artigo publicado na MILITARY REVIEW, Jul/Aug 2001) e Winn Schwartau, (artigo publicado na ORBIS, Spring 2000, Findarticles).

Nós brasileiros temos de olhar este novo tipo de guerra nos dois enfoques o chinês e o norte-americano, pois podemos nos ver ora como pedra ora como vidraça. Foi dentro desta ótica de uma visão dual, que estamos fazendo esta apresentação sobre o tema para promovê-lo e para colocá-lo no centro do debate das questões estratégicas no Brasil.

ESTRATÉGIA, PODER E GUERRA.

Antes de analisar o fenômeno da guerra é interessante fazer algumas considerações sobre política, estratégia e poder. Política, estratégia e poder estão sempre conjugadas em qualquer ação humana. A política é a arte de estabelecer objetivos. A estratégia é a arte de se empregar o poder para se alcançar os objetivos colocados pela política. O poder é a conjunção dos meios que se dispõe para se atingir os objetivos.

O poder não é senão uma forte influência. Uma influência tão vigorosa, que aquele sobre a qual ela se aplica, comporta-se da maneira desejada por quem a aplicou. Uma demonstração de poder visa convencer aos adversários, de não ser possível eles impedirem aquele que o demonstrou, de alcançar seus objetivos.

Estratégia de Guerra e Estratégia Militar

Hoje, quando se fala de estratégia de guerra, se deve destacar que esta não é vista, como era antigamente, somente como a arte de empregar forças militares para se alcançar um determinado objetivo estabelecido pela política. Segundo o conceito moderno, a estratégia de guerra é muito mais a arte de empregar o poder como tal, seja como força, seja como influência de qualquer outro tipo, para se atingir objetivos políticos. Quando há um choque de vontades a arte de se impor uma das vontades é a estratégia de guerra.

A estratégia militar é necessariamente uma estratégia de guerra e surge na estratégia de guerra quando há o emprego de violência, isto é, de meios bélicos, um dos meios específico do poder. A estratégia militar caracteriza-se pelo recurso a violência para impor a nossa vontade ao inimigo.

Mas, a melhor arte da estratégia de guerra consiste em alcançar um objetivo político sem se recorrer ao emprego da violência. Isto pode ser conseguido através de uma demonstração de poder econômico, de poder financeiro ou de uma exclusiva demonstração de poder militar. A estratégia de guerra é, então, uma estratégia de dissuasão[1]. Nesta, não há o emprego da força, há, somente, a ameaça do uso da força.

A estratégia de guerra, na qual a demonstração de poder é intensificada até o emprego real da força é a estratégia militar. A estratégia militar sempre é uma possível forma de aplicação da estratégia de guerra. Na verdade, a estratégia militar é a última forma do emprego da estratégia de guerra, é aquela forma resultante do emprego do poder militar. Ela se caracteriza pelo emprego da violência, quando o sucesso desejado não pode ser alcançado através de outros meios.

A estratégia da guerra muitas das vezes leva a estratégia militar a tentar atingir seus objetivos mediante uma confrontação direta e imediata de forças oponentes. Neste caso, temos a estratégia de ação direta, onde se busca uma grande batalha decisiva, na qual o objetivo é destruir uma parte essencial das forças adversárias, através de alguns golpes potentes.

Outras vezes, a estratégia da guerra levará a estratégia militar a procurar vencer pela manobra um adversário, usando o espaço e o tempo e evitando o confronto direto com a força principal do inimigo, ou com as forças oponentes. Esta forma é conhecida como estratégia de ação indireta e busca desorientar o adversário, atraindo-o para uma posição mais desfavorável. Sem se engajar na batalha principal, procura desgastá-lo, progressivamente, de tal forma, que no final da guerra, ele estará exaurido. Na estratégia da ação indireta, o adversário não é decididamente derrotado, mas é vencido pela manobra.

Guerra

A guerra é uma forma de fazer política, ou pelo menos um meio de fazer política, já que, na verdade, a guerra é a luta pelo poder. Guerra é o estado em que vivem aqueles que lutam. Na guerra, ambos os lados buscam impor uma vontade e uma paz da sua conveniência.

O recurso à violência na busca ao poder é o que caracteriza a guerra. A guerra é um fenômeno muito mais abrangente que o conflito armado. Guerra só existe se houver choque de vontades, tem que haver uma dialética de vontades. Mas, uma vontade pode não se explicitar formalmente.

Influir psicologicamente não é apenas determinante no conflito político, mas, também, o é na guerra, que é, fundamentalmente, uma batalha pela alma e pela vontade do adversário. A guerra não deve ser vista como a conquista do terreno ou de determinadas posições. Apossar-se do terreno e conquistar certas posições são apenas instrumentos para se estruturarem de forma prevalente os desejos expressos na vontade de alguém sobre a vontade do outrem. Enquanto esse objetivo não for atingido, a guerra não será vencida.

Tipos de Guerra[2]

Até o século XVIII, era claro como a guerra se processava: a guerra ocorria entre dois ou mais estados nacionais, representados por duas ou mais casas reais e normalmente eram conduzidas através de exércitos de mercenários. Mas, isto mudou muito, em especial nos últimos cem anos. Hoje, não se pode prever com certeza como se dará uma guerra em um determinado espaço e em um dado tempo. Há, hoje, quatro tipos diferentes de guerra, a saber:

a guerra convencional;

a guerra de destruição em massa;

a guerra irregular; e

a guerra assimétrica.

Nos estudos estratégicos, todos os diferentes tipos de guerra devem ser analisados. Ainda mais pelo fato de que, hoje, em um conflito, não é mais possível admitir no seu desenrolar a existência de um só tipo de guerra. Todas as considerações estratégicas, bem como todas as possibilidades de defesa ao ataque do inimigo devem acolher dos estudiosos em estratégia, mentalmente, a possibilidade dos vários tipos de guerra.

Em tempos recentes, em decorrência da influência do longo período da guerra fria, o estudo da guerra foi concentrado na teoria das guerras de destruição em massa. A imagem bélica da guerra de destruição em massa, em especial sua vertente nuclear, requereu diferentes planejamentos estratégicos, diferentes armamentos, diferentes organizações de unidade, e finalmente, o que não é menos importante, um diferente treinamento dos oficiais e de suas unidades, algo que normalmente manteve relação direta com os padrões convencionais. Assim, também, se passa com todos os demais tipos de guerra, inclusive para este recente tipo que surgiu, a guerra assimétrica.

Contudo, hoje, está claro que a guerra de destruição em massa parece ser a mais improvável das futuras guerras. Na verdade, a sua possibilidade nuclear, demonstrada em Hiroshima e Nagasaki, diferentemente do que muitos pensavam, não acabou com a guerra. Enfatizou outros tipos ou ensejou novos tipos de guerras. Só as transferiu para outros espaços de concepção e de realização. Como a guerra nuclear tornou-se, de certa forma, impensável, a humanidade transferiu seus conflitos armados para as sarjetas, para as cavernas e para as florestas. A maioria dos conflitos após a Segunda Grande Guerra foi de conflitos armados deste tipo, foram guerras irregulares. A guerra irregular foi progressivamente tomando o lugar das guerras convencionais. Contudo, as experiências em guerra convencional têm pouca aplicabilidade na guerra irregular. Recentemente, foram feitos estudos teóricos importantes referentes à guerra irregular, já que esta foi uma forma usual de guerra pós Segunda Grande Guerra. Daí a motivação para o estudo deste tipo de guerra.

Após os atentados de onze de setembro, surgiu, contudo, um novo tipo de guerra, que figurava, exclusivamente, no plano das hipóteses, a guerra assimétrica, que nada mais é que uma guerra irregular travada no espaço mundial. Guerra assimétrica, talvez pudesse ser definida, como foi dito, de guerra irregular em escala mundial, ou como a guerra irregular, que não se cinge a um espaço nacional.

GUERRA ASSIMÉTRICA

Alguns preferem conceituar a guerra assimétrica como guerra irrestrita. A adjetivação assimétrica nos parece mais apropriado que irrestrita, pois assimétrica conceitua melhor, em nossa opinião, a guerra que agora se trava e que é composta, entre outras, das seguintes assimetrias,

para um lado:

Assimetria de poder econômico e financeiro, muitos recursos versus poucos;

Assimetria de capacidade bélica, relativa e absoluta;

Assimetria de estruturação organizacional, hierarquia versus rede;

e entre outras, das seguintes assimetrias,

para o outro lado:

Assimetria de objetivação, quase número infinito de alvos versus poucos para o adversário;

Assimetria de resultados, indiferença de resultados no curto e médio prazo contra a necessidade de resultados expressivos do adversário no curto prazo; e,

Assimetria comportamental, não sujeito a nenhuma regra, inclusive admitindo o suicídio na ação versus o adversário preso a regras e as convenções;

A guerra assimétrica, assim como a guerra irregular, é, devido a sua natureza, a guerra dos fracos contra os fortes, a guerra dos pobres contra os ricos. Como mostraremos, ambas, a guerra irregular e a guerra assimétrica, são fundamentalmente guerras de desgaste.

Contudo, isto não as colocam obrigatoriamente como guerras defensivas. Se elas forem guerras revolucionárias elas conseguem serem ofensivas. Tanto a guerra assimétrica como a guerra irregular não é apenas guerra nas sombras, elas são guerra na paz.

Só se será efetivo na condução de uma guerra assimétrica se ela for efetivamente empreendida como sendo uma guerra irregular em escala mundial e aí a questão se traduz numa maior determinação e numa melhor delimitação de objetivos.

Guerra Assimétrica, Rebelião e Revolução.

Toda a guerra busca objetivos políticos. O recurso à violência na busca do poder, como vimos, caracteriza a estratégia militar. Contudo, a definição clara de um tipo de guerra é muito difícil. Mas, tanto a guerra irregular, quanto guerra assimétrica, se insere no contexto de uma rebelião ou de uma revolução.

Rebelião difere de revolução. Revolução se dirige a um certo objetivo, enquanto que rebelião se refere a um certo comportamento. Existem revoluções, sem rebelião, e rebeliões, sem revolução. Revolução une credo, vontade, decisão e ação na política e buscam a mudança integral na ordem, seja ela política, social e ou econômica.

