sábado, 15 de janeiro de 2011

Mentalidade de defesa

Mentalidade de defesa

MENTALIDADE DE DEFESA

Qualquer abordagem da questão envolvendo o conceito de "mentalidade de defesa" é complexa. Inúmeras são as variáveis que interferem na análise deste conceito. E isso varia de país para país. Inicialmente, poder-se-ía considerar as condições em que ocorreu a evolução histórica de determinada nação ou país, ou à existência de fatores que levam a percepção de ameaças ou não; ou ainda, à situação geopolítica que condiciona o alcance dos interesses de determinada sociedade. Essas e inúmeras outras variáveis exercem influência direta naquilo que poderia caracterizar o conceito de "mentalidade de defesa".

No caso específico do Brasil, a abordagem deste conceito torna-se ainda mais delicada. Quando observamos a afirmativa da Política de Defesa Nacional (PDN), ao afirmar que "após um longo período sem que o Brasil participe de conflitos que afetem diretamente o território nacional, a percepção das ameaças está desvanecida para muitos brasileiros", temos a consciência de que a "mentalidade de defesa" que verificamos em nossa sociedade, talvez não seja adequada para um país com as dimensões territoriais, destacado potencial econômico, incalculáveis riquezas naturais e patrimoniais a serem defendidas e preservadas, etc.

Normalmente, as explicações encontradas na literatura para esta situação são variadas, tais como a falta da percepção pelo Estado de uma ameaça militar externa; o longo período sem a mobilização da estrutura de defesa para fazer frente a uma ameaça significativa; a não discussão do tema defesa nacional pela sociedade; uma política externa baseada na não interferência em assuntos internos de outros Estados, na projeção de ser um país de natureza pacífica, etc.

No entanto, a estatura estratégica do Brasil, tendo como base a sua dimensão territorial e a destacada posição do potencial econômico em relação aos demais países, gera uma natural preocupação com as necessárias discussões envolvendo o tema Defesa Nacional, além da respectiva mentalidade que deve existir a esse respeito. Novamente nos reportamos à Política de Defesa Nacional, ao estabelecer que "o desenvolvimento de uma mentalidade de defesa no seio da sociedade brasileira é fundamental para sensibilizá-la acerca da importância das questões que envolvam ameaças à soberania, aos interesses nacionais e à integridade territorial do Brasil".

Nesse contexto, podemos entender a "mentalidade de defesa" como sendo a permanente preocupação da sociedade com a defesa e a segurança de sua soberania e dos seus interesses vitais. Essa preocupação deve se manifestar pela discussão, com destaque para os legítimos representantes da sociedade no parlamento, daqueles assuntos e das necessidades relacionadas ao tema, ao desenvolvimento de políticas públicas para o fortalecimento do setor de defesa, pela educação e pelo fortalecimento de uma cultura relacionada ao tema em questão, etc.

Serão essas ações que permitirão que a sociedade possa, permanentemente, e novamente destacamos a participação do poder legislativo, priorizar as atividades, direta e indiretamente, relacionadas com as necessidades de defesa frente às potenciais ameaças aos interesses vitais da nação.

Neste sentido, relembramos Giulio Douhet, teórico do Poder Aéreo, quando, em 1921, lança o livro o "Domínio do Ar", e defende a existência de uma poderosa Força Aérea como forma de incrementar a defesa militar da Itália. Em relação ao necessário preparo contra as potenciais ameaças, existentes ou percebidas, afirma Douhet que: "os países que forem apanhados despreparados para a guerra perceberão, quando esta eclodir, que não só será demasiado tarde para se prepararem, mas que nem sequer poderão captar o seu sentido".

Na evolução da humanidade, um fato sempre presente foi o permanente conflito, o confronto, as guerras entre as sociedades e nações. Em que pese a fantástica evolução das sociedades, em todas as áreas e níveis, o terrível espectro da guerra, da violência e da destruição, é hoje mais real que em qualquer período anterior da humanidade. Um paradoxo que identifica-se, na atualidade, é justamente o de que os países mais avançados, ditos mais democráticos, são os que mais investem em defesa e em Forças Armadas, portanto, onde existe uma mentalidade de defesa em um nível mais elevado.

Sobre esse paradoxo, nos valemos dos ensinamentos do Professor Eurico Figueiredo quando afirma que:

"Para os Estados poderosos, nada é mais real e nacional do que a sua Defesa. Para os países menos aquinhoados pelo poder, nada é mais ideal e menos nacional do que a sua própria Defesa".

Porém, quem melhor sintetiza a importância de uma adequada "mentalidade de defesa" é Rui Barbosa, ao afirmar que "uma Nação que confia em seus direitos em vez de confiar em seus soldados, engana-se a si mesma e prepara a sua própria queda".

http://www.artigonal.com/politica-artigos/mentalidade-de-defesa-3040504.html

Perfil do Autor

Doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Ciências Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea (UNIFA). Graduado em economia. marciorochamr@yahoo.com.br

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