Rebelião busca a fuga a uma dominação. A perda na fórmula política pode conduzir a uma revolução ou esta pode decorrer da inexistência de um certo desenvolvimento econômico e social. Todavia, rebelião sempre está relacionada à tensão que deriva da percepção de que há uma privação na sociedade de bens e serviços econômicos, ou de prestígio social e ou de poder político. Expectativas religiosas ou de caráter nacional que não são correspondidas também podem dar lastro a uma rebelião. A guerra assimétrica assim como a guerra irregular não se dá clara e necessariamente no mesmo contexto de uma guerra convencional. Diferentemente da guerra irregular que é normalmente revolucionária, na guerra assimétrica, tanto rebelião quanto revolução não se separam de forma nítida. Na guerra assimétrica, revolução e rebelião apresentam sempre uma vinculação direta. Comportamento e objetivo caminham juntos.

Objetivo da Guerra Assimétrica

Como já vimos, o objetivo da guerra é impor uma vontade. De forma mais clara, o objetivo da guerra assimétrica é o mesmo da guerra irregular, ou seja, exaurir o inimigo, desgastá-lo internamente, de tal modo, que com o correr do tempo, ele estará enfraquecido de tal forma, não só física como psicologicamente, que se mostrará incapaz de uma volição política. O objetivo central é a imobilização operacional do adversário. A imobilização do adversário significa sempre numa guerra o começo da vitória. Assim o é também na guerra assimétrica.

Ao término da guerra assimétrica se tem muito mais uma vitória política do que uma vitória militar. A guerra assimétrica é muito mais a guerra do político. Por isso, quem conduzir uma guerra assimétrica deve procurar evitar teste diretos de poder e buscar, ao invés disso, tirar a estabilidade, surpreender, exaurir o adversário, para desequilibrá-lo. O seu maior objetivo deve ser o de mitigar intelectual e moralmente o adversário.

Análise Comparativa com outros Tipos de Guerra

A teoria de guerra de destruição em massa e a teoria da guerra irregular ajudam à compreensão o novo fenômeno sociológico e político da guerra assimétrica. Contudo, ambos os tipos, tanto o de destruição de massa quanto o irregular necessitaram, diferentemente da teoria da guerra convencional, na elaboração das suas teorias, de esboços mentais, pelo fato de não existirem experimentações em número suficiente para dar base às suas formulações empíricas. O mesmo se dá agora com a guerra assimétrica.

A despeito das contradições, entre a guerra de destruição em massa e a guerra assimétrica, em muitos aspectos, submetidas a uma forte tensão dialética, tanto em sucessão no tempo quanto em desenvolvimento territorial; elas, apesar disto, detêm um notável paralelismo. Ambas trazem a procura do efeito de imobilização que podem exercer sobre as forças convencionais do adversário.

A guerra assimétrica também pode vir a anular a distância entre países grandes e pequenos. Um país como o Afeganistão se provido de armas de destruição em massa pode se colocar tão forte como a Rússia ou a China. Se tiver vontade e capacidade de conduzir uma guerra assimétrica, um pequeno país pode vir a se contrapor com êxito contra a pretensa múltipla superioridade de uma potência. Um caçador de feras, munido de fuzil de alta precisão e de mira telescópica, pode ser abatido, se quiser atirar numa colméia, pelo ataque de um enxame de abelhas. Basta a estas abelhas o buscarem de forma objetiva.

A guerra assimétrica não tem começo. Só historicamente é que se define o tempo da guerra assimétrica. Os envolvidos nessas guerras têm um interesse notório em prolongar um falso período de paz, antes da definição explícita de seu início. A mobilização exige muito tempo. Ambas, devem ser vistas como o combate em sua totalidade, tendo sempre como atributos tanto a longa duração quanto a baixa intensidade.

Na guerra assimétrica não deve haver uma distinção tão objetiva, como existe em outros tipos de guerra, entre civil e militar, entre armas e não armas, entre espaço de guerra e espaço de paz. Uma guerra assimétrica é uma guerra sem delineamento definido. É uma guerra de várias facetas. A guerra assimétrica é uma guerra em que não se combate e, sim, se vive.

A Questão da Liderança na Guerra Assimétrica

Ninguém vence um inimigo mais forte pela força, mas, sim, devido a uma causa justa e através de uma liderança dedicada. Todo ato de guerra é um trabalho de equipe. Líder e liderados, planejadores e operadores, todos trabalham em conjunto. A ligação, entre comando e execução, é importantíssima. Respeito e reconhecimento geral do comandante são fundamentais para quem exerce a liderança. A guerra assimétrica e a guerra irregular são guerras da liderança democrática. Manter a todo custo a disciplina é o objetivo maior do seu líder. Contudo, é como estrategista e como tático que o líder deve exercer o seu poder. É usando o terreno e aproveitando as oportunidades que ele se consolida na liderança.

A Estratégia na Guerra Assimétrica

A guerra assimétrica se coloca como um tipo de guerra praticado pela estratégia da ação indireta. Mas a guerra assimétrica, da mesma forma que a guerra irregular, não é o único meio para se conduzir uma estratégia de ação indireta. Tanto a guerra assimétrica quanto à guerra irregular são sempre instrumentos de ação da estratégia indireta e pretendem conseguir um efeito psicológico. Seus objetivos serão o de fazer os seus próprios objetivos políticos parecerem historicamente necessários, inevitáveis, e até mesmo, imprescindíveis, aos olhos do adversário.

A estratégia na guerra assimétrica, portanto, é sempre a estratégia de ação indireta. O que existe em termos de estratégia na guerra assimétrica são os princípios gerais de estratégia militar. Surpreender o inimigo, romper a continuidade de suas forças, atacar seus pontos fracos e contra-atacar, aproveitando o esforço do adversário, permanecem elementos válidos e metas a serem perseguidas na construção e no decorrer dos combates.

A guerra assimétrica apresenta um sentido claro para se desencadear as ações militares por parte dos militantes: as operações caminham daquelas desconhecidas e não dominadas pelos adversários, para aquelas em que eles são especialistas. Caminham da periferia para o centro. A luta pode surgir em qualquer espaço e a qualquer tempo. A liberdade para operar nestes tipos de guerra constrói a sua própria força. Liberdade vista aqui como liberdade sobre o espaço e sobre o tempo. A guerra irregular é a guerra do espaço amplo. A guerra assimétrica é a guerra do espaço ilimitado. Em ambas, não existem frentes de combate. A retaguarda não existe para elas. Em ambas, o poder de fogo é menos relevante que a mobilidade. São guerras de mobilidade. Em ambas, o espaço não é mantido, nem ocupado. O espaço é contaminado. Mas a contaminação exige a presença do adversário. Em quase todas as condições, nesses tipos de guerra, a assimétrica e a irregular, mais que a força, os determinantes últimos da vitória são o espaço e o tempo. O espaço e o tempo se materializam nos movimentos. São guerras de movimento e não de poder de fogo.

Dentre estes movimentos fundamentais são os movimentos de infiltração. Os movimentos de infiltração são características centrais, tanto operacionais quanto táticas, dos dois tipos de guerra. Nestes movimentos sempre estão presentes dois momentos: o de reunir e o de dispersar. Infiltração, reunião, ação e dispersão resumem um movimento destes tipos de guerra. As formas de infiltração diferem quanto à natureza e ao grau de conhecimento do terreno que os militantes possuem. A infiltração normalmente requer um terreno coberto que impeça não só a clara percepção como a rápida perseguição pelo inimigo. Uma área urbana grande pode ser um excelente espaço para infiltração [3]. Florestas e zonas montanhosas se prestam muito bem a infiltrações. Em terrenos abertos as infiltrações devem se processar no escuro. A guerra assimétrica, portanto, não condiz com o agrupamento de forças. É uma guerra com um mínimo emprego da força buscando o máximo de efeito. Na verdade, é a organização do adversário que se busca destruir.

O sistema de montagem e desmontagem das bases operativas pode ser o sucesso para a condução de uma guerra assimétrica. Grandes bases são sempre inadequadas. A descentralização operativa e a formação de pequenos grupos também estão na base dessa guerra. A guerra assimétrica é feita com muitas pequenas unidades ou grupos de ação. Seus desfechos não decorrem de poucas grandes batalhas, mas sim, de muitas pequenas escaramuças. É uma guerra das sombras e segue o princípio de que valem mais mil alfinetadas do que uma única estocada. A guerra assimétrica exclui a delimitação exata dos alvos ou de qualquer linha ou definição nítida de terreno.

Sabemos que toda arma tem um alvo adequado. A guerra assimétrica não oferece alvos a um dos lados e oferece qualquer oportunidade como alvo ao outro. Em função disso, em um dos lados há muita dificuldade no emprego de determinados tipos de armas militares e no outro há a ampla possibilidade de se empregar qualquer facilidade como arma.

O Militante na Guerra Assimétrica

O militante assimétrico é aquele que se engaja em operações numa guerra assimétrica. O militante assimétrico será daqui por diante nomeado simplesmente de militante. O militante é para a guerra assimétrica o mesmo que o guerrilheiro o é numa guerra irregular. Assim os guerrilheiros enfrentam soldados, os militantes também enfrentam soldados. Na guerra assimétrica caso os militantes vençam, não serão os militantes que venceram, mas sim os soldados que perderam.

Na verdade, do lado dos militantes, todos são passíveis de serem classificados como militantes potenciais, portanto, não é fácil estabelecer uma clara divisão entre militantes e não militantes. Todavia, os militantes podem ser divididos entre:

Militantes atuantes; e

Militantes simpatizantes.

Os atuantes são aqueles que lutam na guerra assimétrica. Os atuantes se inserem no meio dos simpatizantes. São como sal se diluindo na água. Os atuantes formam os chamados grupos de ação e são os participantes dos núcleos ou das células que se envolvem diretamente nas ações de combate. Quanto menor for efetivo dos atuantes e quanto menor apoio possuírem na população, melhores e mais bem treinados devem ser os grupos de ação.

Os simpatizantes se dividem em simpatizantes ativos e simpatizantes passivos. Os simpatizantes ativos se envolvem no apoio às ações de luta. Os simpatizantes passivos só exercem sua ação pela empatia que demonstram com os demais militantes, ao adotarem uma posição de ausência sensitiva do processo: nada vêem, nada ouvem e nada falam. Há uma fluidez de posição ao longo do combate entre atuantes e simpatizantes e nestes entre simpatizantes ativos e passivos. Uns passam a ser outros e vice-versa com o correr do tempo.

O militante só pode entrar em ação se tiver sido efetivamente treinado. Mas, o treinamento do militante é totalmente diferente do soldado. A instrução dos militantes é uma questão complexa. Ela pode ser resolvida por soldados das nações que apóiam os militantes e treinam os núcleos dos grupos de ação. A instrução também pode se originar nos amigos de ontem, que são inimigos de hoje. Faz parte da instrução que, nos primeiros choques, os militantes sejam vitoriosos.

A simpatia da população é sem dúvida o melhor disfarce que os militantes possuem, mas, essa simpatia não substitui o terreno nem as condições populacionais adequadas. Duas áreas são extremamente propícias à guerra assimétrica e à guerra irregular. Estas áreas são as áreas de baixíssima densidade populacional, que impedem a observação ou tornam o reconhecimento no mínimo improvável, e as áreas de altíssima densidade onde pequenos grupos ou indivíduos são absorvidos ou engolidos pela coletividade.

Para a guerra assimétrica não se mobilizam convocados, ela é uma guerra de voluntários. Por isso, todos os militantes deste tipo de guerra têm de ter dentro de si a idéia de que eles detêm a vantagem moral. A guerra assimétrica não é uma guerra entre soldados, é mais uma guerra entre grupos, que no seu início é feita de pequenos fatos, que, progressivamente, vão se acumulando e vão ganhando força e espaço.

Nesta guerra os militantes constituem-se em redes que se opõem a estruturas hierárquicas. A ligação entre os militantes se dá muito mais horizontalmente em redes, pela fórmula política ou no plano das idéias, do que verticalmente, como resultado de estruturas de comando. A primazia que os militantes têm no estabelecimento de sistemas de redes sempre redunda em vantagens estratégicas e táticas. A multiplicação das redes gera do lado dos militantes, sistemas de heterarquias[4], panarquias[5] e acefalarquias[6], todos incompatíveis com sistemas usuais da condução da guerra baseados em hierarquias. As redes oferecem uma mecânica sistêmica altamente propícia para ações motivadas por fórmulas políticas. As hierarquias têm dificuldade para combater as redes, que precisam ser enfrentadas com outras redes.

O soldado está preso às convenções da guerra e o militante está liberto de tudo, que não as regras de sua luta. Os soldados raramente passam para o lado do inimigo. O mesmo se dá com os militantes. Eles tornam-se neutros e desaparecem no campo de batalha.

Os estudantes como militantes têm um papel especial tanto na guerra assimétrica quanto na guerra irregular. Eles são tantos proponentes como a vanguarda das grandes idéias e das grandes causas: a idéia da nação, a idéia social revolucionária e a religião. Dos estudantes, os mais importantes militantes são os estudantes de engenharia pelo conhecimento técnico que eles detêm.

Estas são algumas das regras de luta do militante:

os militantes não devem ter bases fixas nem posições determinadas;

os militantes devem sempre procurar estabelecer uma conexão, se não for possível a união, com a população que os cercam;

os militantes devem ter a superioridade de força em cada batalha em que se engajem;

os militantes não devem usar a força para manter territórios ou cidades;

os militantes devem se retrair para uma área neutra ante a um inimigo mais forte que se aproxima;

os militantes devem procurar atacar o inimigo sempre que ele se desloque;

os militantes devem perseguir o inimigo sempre que ele se retrair;

os militantes devem criar condições para a divisão política do inimigo;

os militantes devem apelar para o saque para resolverem problemas logísticos;

os militantes devem levar os soldados do inimigo a não acreditar na própria vitória; e

os militantes devem buscar aniquilar o inimigo psicologicamente;



Formas da Guerra Assimétrica


As formas de guerra são:

guerra psicológica;

guerra econômica;

guerra com armamento usual;

guerra radiológica, nuclear ou radioativa;

guerra biológica, bacteriológica ou virótica;

guerra cibernética, eletrônica ou informática; e

guerra química.

Ambas, a guerra irregular e a guerra assimétrica, diferem da guerra convencional muito mais nas formas de condução da guerra do que nas formas de emprego das forças. Todas as formas de guerra podem ser empregadas na guerra assimétrica. A escolha do tipo de guerra faz sempre parte da estratégia do agressor. A escolha da forma da guerra também. Aduz-se a esta clara vantagem, outra, que é a possibilidade que ele tem, se mantiver a iniciativa, de mudar não só o tipo, mas, também, a forma da guerra. Cabe aqui colocar uma regra para o agressor na condução da luta que é a de fazer prevalecer a sua forma de guerra, que logicamente deve ser buscada naquelas formas que o adversário não espera e para as quais não está preparado. Quem tem a iniciativa determina a forma da guerra. A mudança da forma que se processa a guerra está na base da doutrina da guerra assimétrica e pode resultar no sucesso do desempenho de um ou dos dois lados ao longo do processo. O limiar nuclear, ou químico, ou biológico, pode decorrer dos resultados até então alcançados no desenrolar dos combates. Mas, neste ponto deve-se entender que uma forma de guerra pode servir a uma outra forma. Ou seja, há a possibilidade, exemplificando, do emprego da forma radiológica de natureza nuclear, ou da biológica de natureza bacteriológica, como instrumentos para o emprego da forma de guerra psicológica. É a seguinte a explicação de cada forma de guerra:

Guerra Usual

A forma de guerra usual é aquela que é feita empregando-se armas brancas, de fogo e explosivos convencionais.

Guerra Radiológica

A forma de guerra radiológica é aquela que é feita mediante o emprego de materiais físseis. Podem ser radioativas, pelo emprego de materiais radioativos ou, nucleares mediante o emprego de artefatos nucleares.

Guerra Biológica

A forma de guerra biológica é aquela que é feita mediante o emprego de agentes patológicos. Pode ser bacteriológica ou virótica.

Guerra Cibernética

A forma de guerra cibernética é aquela que é feita mediante o emprego de equipamentos e máquinas centradas basicamente em informação e energia.

Guerra Química

A forma de guerra química é aquela que é feita pelo emprego de agentes químicos.

Guerra Econômica

A forma de guerra econômica não é assim classificada por muitos puristas que a nomeiam como um conjunto de agressões econômicas, já que entendem que a guerra é um fenômeno que necessariamente implica em uma ação física violenta. Contudo, a guerra é um fenômeno decorrente do choque de vontades, em que as vontades se pretendem afirmar com o uso dos meios que dispõem, o que necessariamente implica em agressões. Agressões que podem não ser físicas. Agressões que podem ser psicológicas e econômicas.Guerra da forma econômica é toda aquela decorrente de uma agressão de natureza econômica. Suas formas mais usuais são agressões financeiras dirigidas a moedas, tidos, agora, como ataques especulativos e que podem desestabilizar a economia de um país, ou, agressões comerciais decorrentes da ação do poder econômico para abrir ou para fechar mercados ou para controlar fluxos de recursos. Guerra da forma econômica tem sido usualmente praticada no final do século XX e no início do século XXI, sob o manto da paz e do discurso da estabilidade.

Guerra Psicológica

Das formas citadas, a que é menos entendida é a forma de guerra psicológica. Uma guerra psicológica pode estar sendo travada sob um aparente discurso de paz. Ela é uma forma de guerra que aparentemente não mata, não aleija, não machuca fisicamente. Contudo seu poder destrutivo pode ser imenso. Pode colonizar, pode subordinar, pode escravizar. É uma forma que quando vem sozinha é a expressão virtual da guerra. Mas se há uma guerra real ela estará sempre presente.

As guerras do tipo convencional e de destruição em massa buscam a imposição de uma vontade pela ação militar. As reações psicológicas decorrem da ação militar. A guerra de forma psicológica é normalmente derivada nestes tipos de guerra das outras formas de guerra.

As guerras do tipo irregular e assimétrica buscam a imposição de uma vontade pela ação psicológica. As reações militares decorrem da ação psicológica. Nesses tipos de guerra a forma predominante é psicológica e todas as outras formas de guerra a ela se subordinam.

Em nenhuma outra forma de que guerra o elemento psicológico é tão nítido quanto na guerra irregular e no seu sucedâneo a guerra assimétrica. A guerra da forma psicológica tem grande importância nas guerras irregulares e assimétricas. Guerra assimétrica, assim como guerra irregular, é baseada, principalmente, na guerra de forma psicológica. Ambas são contra a moral do adversário. Devido a isto, entender a maneira de pensar e de sentir do inimigo é fundamental na guerra assimétrica assim como o é na guerra irregular.

Na guerra assimétrica, mais do que em qualquer outro tipo de guerra, o que se busca é exercer influência psicológica, por isso ela deve ser conduzida com meios psicológicos. A guerra psicológica tem de ser conduzida por operações psicoinformativas(Opsinf). Guerra de forma psicológica é feita basicamente utilizando-se as Opsinf. São nas Opsinf que a guerra assimétrica se sustenta. Durante todas as fases da guerra assimétrica e da guerra irregular as Opsinf estarão presentes.

O plano de propaganda é peça importante para uma guerra, mas é peça fundamental para o detalhamento das Opsinf de uma guerra irregular ou de uma guerra assimétrica. Este plano deve conter a identificação dos instrumentos disponíveis, seus alvos setoriais, ou de áreas, a indicação dos seus caminhos, mas, principalmente, quais são os seus objetivos. A arte da propaganda consiste em colocar o êxito do inimigo como fracasso e o nosso fracasso como êxito. Todavia, propaganda sozinha nada faz.

OPERAÇÕES PSICOINFORMATIVAS (OPSINF)

Portanto, quando falamos em Opsinf, estamos falando de um conceito revolucionário que está se transformando em elemento central nas ações políticas entre Estados Nacionais, nas ações de ataque e defesa que se processam tanto em época de paz quanto em época de guerra.

Opsinf são operações planejadas que envolvem várias ações para gerar e divulgar informações e indicadores específicos para audiências também específicas, com o propósito de influenciar suas emoções, seus fins, seus raciocínios objetivos e, por extensão, o comportamento de indivíduos, de grupos, organizações, coletividades e governos estrangeiros.

Opsinf devem ser encaradas como um princípio fundamental de orientação na nova situação mundial, em que a mediação da informação se faz cada vez mais presente, ora sozinha, ora ao lado da ciência e da ciência e do trabalho, no processamento da natureza. Num mundo que se diz globalizado, as Opsinf - por conta de sua natureza modeladora de imaginários e formuladora de opiniões em tempos de paz - estruturam um conjunto de instrumentos indispensáveis também à condução bem sucedida de crises e conflitos, em escala local ou global.

Cada vez mais, o domínio do campo da percepção e do processamento criará condições para o direcionamento e o controle das ações. Estes espaços, da percepção e do processamento, são exatamente os da atuação essencial e excelente das Opsinf – cujos resultados reverberam e se refletem sobre o momento de ação.

Objetivo das Opsinf

O objetivo das Opsinf é o de manter em um dado espaço (teatro de operações, espaço do conflito, país ou região, ou mundo) não só o domínio das informações, mas muito mais a administração das percepções com vistas à construção de consensos para a estruturação e desestruturação de imaginários. Os objetivos centrais das Opsinf são o de acordar idéias, ou de promover associações mentais, ou mexer com imaginários. Com as Opsinf busca-se formar quadros; difundir idéias, para mobilizar simpatizantes; e enfraquecer o poder do inimigo e sua vontade de resistir, diminuindo a sua fé na vitória.

Entendendo a Opsinf

A guerra leva a muitos sacrifícios; o sacrifício da vida, o sacrifício da saúde, o sacrifício da liberdade e principalmente à privação das comodidades favoritas. As únicas pessoas que buscam um sacrifício de forma voluntária são aquelas que acreditam que existe um valor muito maior que o sacrifício, algo que para eles parece profundamente significativo. O estabelecimento de um valor transcendental é a base sobre a qual se estrutura todo e qualquer sacrifício.

Portanto, ao se engajar em um combate deve-se buscar lançar mão de todos os meios disponíveis para se estabelecer este valor transcendental. O objetivo de toda a ação psicológica deve ser o de procurar convencer cada cidadão de que ele deve se colocar a serviço deste valor transcendental que pode ser uma idéia, transfigurada numa formulação política, ou retratada num imaginário e que deve justificar todo sacrifício necessário.

Aqui está o armamento psicológico: na idéia e no seu valor, que são os pré-requisitos necessários para a condução bem sucedida de qualquer guerra. A formulação política ou o imaginário não apenas torna possível a cada indivíduo fazer sacrifícios, mas, também, agrega o valor do compromisso a quem nela acredita. Cria a comunidade e é essa comunidade que vai apresentar as pessoas que lutarão na guerra. Há uma importância enorme no conceito da comunidade e na idéia de camaradagem que este conceito traz.

Olhando os últimos duzentos anos de história e desprezando a tradição colocada numa pessoa através da sua educação formal e familiar, as idéias que representam a motivação central dos participantes das últimas guerras estão reduzidas às idéias que derivavam de uma certa fórmula política que tentou se impor, ou de idéias em cujo centro estava a conexão do indivíduo com um território em que nasceu ou, em outras palavras, com a sua terra natal, e com o discurso iluminista da liberdade.

As Opsinf dependem também dos discursos políticos e dos eventos militares. Elas visam tanto o público interno, como a mídia, como as sociedades amigas, neutras e inimigas. A Opsinf tem de se ajustar ao nível de audiência para o qual ela se dirige.

Os argumentos racionais e puramente lógicos, por mais corretos que se possam apresentar, raramente têm um efeito convincente e suficiente à mobilização. A emoção na Opsinf tem de ser dominante. Daí porque a Opsinf deve explorar e utilizar primordialmente os instrumentos e argumentos que mexem com a emoção.

O conflito, por sua vez, realimenta as ações derivadas dos princípios das Opsinf. A movimentação da informação será cada vez mais relevante em situações de conflito, podendo-se sobrepor até mesmo à movimentação de tropas ou de equipamentos nos espaços e antecedendo-a, necessariamente, no tempo. Para estas operações o tempo é um fator essencial. Incidentes, no mundo, são hoje comunicados em tempo real. Para tanto, faz-se necessário compreender as Opsinf como parte de uma política de Estado Maior, como reflexo e voz da vontade política de um Estado Nacional.

O ser humano se distingue de tudo que o cerca por dois atributos: razão e vontade. Opsinf podem levar a que a vontade altere a razão ou a razão altere a vontade, mas não que as duas se alterem concomitantemente, já que é o exercício de uma sobre a outra que caracteriza a operação.

Tipos de Opsinf

Os imaginários se constituem de várias idéias e formas de ver o mundo que se organizam em torno de uma formulação principal. As Opsinf atuam sobre os imaginários. Existem três tipos de Opsinf:

a Opsinf destrutiva que desestrutura e destrói um imaginário,

a Opsinf construtiva que estrutura e constrói um imaginário e

a Opsinf subversiva que modifica um imaginário, dissuade e atemoriza.

Identificar qual é esta formulação principal é o primeiro objetivo das Opsinf. Identificada esta formulação, o principal objetivo da Opsinf é tentar convencer o inimigo de que a formulação central que lhe serve de motivação é falsa, mentirosa, vazia de maior significação. Dá–se início então a uma Opsinf destrutiva. A Opsinf destrutiva objetiva abalar a vontade inimiga de defender a sua formulação principal que tem que ser colocada como utópica, como irrealista. Deve-se anunciar repetidamente a mutabilidade e a não reversibilidade de ditas e determinadas realidades e apelar à razão, ao senso da realidade, e à sobriedade das forças armadas adversárias ou de sua população, como um todo. O objetivo passa a ser de tornar claro ao inimigo que uma vitória da causa, porque ele luta, vai representar, para ele, a repressão pelo menos de certas esferas da sua vida, subjugação e principalmente, pobreza.

Pode-se seguir, então, uma Opsinf construtiva visando passar para o inimigo uma nova formulação principal e seu entorno de idéias e forma de ver o mundo. Aí também o esforço se concentra em convencer o inimigo que esta formulação é verdadeira e cheia de significados.

Por exemplo, quando essa formulação central do inimigo deriva de uma fórmula política, esta deve ser posta sob fogo cruzado por uma Opsinf destrutiva e outra fórmula política deve ser posicionada por uma Opsinf construtiva, normalmente, em nome da liberdade.

Outro exemplo, se a formulação principal do inimigo se baseia nos conceitos de terra natal, o objetivo da Opsinf destrutiva deverá ser o de mostrar de maneira convincente como tais idéias, do ser nacional, da soberania são idéias destituídas de credibilidade, como são idéias vazias e ultrapassadas e que devem ser substituídas por outras idéias, que correspondem, neste instante, melhor a realidade e as necessidades da época. A Opsinf construtiva apresenta então as novas idéias que não é preciso acreditar nem praticar, pois não se encontra na formulação principal de quem a fazl[7].. Portanto, nestes casos, a montagem ou desmontagem de um conjunto de percepções que estruturem ou desestruturem um imaginário é o que se busca com as Opsinf.

A Opsinf subversiva objetiva atacar parte das certezas ou das idéias e formas de ver o mundo que o inimigo possui, ou, caso não seja possível destruir a formulação central do inimigo, abalá-la nos seus fundamentos, de forma a desestruturar o imaginário do inimigo.

Por exemplo, um objetivo de uma Opsinf subversiva pode ser o de apelar para a necessidade de se prover segurança às pessoas, principalmente, as pessoas que vivem nesse nosso tempo e se encontram nos países centrais, os mais civilizados. Para esse fim, deverão ser utilizadas todas as formas possíveis para ilustrar visualmente: seja por imagens, ou gráficos, os perigos à espreita de todos os soldados e cidadãos do inimigo. Isto numa guerra assimétrica terá mais êxito se vier acompanhado de operações terroristas.

Outro exemplo, o discurso da defesa da liberdade do inimigo numa guerra assimétrica deve ser combatido pelas Opsinf subversivas, de forma a acusá-lo, de forma convincente, de ter sido responsável por uma onda de repressão, de qualquer tipo, já realizada ou pretendida, de modo que o próprio inimigo começa a questionar a veracidade do apelo a liberdade em que acreditava de forma irrefletida. O êxito será completo caso consiga-se condenar o adversário aos olhos do mundo e assim, em última análise, colocá-lo como imperial e totalitário ou, então, como vinculado a uma, senão a própria minoria racista, ou religiosa a ser sempre desacreditada.

A Opsinf subversiva também pode estar vinculada a um ato ou um conjunto de atos que buscam difundir no nosso lado a euforia e no inimigo o ceticismo, a emoção e o desespero, atemorizando-o e dissuadindo-o. Neste caso, a Opsinf necessita do sucesso. Um dos mais efetivos êxitos da Opsinf subversiva consiste em destacar a falta de êxito da propaganda adversária.

Munição das Opsinf.

As Opsinf usam três munições para as suas diversas armas:

palavras,

músicas, e

imagens.

As palavras podem ser faladas ou escritas, abrangentes ou específicas, corretas ou falsificadas.

As músicas podem ser de denuncia ou de exaltação.

As imagens podem ser públicas ou restritas.

Como exemplo de palavras, podemos citar algumas que foram utilizadas nas Opsinf conduzidas para a venda da globalização para a periferia:

Por BOUTROS BOUTROS – GHALI, Secretário -Geral da ONU, 1992, no relatório AN AGENDA FOR PEACE

“os tempos da soberania absoluta e exclusiva, entretanto, já passaram. Essa teoria jamais se conformou à realidade”

por ARNOLD TOYNBEE, historiador, em seu livro “SURVIVING THE FUTURE:

“estamos nos aproximando do momento em que a única escala efetiva de operações de alguma importância será a escala global. Os estados-nações terão que ser privados de sua soberania e subordinados à soberania de um governo mundial global. Penso que esse estado mundial necessitará de uma polícia armada e deverá dispor de força suficiente para poder impor a paz... O povo de cada atual estado soberano independente terá de renunciar à soberania de seu país e subordinar-se à soberania suprema de um verdadeiro governo mundial global... Eu desejo ver um governo mundial estabelecido.”;

ou por STROBE TALBOTT (C.F.R.) Vice-Secretário de Estado do Governo CLINTON, no artigo “THE BIRTH OF THE GLOBAL NATION”, TIME MAGAZINE (20.07.92),

“todos os países são, basicamente, arranjos sociais... Não importa o quão permanentes e até sagrados eles possam ter parecido em quaisquer tempos, pois de fato eles todos são artificiais e temporários... Talvez a soberania nacional não tenha sido, afinal de contas, uma idéia tão boa assim...”

Como exemplo de música, poderíamos citar IMAGINE de JONH LENNON, utilizada como uma Opsinf anti norte-americana na Guerra do Vietnam:

“…Imagine there’s no countries It isn’t hard to do Nothing to kill or die for

And no religion too Imagine all the people living life in peace…”

As Opsinf devem sempre explorar a força que emana da repetição contínua das palavras, das músicas e das imagens.

O conjunto de palavras monta um discurso, mas este discurso pode não ser verdadeiro ou comprovado. Quando isto acontece se tem o boato, uma potente arma. O boato tem de ser crível e tem de se manter como boato, porque caso se transforme em mentira além de perder todo seu valor deprecia o seu emissor.

Requerimentos da Opsinf

As Opsinf requer pessoal qualificado, com complexa educação e peritas no conhecimento dos valores e da cultura dos meios em que pretendem atuar; devem ser proficientes no uso dos recursos de comunicação, inclusive os modernos recursos de infra-estrutura da mídia. A equipe deve ser capaz de entender, por sua formação multidisciplinar de alto nível acadêmico, desde o imaginário coletivo até objetivos estratégicos, táticos e operacionais de cada ação. Seu interesse central deve trafegar por espaços vinculados à comunicação, à psicologia social, à antropologia cultural e à sociologia, tanto quanto os da área tecnológica e mesmo outros, articulando o conhecimento científico e metodológico decorrentes do estudo de culturas e sub culturas, em especial para a formação e demolição de imaginários. Tudo isso torna a equipe capaz de integrar suas propostas e ações desde a estratégia nacional até o plano de campanha de um comandante.

As Opsinf têm de ter acesso aos dados de inteligência em todos os níveis. Devem ser acompanhadas em tempo real sendo contínuas e continuadas de forma a administrar fortuitos e surpresas, pois requerem, muitas das vezes, respostas prontas às mudanças comportamentais da ambiência onde se encaixem. O seu planejamento deve se inserir no planejamento maior do esforço pretendido e deve ser conduzido, como já foi colocado, observando as variáveis, tempo e espaço: sempre o mais cedo e no maior espaço possível.

As Opsinf requerem a formatação e a manutenção de uma estrutura organizacional capaz de cooperar, de competir ou de conflitar em um ambiente de extraordinários desafios, gerindo a aquisição e operação de tecnologias modernas, a implantação de políticas e a delegação de ações especiais, em que a mídia é só um de seus elementos.

FASES DA GUERRA ASSIMÉTRICA

Existem três fases obrigatórias na condução de qualquer guerra: a conspiração, a preparação e o combate aberto. Isto se processa até mesmo numa guerra convencional de forma econômica. Contudo, a guerra assimétrica e a guerra irregular[8] agregam duas outras fases entre a preparação e o combate aberto, que são o combate subterrâneo e a fase de transição do combate subterrâneo para o combate aberto.

Conspiração

Há sempre um elemento de conspiração em toda a guerra, pois existe, pelo menos, uma conspiração contra a paz.

As conspirações podem ser de quatro tipos:

as internas endógenas, aquelas nascidas de dentro e voltadas para dentro;

as internas exógenas, aquelas nascidas de dentro e voltadas para fora;

as externas endógenas, aquela nascidas de fora e voltadas para dentro; e

as externas exógenas, aquelas nascidas de fora de voltadas para fora.

No estudo da guerra assimétrica interessam todos os tipos de conspirações, enquanto que no estudo das guerras irregulares, só interessam as endógenas.

Contudo, na guerra assimétrica a componente conspiração é muito mais forte do que nas demais guerras. Na guerra assimétrica o seu fracasso pode estar na conspiração.

O militante é sempre um voluntário e, portanto, deve estar sempre sendo conquistado, portanto, o militante deve estar sempre envolvido pela conspiração. Na guerra assimétrica o conspirador tem de ser sempre um idealista. Mas o conspirador tem mais que idealizar ou querer, o conspirador tem que ser capaz. Os incapazes de dar exemplo ou de executar tarefas não se prestam à guerra assimétrica.

Além disso, as conspirações podem vir de cima, quando são estruturadas pela elite, ou, podem vir de baixo, quando nascem no seio do povo. É o muito mais normal considerar-se ilegal uma conspiração vinda de baixo, assim como é muito mais normal que ela se processe numa democracia. As conspirações de elite, ou seja, as vindas de cima, para uma guerra assimétrica são mais próprias de regimes totalitários.

Conspiração exige a manutenção de sigilo, e manutenção do sigilo pressupõe confiabilidade, pressupõe o conhecimento restrito, pressupõe a sistematização da informação e pressupõe a existência da espionagem e da contra-espionagem.

Preparação

A fase mais importante da guerra assimétrica é a fase preparatória. Ela se divide em quatro etapas: a estruturação, o planejamento, a ação de propaganda e a conquista de simpatizantes.

Estruturação da Preparação

A estruturação pressupõe a fixação dos objetivos, a escolha da estratégia inicial, da forma de guerra, e dos espaços e tempos para as ações pretendidas.

O reconhecimento do adversário é muito relevante em toda guerra assimétrica. Conhecer o inimigo é fundamental. Mas, adquire prevalência na fase de preparação. Nesta fase surge o informante que deve ser um simpatizante e que deve ser colocado em posições relevantes do adversário.

Sempre a avaliação das informações é a mais importante atividade da estruturação. Ela é mais relevante que a obtenção de informações.

Planejamento da Preparação

O planejamento é fundamental. É da atividade do planejamento a definição precisa e correta dos suprimentos necessários à execução de toda a ação pretendida[9].

Propaganda e Conquista de Simpatizantes na Preparação

Antes de tudo, na preparação deve-se conhecer quais os desejos e as forças anímicas que conduzem o imaginário pelo qual se luta. Deve-se estruturá-lo. Dar-lhe uma consistência lógica. Na preparação de qualquer guerra é importante a criação de escolas de formação política. Mas, nas guerras irregulares e assimétricas elas são fundamentais para criar a grandeza e o valor da idéia pela qual se quer lutar e também para difundir o caráter malévolo, desprezível e mesquinho do adversário. As escolas de formação política organizam a ação de propaganda pela montagem do seu discurso.Tudo deve ser cientificamente demonstrado. Durante a fase de preparação a estruturação organizacional deve vir sempre acompanhada da estruturação psicológica. A Opsinf, na fase de preparação da guerra assimétrica ou irregular, normalmente é uma Opsinf subversiva e visa a conquista de novos membros e se fundamenta na depreciação do adversário. Nesta fase, só vagamente a idéia central que leva o movimento deve ser insinuada. Também nesta fase é quase sempre inteligente do ponto de vista tático conservar o anonimato do outro, do adversário, a não ser que a sua menção já produza efeitos de propaganda.

Combate Subterrâneo

A fase do combate subterrâneo tem início com os primeiros atos de violência[10]. Nada funde ou consolida mais uma organização ou as organizações envolvidas numa guerra irregular ou numa guerra assimétrica, do que a sensação de serem perseguidas, o que elas conseguem quando se inicia o combate subterrâneo.

A violência e atos brutais acompanham todo o combate subterrâneo. Contudo, o combate subterrâneo não é necessariamente militar, muitos dos atos cometidos, muita das vezes, podem não ser interpretados como atos de combate. Combate subterrâneo é conhecido como sendo o combate das sombras ou o combate nas trevas. Um dos lados pode, no seu decorrer, até negar a existência do combate. Outra característica que marca o combate subterrâneo é a importância de ser capaz de prever a reação do adversário a qualquer ato. Avaliar corretamente as reações dos amigos e dos inimigos é muito importante[11].

Os objetivos do combate subterrâneo são o de desgastar o adversário moral e materialmente pela fragmentação de sua força e de separar o adversário, psicologicamente, da sua população ou da população do território onde se processa o conflito. A fragmentação leva a imobilização e ao isolamento do adversário. Um dos objetivos centrais do combate subterrâneo é, portanto, o de isolar o adversário das suas bases de apoio. A separação do adversário da população também o leva ao isolamento. O isolamento do adversário é algo muito importante na guerra assimétrica. Os militantes buscam isolamento moral, material e psicológico do adversário. O outro lado também. A guerra passa a ser a de quem isola quem, material e psicologicamente.

As primeiras ações do combate subterrâneo são decisivas em termos de propaganda. Aí pode estar o aceite ou a rejeição de toda a formulação pretendida. A imagem das lideranças é também muito importante para esta propaganda. Um efeito psicológico importantíssimo para o sucesso da guerra assimétrica é o aparecimento do mártir ou o aparecimento do herói.

As lideranças no combate subterrâneo não são os primeiros conspiradores, já que raramente um político é um guerreiro e vice-versa. A liderança no combate subterrâneo é, todavia, livre de satisfações. O combate subterrâneo é móvel e a liderança também. Lugares fixos são riscos. O sucesso de uma liderança no combate subterrâneo depende da rapidez de suas reações, de sua decisão e, também, de sua mobilidade. A mobilidade da liderança também é um instrumento de propaganda. A liderança tem de ser escondida e secreta. O comando pelo exemplo presente é, no combate subterrâneo, uma excelente forma de comando. O contato pessoal consolida a confiança recíproca, entre a liderança e liderados. Além disso, a comunicação decorrente do contato pessoal no combate subterrâneo é ideal. Os contatos devem existir desde a fase preparatória, para quando, na fase do combate subterrâneo, existir confiança. Mas, o melhor contato, em todas as fases da guerra assimétrica, é aquele que se dá entre aqueles que não aparecem como simpatizantes da formulação política.

Combate subterrâneo sempre faz prevalecer a forma de guerra psicológica.e é acompanhada de propaganda. No seu início, sempre se presume que o grosso da população não está apto a apoiar qualquer dos lados. Qualquer ato no combate subterrâneo[12] tem mais que atrair que rejeitar. A conquista dos jovens é um alvo primordial.

As Opsinf, no combate subterrâneo, devem demonstrar que grupos armados podem fazer frente ao aparato do Estado adversário e devem também buscar a conquista dos indiferentes para a fórmula política pretendida. Na fase do combate subterrâneo, as Opsinf normalmente não precedem a uma ação militar e sim sucedem a uma operação militar. A melhor Opsinf se monta em cima de uma operação de combate subterrâneo que venha a ser bem sucedida. Num ataque a um país industrial moderno as Opsinf devem estar, no combate subterrâneo, voltadas a maximizar ou a minimizar, dependendo do lado, atacante ou atacado, os seus efeitos na economia e na moral da população. Contudo, uma situação de caos atribuída a um ataque pode levar a população a se unir numa resposta a este ataque. Do outro lado, a idéia do caos deve ser explorada já que possibilita uma transição rápida para o combate aberto. È sempre interessante que o aparecimento do herói ou do mártir dê origem a uma Opsinf.

Instrumentos do Combate Subterrâneo

São vários os instrumentos do combate subterrâneo: os atos de terror, os atos de sabotagem, as execuções, as incursões armadas, as emboscadas, os raptos, roubos, assaltos e outros.

Atos de Terror

Os atos de terror são todas as atividades ilícitas que objetivam em primeira instância instalar o pânico ou espalhar o medo. Na guerra assimétrica é toda a ação destinada a aterrorizar o inimigo.

O terror visa também a mudar o comportamento das pessoas e pode ser visto também como uma forma de demonstração de poder. O terror pode se dirigir a pessoas ou pode se dirigir a coisas.

Quanto às causas do ato de terror ou do terrorismo, elas estão presas a raiz da guerra que se trava e normalmente são duas: intolerância e assimetria de poder. Ambas podem ser combatidas. A primeira mediante Opsinf, que objetivam minimizar a intolerância e a segunda mediante a cooperação voltada à diminuição dos desníveis relativos dos sistemas em competição.

Quanto aos efeitos, o seu combate deve ser feito através também das Opsinf, que devem estar voltadas para minimizar os efeitos psicológicos e sociais da ação terrorista. Contudo, de uma forma mais geral, para o combate da ameaça terrorista nada é mais importante que as atividades de inteligência, que permitem prevenir uma ação terrorista ao determinar as intolerâncias e as assimetrias de poder que acabam se catalisando em um ato terrorista. São as atividades de inteligência que permitem identificar ameaças merecedoras de Opsinf. Como se vê, tudo isto é possível, antes do início do combate subterrâneo na guerra assimétrica. Depois do início, como veremos adiante, os atos de terror devem também ser combatidos de per si.

Até recentemente, o ato de terror era utilizado no nível tático, como instrumento nas ações ou campanhas agressivas desenvolvidas por organizações hierárquicas, tanto estatais como não-estatais. Na guerra assimétrica, o ato de terror consiste em ações planejadas e desencadeadas no nível estratégico, por entidades que operam como sistema reticular e, portanto, não-hierárquico, contra adversários estruturados hierarquicamente.

O resultado material do ato de terror desempenha apenas um efeito secundário em comparação com os seus efeitos psicológicos. O ato de terror busca dois efeitos: o efeito susto e o efeito propaganda Atos de terror nunca demoliram governos ou venceram guerras. Eles sempre devem vir acompanhados de outros fatores ou de outros fatos

Há dois tipos de terrorismo: o estruturado e típico de ações de guerra irregular e de guerra assimétrica e o comum, normalmente, fruto de psicopatas. Os atos de terrorismo comum tendem a ocorrer mais quando surge o terrorismo estruturado. Há também duas formas de terrorismo: o orientado, normalmente estruturado, seletivo e até fomentador de conexões na rede, e o indiscriminado, normalmente comum.

As maneiras de execução de atos terroristas são em número quase infinito e organizá-los de forma metódica é uma tarefa fadada ao fracasso desde seu início. Mas, as suas grandes formas coincidem com as formas da guerra. Ou seja, o terrorismo pode ser: psicológico; usual; biológico, bacteriológico ou virótico; radiológico, radioativo ou nuclear; cibernético, eletrônico ou informático; e químico.

Terrorismo psicológico faz quem faz qualquer ameaça. A ofensa pode ser uma arma de terror.

Terrorismo usual é bomba. O terror tem na bomba sua arma usual. Bomba e medo andam juntas.

Terrorismo biológico é a disseminação de agentes patológicos[13].

Terrorismo radiológico, também é bomba. Ou é bomba radioativa, a chamada bomba suja, decorrente da explosão por meios naturais de fontes radioativas, ou é a própria bomba nuclear,

Terrorismo cibernético é a desestruturação do sistema energético mediante a destruição de fontes de energia elétrica ou o bloqueio de sua transmissão mediante o uso de bombas normais ou de grafite ou a desmontagem dos sistemas de informação mediante a ação de “hackers”.

Terrorismo químico é o uso de armas químicas para perpetrar atos de terror.

Invasões e ocupações podem ser formas de atos de terror. Ocupações são feitas limitadas no tempo, invasões não. O incêndio pode ser outra forma de ato de terror.

A repressão indiscriminada sempre favorece aos autores do terrorismo estruturado.

Atos de Sabotagem

O ato de sabotagem é a característica central do combate subterrâneo. O combate subterrâneo é basicamente sabotagem.

Sabotagem significa decomposição, desorganização, destruição premeditada, deliberada de uma firma, de um negócio, de uma fábrica, de instalações de suprimentos ou comunicações, por meio de danos infringidos dolosamente, normalmente, mas nem sempre, empregando-se a violência.

A sabotagem não visa diretamente a vida humana ela visa instalações materiais. A infra-estrutura é um alvo preferencial. Assim, os meios de transporte, as comunicações, tendem a se transformar em alvos focais das ações de sabotagem. Instalações de suprimentos vitais também são alvos preferenciais para ações de sabotagem. A produção agrícola e industrial, também, pode vir a ser alvos de sabotagem.

O ato de sabotagem difere-se do ato de terror não tanto ao seu -objetivo- externo, mas, principalmente, pelo fato de que seus fins diferem. Para o sabotador o que interessa é o dano efetivo, material e real que causou ao inimigo. O possível dano psicológico – a intimidação ou o medo de um lado, ou o efeito de propaganda do outro - que afinal é o objetivo central de um terrorista, no ato de sabotagem tornam-se secundários quanto ao efeito material do dano concretizado.

É muito tênue a separação entre os atos de sabotagem de natureza psicológica e as Opsinf subversivas[14].

Incursão

A incursão é a ação armada que busca um objetivo tático. A incursão é uma ação operacional. Na incursão, diferentemente do ato de terror ou do ato de sabotagem o militante efetivamente se engaja na luta armada.

A identificação dos pontos fracos do adversário proporciona oportunidades para as incursões. A incursão deve ser bem planejada. O começo do planejamento da incursão é o reconhecimento e a observação. Daí decorre a escolha do alvo.O reconhecimento do alvo e de tudo que lhe cerca é fundamental para garantir o êxito de uma incursão. A garantia de supremacia de fogo no instante da incursão é outro elemento de garantia de seu êxito.

Tem de se pensar na montagem do grupo de ação para realizar a incursão. Três grupos, pelo menos, devem formar o conjunto que vai realizar a incursão: o grupo de ação, o grupo de apoio e o grupo de segurança.

Nada substitui na incursão a surpresa. Esta é essencial para o sucesso de uma incursão e decorre de quatro fatores: atacar sempre de onde é menos provável e sempre de uma direção inesperada; atacar quando achar que tudo sabe e que o adversário nada sabe; atacar sempre de forma parcimoniosa e mantendo reservas; e atacar sempre explorando o espaço e o tempo.

O retraimento bem feito é tão importante como a ação em si. A fuga deve ser bem planejada na incursão. A grande maioria das pistas - que podem denunciar os militantes - aparecem na fuga. Ë sempre bom lembrar que quanto menor o número de militantes envolvidos em uma incursão mais fácil é o retraimento.

Qualquer incursão deve ser, logo após sua ocorrência, divulgada. Uma incursão só acaba quando é divulgada. As primeiras notícias de qualquer fato são as que mais impressionam.

A incursão pode ser feita de forma combinada com outras formas de ação do combate subterrâneo, como os atos de terror, ou de sabotagem, o seqüestro e o assassinato. As outras atividades do combate subterrâneo são todos atos de natureza criminosa, mas, a incursão deve ser vista de forma diferente, é um ato de natureza militar. As incursões podem ser vistas como verdadeiros atos de guerra. Na incursão, diferentemente do ato de terror ou do ato de sabotagem o militante efetivamente se engaja na luta armada.

Seqüestro

O rapto, o seqüestro, também, pode ter seu papel na guerra assimétrica. A captura de reféns seguida da liberação mediante a troca de prisioneiros pode ter seu papel na guerra assimétrica.

Assassinato

O assassinato de lideranças do inimigo pode se transformar em um eficiente instrumento da guerra assimétrica. O assassinato difere da incursão, já que não se supõe haver luta armada, pois, se busca pegar a vítima inimiga indefesa.

Transição do Combate Subterrâneo para o Combate Aberto

O combate aberto se caracteriza pela existência do engajamento do poder e de forças substantivas de ambos os adversários em uma batalha. Toda batalha deve ser vista como uma interação de poder de fogo e de movimento. A batalha é o processo, como bem coloca Clausewitz, em que as duas forças correm o risco de assumirem possíveis perdas, na certeza de serem capazes de infringir ao inimigo maiores danos do que possam sofrer. A batalha traz, além desta presunção de maiores perdas ao adversário, o credo de que é possível se obter, caso ela venha a ocorrer, uma vantagem tática.

Antes da transição, a luta psicológica se recrudescerá na busca do apoio da população, pois, o maior risco, que sempre se corre, na guerra é o isolamento. É sempre bom lembrar que atrás da dialética das vontades sempre existe um conflito de idéias. A vivência do conflito de idéias desencadeia o combate aberto e esta vivência tem o seu desenrolar sobre o elemento decisivo da guerra: o povo. A vivência do conflito das idéias se aplica a estratégia da aproximação indireta.

.Na transição, que se inicia com a primeira batalha, há uma dualidade, que se expressa pela alternância na atuação dos militantes, ora se envolvem em combates abertos, ora se envolvem em combates subterrâneos. A transição se dá como o dirigir em um nevoeiro. Em dado momento tudo se vê, noutro nada se vê. Transição para o combate aberto não deve ser entendida como o fim do combate subterrâneo.

A escolha do tempo, do momento da transição, ou seja, da primeira batalha, é chave do seu sucesso e depende da avaliação do inimigo e da atitude da população.

A transição em si é uma vulnerabilidade[15]. A descoberta do militante é o seu fracasso. Mas, na transição, o militante transforma-se e a força dos militantes se explicita[16].

Numa batalha que caracteriza o combate aberto, a fração dos militantes, nunca terá reforço, substituição, ou apoio; sempre terá que contar consigo mesmo. A fração deve ser imaginada como se fosse uma força de comandos jogada atrás das linhas inimigas.

A transição também muda o armamento que tem de ser para o combate aberto muito mais pesado. As áreas para se fazer uma transição devem ser ou superpovoadas, ou despovoadas. Tem de ser áreas cobertas de difícil observação e passíveis de rápido alarme.

No decorrer do combate subterrâneo pode surgir uma terceira força interessada em ajudar os militantes. Esta terceira força deve sempre ser bem vinda, mas deve sempre ser encarada não como uma companhia permanente, mas, com uma companheira de viagem. Observando alguns cuidados, ela pode proporcionar meios de comunicação, servir de plataforma de propaganda e fornecer armas, equipamentos e munição. Se esta terceira força tem fronteira com a área contaminada pelos militantes a situação ainda é melhor. Cabe aqui lembrar que sempre é melhor criar frações em áreas sob o controle do terceiro interessado.

Se esta terceira força possui a mesma etnia existente na área onde se processa o conflito melhor ainda. Contudo, este apoio de uma terceira força pode se tornar um sério problema, se os militantes ficarem muito dependentes de seu apoio.

Nenhum apoio de terceira força substitui o apoio da população da área do conflito. A questão do fornecimento dos suprimentos é que determina importância da existência de uma terceira força interessada, para que os militantes possam fazer a transição do combate subterrâneo para o combate aberto.

Combate Aberto

No combate aberto passa a ser relevante a distinção entre o ataque e defesa, pois, o combate aberto implica em ataque ou defesa. Implica, portanto, em impedir a ação dos adversários ou neutralizar o seu poder de fogo ou garantir a ação efetiva do nosso poder de fogo imobilizando o inimigo. Há, portanto, uma diferença do combate aberto em relação ao subterrâneo, que deve ser visto sempre como ofensivo, apesar de, em uns raros casos, poder se comportar como defensivo O combate aberto exige armas diferentes das usadas no combate subterrâneo. Mas, sobre combate aberto a leitura da obra “Da Guerra”, de Clauzewitz, pode ser muito elucidativa. A tendência geral numa guerra irregular é de se sair da situação de combate subterrâneo para combate aberto, ou seja, no sentido de preparação para o combate aberto. Numa guerra assimétrica não existe esta tendência, tanto se pode sair de uma situação de combate aberto para uma situação de combate subterrâneo, como vice-versa.

Guerra Assimétrica e Lei

Nos tipos de guerra irregular e assimétrico se processam o rompimento da mais velha convenção: a guerra como assunto exclusivo dos militares, onde se faz o emprego exclusivo de armas militares. Ambas não são conduzidas exclusivamente por militares e não usam, em todos os casos, armamentos militares. A lei internacional interfere nas ações estratégicas e vice-versa. Isto perde relevância na guerra assimétrica.

Há uma relação dialética entre os dois tipos de guerra, irregular e assimétrica, e a lei. Ambos os tipos, como já vimos, sempre manifestam tendências revolucionárias. Ambos os tipos são ilegais, mas não são necessariamente ilegítimas.

Nunca será possível o militante operar de forma legal politicamente e de forma ilegal, militarmente. O militante assim como o guerrilheiro é totalmente um ilegal. Acontece que o guerrilheiro é ilegal perante uma legislação nacional, mas será que o militante também o é perante a legislação internacional? O estado de direito hoje só contempla duas figuras: o cidadão comum e o criminoso. O militante de uma guerra assimétrica que muitas das vezes é um terrorista ainda não é contemplado no contexto das leis. O terrorista não se submete a lei civil nem a lei internacional nem a lei da guerra. A lei tem de ser alterada. Nem a convenção de Genebra, nem a lei criminal, nem o código penal se aplicam em ações de guerra irregular ou de guerra assimétrica. A lei internacional acabará sendo alterada de forma a criar meios de amparar e de punir os militantes envolvidos numa guerra assimétrica.

A guerra assimétrica deve ser distinguida das guerras conduzidas com milícias ou com corpo de voluntários, que já se encontram incluídas na convenção de Haia.

O reconhecimento atual ao direito a guerra só existe se esta é a conduzida em nome da Organização das Nações Unidas para manter o direito internacional ou em legítima defesa.

COMBATE À GUERRA ASSIMÉTRICA

O combate aos militantes é diferente de combater a guerra assimétrica. Combater a guerra assimétrica se dá no plano estratégico, combater os militantes se dá no plano tático e operacional.

Combater a guerra assimétrica corresponde a combater suas causas e seus efeitos. Combater as causas pressupõe, primeiro, identificá-las. Normalmente, estas causas estão postas em relações de exclusão ou de rejeição. É possível modificar as relações. Entretanto, tendo a guerra já iniciada isto se torna muito mais difícil.

Os efeitos da guerra assimétrica se fazem sentir principalmente no campo psicológico. Combater os efeitos pressupõe a utilização maciça de Opsinf. Estas devem ser voltadas para informar continuamente à população quanto ao perigo representado pelos militantes, mostrar a ineficácia da idéia por que lutam os militantes, promover a elevação dos padrões de vida das populações envolvidas, em particular, daquelas camadas que revelam simpatia pelos militantes.

O primeiro objetivo que deve ser buscado no combate aos militantes será conhecer o adversário. Quem eles são? O que eles querem? Onde eles se reúnem? Como se organizam? Para isto, a adoção de medidas preventivas de inteligência é primordial.

As medidas de inteligência devem informar ao adversário o mais cedo possível quanto ao movimento de formação das células dos militantes, ou, já havendo a sua existência, seus objetivos e suas intenções. Mas, devem ser secundadas por outras medidas preventivas, que dizem respeito à proteção de objetivos, vigilância de pessoas, ou grupos suspeitos e outras medidas de segurança – deve-se, na verdade evitar as ações de guerra assimétrica dos militantes.

As medidas repressivas devem começar por evitar a infiltração dos militantes. Com isso, preservamos nosso espaço da contaminação e nos preservamos de sua possível ação. Devem ser secundadas pela compra de traidores do lado dos militantes para obtenção de informes no combate subterrâneo, operações de busca, varreduras de áreas contaminadas e a reconquista de territórios sob o domínio dos militantes. Dentre as medidas repressivas ainda pode-se citar a obtenção de informes; no combate subterrâneo, as operações de busca, a prisão de suspeitos e a punição de pessoas culpadas; no combate aberto, a varredura de áreas contaminadas, a reconquista de territórios "liberados" e a derrota de unidades de militantes.

Deve-se sempre procurar destruir os militantes que tenham conduzido ações de guerra assimétrica, ou incapacitá-los permanentemente para a continuação do combate e para a sua retomada.

Operações psicoinformativas, medidas de inteligência, preventivas e repressivas reforçam-se mutuamente. Se o adversário dos militantes deixar de lado qualquer uma dessas quatro áreas, estará lhes oferecendo oportunidades. Os militantes só sobrevivem pelos erros do adversário.

Uma contra-ação bem-sucedida contra os militantes só será exeqüível se o adversário obtiver o mais cedo possível, isto é, ainda na fase preparatória da guerra assimétrica - um quadro com nitidez dos objetivos, planos e potencialidades dos militantes.

Se os militantes ainda se encontram na fase preparatória, terão prioridade as medidas de inteligência. Mas, lado a lado, com medidas de inteligência, os militantes deverão ser confrontados com as medidas preventivas e especialmente psicoinformativas do adversário já na fase preparatória.

As Opsinf, geralmente, só produzem efeitos em período mais longo de tempo. Quanto mais cedo forem postas em execução e quanto mais específicas forem, tanto maiores serão as chances de êxito. Opsinf contra militantes tomadas com retardo ou pouco direcionadas ao isolamento psicológico serão logradas por eles nos domínios da guerra psicológica. As Opsinf não podem ter a função de extinguir incêndios que já tenham irrompido.

Na fase de combate subterrâneo, as medidas preventivas e repressivas do adversário serão fundamentais. As medidas de inteligência e as Opsinf iniciadas na fase preparatória serão, contudo, continuadas, de forma intensificada por um adversário que tenha a determinação de destruir os militantes. No âmbito das medidas repressivas, o adversário dos militantes se restringirá, na fase de combate subterrâneo, a entrada em ação da polícia não devendo envolver forças armadas.

Constituir-se-ia em grave equívoco o adversário lançar mão das forças armadas nessa fase preliminar do combate aos militantes. Durante a fase de combate subterrâneo, as forças armadas devem se restringir às medidas de inteligência e preventivas de sua própria segurança.

Nem sempre será fácil para o adversário dos militantes, na fase de combate subterrâneo, coordenar Opsinf e medidas repressivas. Essa coordenação cerrada e sem atritos lhes é, contudo, incondicionalmente necessária, nessa fase. Especialmente, quando são dirigidas contra grupos inteiros da população e em conseqüência atingem pessoas inocentes. Medidas prematuras ou repressivas sem finalidade ou preventivas de caráter impopular planejadas "de uma hora para o outra'' privarão às Opsinf, cuidadosa e detalhadamente planejadas, de seu valor e efeito.

Um adversário que sabe o que está em jogo numa guerra assimétrica não perderá nunca de vista o objetivo de isolar psicologicamente os militantes com medidas preventivas e repressivas e irá, em conseqüência, analisar cada medida preventiva e repressiva pretendida antes de seu desencadeamento, em termos de possíveis efeitos psicológicos para a população. Querer superar a guerra assimétrica aqui entendida e compreendida como guerra total, na qual a própria existência está em jogo, exclusivamente por meio de instrumentos militares e policiais, ou mesmo através da intensificação do terror, é o maior erro que o adversário pode cometer na sua guerra aos militantes.

O adversário deve colocar em ação parte de suas forças armadas para ações contra os militantes somente na fase de transição para o combate aberto. Quando agem assim, as forças armadas se defrontarão com os militantes empregando os seus próprios métodos. As unidades leves desdobradas contra os militantes serão tão móveis quanto às destes. Eles lançarão suas ações com irregularidade sistemática explorando a surpresa tática e operacional como um instrumental de êxito, exatamente como agem os militantes.

Os princípios táticos que o adversário emprega no desdobramento de partes de suas forças armadas contra os militantes, na fase de transição para o combate aberto, são, por outro lado comparáveis aos princípios estudados e prognosticados do combate defensivo sob ameaça nuclear...

A mais importante diferença está na mudança do combate independente para unidades de combate muito menores e, em conseqüência, para uma dispersão em espaço muito mais ampla durante o combate, no qual o efeito numérico, a organização e o equipamento de tais unidades de combate são calibrados de acordo com o efetivo e o poder de combate das unidades de militantes contra as quais o adversário está em ação. As forças do adversário serão, então, ou iguais ou superiores às dos militantes numericamente, em armamento adequado e, com igual importância e moral de combate.

O emprego de partes das forças armadas contra os militantes depois da transição para o combate aberto deve ocorrer no quadro do planejamento global das medidas programadas contra os militantes. Esse desdobramento deve - sob rígida observância de sigilo e manutenção da surpresa - ser indiretamente preparado pela propaganda e acompanhado por eficazes Opsinf de curto prazo, de modo que a população as perceba não como um choque, mas como o começo de um tempo melhor, em que a tranqüilidade, a ordem e a segurança estejam garantidas.

O engajamento de parte da forças armadas do adversário para combater os militantes pode potencialmente ser explorado por uma terceira força interessada em intervir com suas próprias forças armadas regulares. Essa intervenção, que a terceira força entenderá como politicamente autorizável e como uma necessária assistência que ela proporciona aos militantes, na qualidade, estes, de vítimas de uma incursão militar.

Mediante tal intervenção, a guerra assimétrica se desdobra. Uma guerra de forma convencional tem início e além da guerra assimétrica surge em um espaço uma guerra irregular, que também é relegada às sombras. Se essa guerra irregular tiver continuidade, ela já não mais aparecerá como um tipo próprio de guerra, mas, somente, como uma forma especial de condução da guerra, no âmbito dessa guerra assimétrica grande. O adversário dos militantes deve estar preparado para tal modificação da guerra irregular, organizando reservas de intervenção, que também o capacitem a conduzir o começo da guerra convencional. Algumas vezes, o efeito dissuasório da reunião de uma reserva estratégica suficiente o bastante para uma guerra convencional demoverá a terceira força interessada de iniciar uma intervenção armada na guerra assimétrica ao lado dos militantes e alcançará, desse modo, um isolamento limitado dos militantes em suas relações com a terceira força interessada. Isso significa êxito psicológico, e êxitos psicológicos decidem o desfecho de guerras assimétricas. A estratégia da guerra assimétrica deve ser psicológica. O combate - subterrâneo ou aberto, conduzido efetivamente ou apenas ameaçado - é somente um meio para aquele fim.

* O autor é chefe do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra


[1] Um conceito muito difundido e estudado na teoria dos conflitos é o conceito de administração de crises. A administração de crises pretende obter sem guerra o que só poderia ser obtido com guerra. A administração de crises emprega primordialmente a estratégia da dissuasão.

[2] Quanto ao seu posicionamento no espaço de um estado, a guerra pode ser externa ou interna. A guerra interna é a guerra civil. A guerra civil busca mudança do sistema político, enquanto se mantém o território do estado, ou, uma mudança nas relações do poder, enquanto se mantém o sistema político, ou o território do estado. Há na conceituação da estratégia, sempre uma diferença entre o ataque partido de fora e o ataque partido de dentro. O de dentro caracteriza o clima de guerra civil.

[3] Uma grande cidade tem muitos alvos e a formação de grupos militantes numa grande cidade é sempre fácil. Deve ainda ser colocado que quanto mais moderna for a área urbana mais adequada ela se presta a prática da guerra irregular ou assimétrica.

[4] Diferentes e diferenciadas estruturas hierárquicas dissociadas.

[5] Associação sem hierarquia.

[6] Estruturas organizadas horizontalmente sem comando

[7] Como exemplo de uma Opsinf construtiva, conduzida em tempo de paz, e que não consta na formulação principal dos que a conduzem, está o discurso dos EUA de apoio da globalização, que vem de um país que não acredita na existência de um único princípio internacionalista ou de uma única pátria humana.

[8] Teóricos, como Mao, na guerra irregular, vêem três fases na sua condução: na primeira fase, o combate se o processo em defesa móvel ou contra um inimigo ofensivo que se desloca adiante, na segunda fase os adversários se alternam em ataque e defesa, até que a guerrilha consegue o impasse estratégico, na terceira fase e última fase a guerrilha passa para o ataque e há uma transição para a guerra convencional.

[9] Na preparação, deve-se pensar na constituição de bases de suprimentos. As possibilidades são muitas. Por isso, é importante ter algumas indicações neste processo. Uma base logística ou de suprimento não é o mesmo que uma base operacional. Uma base logística tem de ser de difícil acesso inimigo e de fácil acesso aos militantes. Numa preparação correta para as guerras irregulares e assimétricas não deve haver grandes depósitos de armas e munições. Deve, também, existir um cálculo correto entre armas e munições. É primordial na preparação assegurar suprimentos. O militante não pode ser armado por um imprevidente. É importantíssima a garantia da munição. O militante necessita da mobilidade: quanto menos equipamento carregar melhor. É relevante saber que dificilmente uma base de suprimentos servirá para múltiplas ações. Não são apenas armas e munições que devem ser colocadas em uma base logística. O militante normalmente ataca partido de um abrigo e deve desaparecer, sem ser notado, de volta ao seu abrigo. Tudo o que lhe ajudar e aos seus movimentos, inclusive numa possível fuga, deve estar nesta base logística que é o seu abrigo. O número de bases deve ser bastante grande, mas cada base deve ser pequena o suficiente para que sua perda não seja representativa. Outro dado importante é que quem deve saber da base é só aquele que dela haverá de recorrer. Deve ser previsto que aquele que cuida da base só deve fazer isto, assim como, caso seja necessário, deve saber os procedimentos para a desmontagem súbita da base. Outra regra fundamental é que sabemos que o guardião da base pode falar, enquanto o equipamento que lá está colocado é mudo.

[10] No combate subterrâneo às armas tem de ser portáteis. Todas as armas devem precisar no máximo de até dois militantes. A munição deve ser a mais universal possível. No combate subterrâneo não há emprego de equipamento pesado por parte dos militantes.

[11] No combate subterrâneo o informante assume um papel muito importante para o reconhecimento. O informante passa a ser um simpatizante ativo. Nesta fase o informante se comunica normalmente via contatos. Ele deve desconhecer a vida dos militantes.

[12] Grupos de combate invictos devem ser desdobrados, durante o combate subterrâneo, de forma a criar outros grupos de combate invictos.

[13] O temor provocado pelo número crescente de casos de antraz após os atentados terroristas de 11 de setembro — e a possibilidade de ataques com outras armas biológicas como o vírus da varíola ou a toxina do botulismo — demonstra, o que já sabíamos, a falta de preparo das autoridades mundiais para lidar com o terrorismo biológico.Um levantamento realizado pelos estadunidenses mostrou que 30 quilos de esporos de antraz, se aplicados numa área densamente povoada como Nova York é capaz de provocar 500 vezes mais mortes do que 300 quilos da arma química sarin. Diz um estudo por eles encomendado: “Cerca de 114 quilos de antraz espalhados em Washington poderiam causar três milhões de mortes, muito mais do que uma bomba de hidrogênio com um milhão de toneladas de TNT”.

[14] Desmoralizar autoridades mediante falsas acusações é um exemplo desta tênue diferença.

[15] No combate aberto se necessita de formações de militantes diferentes do combate subterrâneo. Não são mais grupos de ação que se quer. No combate aberto o que se quer são frações, que vão desde pelotões até a brigadas. A transição dos grupos de ação para a montagem de uma fração operacional é algo difícil. Nunca se deve se ir além do possível, buscando que os militantes se engajem em um combate aberto sem estarem preparados.

[16] . Os grupos de ação de até cinco homens caracterizam combate subterrâneo, assim como as frações operacionais caracterizam o combate aberto e devem ser as mais fortes possíveis, contando com, pelo menos, mais de vinte e cinco homens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário